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Sem verba, CBB não leva Sub-15 ao Sul-Americano; presidente Nunes se explica

Fábio Balassiano

21/10/2016 00h01

Na próxima semana começa em Assunção, no Paraguai, o Sul-Americano Sub-15 masculino, primeiro degrau internacionais de seleções. É através dele que os times nacionais se encontram em um torneio que classifica os três primeiros para a para a Copa América Sub-16 de 2017, que por sua vez leva ao Mundial Sub-17 de 2018. São oito países que estarão no evento em solo paraguaio: Argentina, Chile, Colômbia, Equador, os donos da casa, Peru, Uruguai e Venezuela.

Estranhou algo, certo? É isso mesmo que você leu. O Brasil NÃO jogará a competição devido a problemas financeiros, ou como diz a Confederação Brasileira de Basketball em carta enviada à FIBA em 9 de setembro a qual este blog teve acesso (imagem ao lado), "por motivos de força maior". A CBB ainda tentou solucionar a questão depois dessa mensagem, procurando alternativas, mas de novo falhou em apresentar à FIBA as credenciais financeiras para participar do Sul-Americano.

Vocês sabem o que isso significa? Que a seleção brasileira não só não jogará o Sul-Americano Sub-15, mas consequentemente a Copa América Sub-16 do próximo ano e tampouco o Mundial Sub-17 de 2018. É uma geração que para os padrões internacionais já nasce "morta", com o perdão da expressão. Hoje um garoto de 15 anos não sabe quando poderá fazer o seu primeiro jogo internacional pela seleção brasileira. Que maravilha, não? Aqui do lado a Argentina treinou CINCO vezes antes de chegar para a competição deste ano no Paraguai. Mais de 35 garotos foram vistos, testados e analisados.

A situação falimentar pode piorar ainda mais. Como eu sempre digo, o fundo do poço do basquete brasileiro é sempre mais fundo que a gente supõe. Entre 16 e 20 de novembro acontece no Equador o Sul-Americano Sub-15 Feminino. Se não jogará o masculino, as meninas podem seguir o mesmo caminho. A CBB tem até segunda-feira para confirmar a inscrição, mas até agora não possui garantias financeiras e muito menos planejamento (técnico, elenco, treinamento – se é que ainda se treina no país…) para participar do torneio. Pelo que o blog apurou, a entidade está tentando junto a um patrocinador a verba necessária e procurou um clube de São Paulo que serviria de base para a equipe nacional.

Em sua escalada para levar a modalidade à falência em solo nacional vale relembrar, em um breve histórico, o que esta gestão de Carlos Nunes, que felizmente termina o seu segundo mandato no primeiro trimestre de 2017, conseguiu aprontar em pouco tempo: o não pagamento do convite do Mundial de 2014 fez com que a vaga olímpica do Rio-2016 ficasse ameaçada; dívida chegando a R$ 17 milhões; Campeonatos Brasileiros de Base cancelados em 2016; Seleção Sul-Americana Feminina Sub-17 joga competição neste ano sem treinar; A Masculina Sub-17 vai ao mesmo torneio com o time do Pinheiros mesclado com outros atletas; Um interventor da Federação Internacional vem ao país para analisar a situação da CBB de perto; O país cancela uma etapa do Mundial 3×3 e irrita a FIBA mais uma vez; Por fim, o Brasil não vai ao Mundial 3×3 por falta de verba.

Em conversa reservada deste blogueiro com um dirigente do alto escalão da FIBA uma declaração dada a mim retrata bem o estágio da relação entre a Federação Internacional e a CBB é enfática: "Não tenho mais palavras para descrever a decepção que tenho com o Carlos Nunes. Sinceramente não sei como os órgãos brasileiros e os basqueteiros do país ainda permitem que a Confederação seja administrada desta maneira".

Acham que acabou? Não, não. No final da noite de ontem consegui uma entrevista com o presidente da CBB. Carlos Nunes está em Porto Rico em reunião da FIBA Américas e me atendeu por cerca de 15 minutos. O papo, completo, está abaixo. É uma mistura de surrealismo com choque total.

BALA NA CESTA: Presidente Carlos Nunes, queria entender o que houve para a não ida da seleção brasileira ao Sul-Americano Sub-15 masculino. É falta de dinheiro mesmo, certo?
CARLOS NUNES: Sim, não temos condição financeira para arcar com os custos deste time. Tentamos de tudo, mas não conseguimos.

BNC: Por que a CBB não comunica em seu site a ausência no Sul-Americano Sub-15? Não falta transparência?
NUNES: Mas é que ficamos sabendo apenas na semana passada que não iríamos.

BNC: Não é verdade. O senhor enviou ofício à FIBA (imagem ao lado) pela primeira vez em 9/9 informando que o Brasil não iria.
NUNES: Mas depois tentamos outra coisa e não conseguimos de novo atender o prazo de inscrição. Infelizmente.

BNC: Sim, mas já sabem que não jogarão a competição há mais de uma semana. Não dava pra divulgar? E outra coisa: vocês perderam duas vezes o prazo em menos de 45 dias? É isso mesmo?
NUNES: Sim, infelizmente não conseguimos. Tentamos, mas não conseguimos realmente.

BNC: Você tem noção que a sua gestão está "matando" uma geração completa para torneios internacionais, né?
NUNES: Por que diz isso?

BNC: Porque estando fora do Sul-Americano Sub-15 não se joga a Copa América Sub-16 em 2017 e consequentemente o Mundial Sub-17 em 2018. Uma geração que ficará sem torneios internacionais.
NUNES: Ah, mas vamos tentar reverter isso depois, guri.

BNC: Reverter como? Desculpe interromper, mas isso não faz sentido. Você não inscreve a seleção no Sul-Americano e por consequência elimina o país das competições seguintes. Não há como mudar isso. São três vagas para a Copa América e o Brasil já não estará com estas.
NUNES: Podemos tentar algo depois, vamos ver. Vamos ver.

BNC: Carlinhos, deixe-me perguntar uma coisa importante: o Brasil já está fora do Sul-Americano Masculino, e entre 16 e 20 de novembro há o feminino no Equador. O Brasil jogará a competição ou vai se ausentar também?
NUNES: Deve ir, deve jogar sim.

BNC: Deve ou vai?
NUNES: Vai, vai jogar.

BNC: Isso é 100% de certeza? O prazo de inscrição se encerra na segunda-feira…
NUNES: Só te dou 100% de certeza quando enviarmos a confirmação à FIBA Américas. E faremos isso na segunda-feira.

BNC: Mas, Nunes, já estamos na quinta-feira. Faltam portanto 4 dias para o prazo final. A CBB ainda não sabe se irá jogar o torneio?
NUNES: Devemos jogar, devemos jogar.

BNC: OK, partindo do pressuposto que irá jogar então. Sua equipe nacional Sub-15 irá treinar antes ou fará como tem sido feito nos últimos tempos, se encontrando no aeroporto e jogando de qualquer jeito?
NUNES: Não, não. Vamos treinar.

BNC: A partir de quando? Falta um mês pro torneio…
NUNES: A partir de semana que vem.

BNC: Ah, que legal. Fico feliz. Onde e com que elenco?
NUNES: Ainda não sei. Isso é com o departamento técnico.

BNC: E quem será o treinador dessa equipe?
NUNES: Ainda não sei.

BNC: Que situação, presidente. Sinceramente, vou lhe fazer uma pergunta com todo respeito que o senhor merece. Não me leve a mal. Vamos lá: você não tem vergonha da situação em que a sua gestão está deixando o basquete? Consegue dormir tranquilo todas as noites?
NUNES: Eu fico tranquilo porque sei que o problema não foi comigo. Fiz o que pude. Enfrentei condições adversas. Fugiu ao meu controle, fugiu da vontade nossa. Se eu tivesse feito alguma coisa errada, ok, aí não ficaria tranquilo. Mas não fiz, entende? Aliás, não sei pra quem eu tenho que dar satisfação…

BNC: Como não sabe? Peraí. O senhor é presidente de uma Confederação Brasileira de uma modalidade grande como o basquete. No final das contas, também, a CBB é dominada por dinheiro dos contribuintes de todos os lados. Então o senhor deve explicações, sim, ao país. Por favor, não confunda as coisas.
NUNES: Sim, é por isso que estou lhe atendendo e conversando. Mesmo sabendo que você só malha a CBB.

BNC: Olha a sua situação, presidente. Não vai ao Sul-Americano Sub-15 masculino, foi aos Sul-Americanos Sub-17 deste ano fazendo catado de clubes nos rapazes e sem treino no Feminino. Tem uma dívida cavalar de R$ 17 milhões que o senhor teima em dizer que é de R$ 10 milhões. Não fará um Campeonato Brasileiro de Base sequer. Está sofrendo uma intervenção da FIBA. E acha isso normal?
NUNES: A situação está controlada para o resto.

BNC: Desculpe, mas o que seria o resto?
NUNES: Teremos Campeonatos Brasileiros de Base em 2017.

BNC: Peraí, Carlos Nunes. Vamos por partes. Não teremos nenhum Brasileiro de Base em 2016, correto?
NUNES: Ainda estamos tentando reverter, mas acho difícil.

BNC: Sejamos realistas, Carlinhos. Faltam 60 dias para acabar o ano e não saiu nenhum Torneio ainda. Não vamos ter, né?
NUNES: Acho que não.

BNC: E como o senhor consegue garantir que haverá Campeonatos Brasileiros de Base se não será o presidente em 2017?
NUNES: É a minha expectativa. Deixar tudo organizado para isso. Estamos trabalhando muito neste sentido.

BNC: E quando chega o espanhol José Luiz Saez para a intervenção que o senhor chama de força-tarefa na CBB?
NUNES: Chega na última semana de outubro, pelo que me falaram. Mas ainda não recebi a confirmação 100%, não.

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