Sobre declarações do Ministério e FIBA Américas contra a CBB - o que mudou?
Fábio Balassiano
24/02/2014 06h15
Antes de seguir, eu só quero dizer uma coisinha importante aqui. Quem acompanha este blogueiro sabe quão tenebroso é o estado financeiro e de gestão da CBB. Quem lê os balanços financeiros (aqui do lado há os dois últimos; aqui, o outro) da Confederação no blog sabe que não há NOVIDADE ALGUMA no que foi dito sábado a respeito da Confederação. Se outros (meios de comunicação, dirigentes, políticos etc.) se calaram e só agora abrem os olhos, eu só posso lamentar, pois a má utilização de dinheiro (quase sempre público) por parte de Carlos Nunes e seus comandados existe desde que ele assumiu o cargo de presidente em 04 de maio de 2009. E como eu venho dizendo aqui (relembre o que disse exatamente sobre isso): o problema da entidade máxima NUNCA foi de dinheiro, mas sim de como utilizá-lo. Pode entrar Eletrobrás, pode sair Eletrobrás, pode entrar Bradesco que não muda em nada. As cabeças pensantes (ai) são as mesmas de 15, 20 anos atrás – e os métodos, pouco inteligentes, também.
Vamos lá, pois as duas declarações merecem análises e questionamentos.
PERGUNTAS
1) Se a situação da CBB é tão caótica assim, por que a FIBA não levou isso em consideração à época da escolha dos convidados para a Copa do Mundo? Será que o convite conseguido pelo Brasil fez com que Alberto Garcia mudasse o tom? Digo isso pois para ele não há novidade alguma no caos da entidade máxima do basquete brasileiro. Em Barueri, no Mundial de Clubes de 2013, ele já havia me dito a mesmíssima coisa (com menos ênfase e indignação, é verdade, mas tinha).
2) Na prática, o que Alberto Garcia pode fazer para que a gestão da CBB seja mais austera, mais responsável?
Alberto Garcia tem TOTAL razão quando fala sobre gestão, administração, marketing, credibilidade e tudo mais que anda em falta na CBB. É uma entidade falida em termos financeiros e de ideias, e temendo o enfraquecimento de um importante país das Américas no cenário mundial ele tem todo motivo do planeta para falar, criticar, expor o que realmente pensa. Mas o convite, uma das tábuas de salvação de Nunes e companhia, veio. O patrocínio, a maior das tábuas, também. O caos financeiro tende (notem o verbo tender, por favor) a diminuir, e a participação na Copa do Mundo também tende (notem o verbo tender de novo, por favor) a ser uma das melhores caso o país realmente vá completo. Espuma, sem dúvida alguma, mas uma espuma de efeitos anestésicos em muita gente (Federações, jogadores, parte da imprensa, dirigentes, políticos etc.). Que o alerta de Alberto siga ligado em todas as esferas, portanto.
1) Leyser sempre deu todo suporte a Carlos Nunes e à CBB. Seja com declarações de apoio ao grupo de Nunes via este blogueiro (que o entrevistava), seja com investimentos de valor absurdo para uma entidade que NUNCA soube cuidar de dinheiro (veja tudo aqui e nos 3 links abaixo citados). Ricardo jamais havia criticado a Confederação de forma tão aberta (e o cenário é o mesmo de agora). Pelo contrário: o Secretário SEMPRE manifestou apoio a Nunes mesmo com todos os indícios de péssima gestão e administração de grana pública. Interessante que seu ponto de vista tenha mudado (salutar até), mas o que modificou a forma como Ricardo fala sobre não investir mais na Confederação?
2) Se o dinheiro é PÚBLICO, e há mau uso do dinheiro PÚBLICO como está provado há algum tempo, o que mais Leyser precisa para enfim CORTAR a grana PÚBLICA da Confederação? Qual evidência maior ele precisa? Não precisa de mais nada, certo? Só lembrando: sua pasta já liberou mais de R$ 14 milhões para a CBB. O retorno, como esperado, não está sendo bom, e já houve duas (conhecidas) reuniões em que o tema poderia ser tratado (uma em Brasília, outra no Rio de Janeiro). Qual a surpresa?
3) O patrocínio do Bradesco não atenuaria os problemas financeiros da CBB, dando a ela um pouco mais de autonomia à entidade máxima para investir?
Respeito demais o Secretário Ricardo. Disse recentemente a uma amiga que me perguntou sobre ele que eu sinceramente confiava em Leyser por tudo o que vinha tentando fazer no basquete (como ele mesmo disse, não só na CBB, mas em LNB, LDB etc.). E está claro que houve uma mudança de rota, uma mudança em sua forma de analisar o cenário do basquete brasileiro (na parte da CBB). Leyser dera várias declarações de apoio à Confederação e neste sábado abriu fogo em Fortaleza (relembre aqui, aqui e aqui o que ele havia falado). Situações mudam as opiniões, e APARENTEMENTE houve algo que tenha modificado o panorama (desde sempre sombrio) pintado por Carlos Nunes. A administração Nunes é uma tragédia, mas ele conseguiu o convite para a Copa do Mundo, o patrocínio veio e a reeleição foi um sucesso (foi aclamado por 21 dos 27 votos). Leyser terá que manter o tom assim (crítico, fiscalizador) caso queira efetivamente mudanças claras e rápidas de gestão.
MINHA ANÁLISE FINAL SOBRE TUDO ISSO:
Pode parecer paradoxal, mas tanto Leyser quanto Alberto me parecem (notem o verbo parecer) ter usado muito bem a imprensa que esteve em Fortaleza para tratar de um tema maior, mais profundo, mais, digamos, espinhoso na relação Ministério, FIBA e Confederação. Tema este que para mim ainda é um mistério, ainda é desconhecido, ainda não é palpável. Respeito ambos (Leyser e Alberto) demais, demais mesmo, mas para mim não está claro o que está acontecendo – e algo está acontecendo, creio eu.
Para mim os dois (Leyser e Garcia) foram muito hábeis, inteligentes e cirúrgicos ao colocar publicamente os problemas da CBB para a imprensa, que na hora reverberou isso, amplificando as aspas do Ministério do Esporte (ME) e da FIBA Américas. Ambos pressionam a entidade máxima não só a dar explicações que certamente virão nesta semana mas a trabalhar, a correr atrás do desenvolvimento da modalidade e a sanear os problemas financeiros gravíssimos que existem desde que Nunes por lá pisou. Com boa parte da mídia nacional por lá, o barulho que se fez foi realmente grande, embora na prática não tenda (notem o verbo tender, por favor) a mudar muita coisa já que Nunes foi reeleito ano passado, o convite para a Copa do Mundo já saiu e o patrocínio com o Bradesco foi assinado. A fiscalização, o cerco à Confederação, seja de FIBA ou de ME (e até mesmo da imprensa), só deve aumentar neste momento. E isso é bom demais.
Essa pergunta eu ainda não consigo responder, mas faria com que o entendimento sobre o que se passou no Ceará ficasse mais claro, menos contraditório como está parecendo agora.
Sobre o blog
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