Meu balanço da temporada 2018/2019 do NBB - o saldo foi positivo?
Fábio Balassiano
23/06/2019 01h53
Foi assim em 2013, 2014, 2015 , 2016 , 2017 e 2018. Em todos eles fiz o (meu) balanço da temporada do NBB. Como sempre digo, esta é uma avaliação crítica de um produto de, agora, 11 anos e que tem mudado de patamar positivamente ano após ano. Vamos lá:
O QUE DEU CERTO:
a) Quase todos os jogos exibidos -> Coisa linda, hein. A meta do NBB para a temporada era exibir mais de 70% de seus jogos entre TV Aberta, TV Fechada, Facebook e Twitter. Isso foi alcançado com louvor. Mais de 75% das partidas foram exibidas, aumentando a visibilidade do produto. Isso é muito, muito legal.
b) Decisão gigante -> Uma decisão envolvendo Flamengo e Franca poderia alcançar níveis assustadores de popularidade e de audiência. Um time de massa, de camisa, e outro tradicional, da cidade do basquete. Deu certo. A finalíssima em cinco partidas movimentou demais as redes sociais, bateu bons números de audiência e de alcance e colocou o produto em bom estágio de divulgação.
Luiz Pires/LNB
c) A Copa Super8 -> Há a necessidade de alguns ajustes, como o fato do calendário ficar mais sufocado (falo disso adiante), mas a Super8, envolvendo os melhores do turno e dando vaga à Liga das Américas é um baita acerto. Pega o país em um período sem futebol, cria mais uma possibilidade de taça e premia o esforço dos times em um curto espaço de tempo. É espetacular e que seja mantida.
d) Liga de Desenvolvimento -> É o maior torneio de basquete de base do país. Precisa voltar a ser maior, em termos de duração e de clubes, mas ter a LDB em andamento, revelando alguns meninos e sendo uma das molas-mestras do NBB mostra o compromisso que a Liga Nacional de Basquete tem com o crescimento da modalidade.
e) Liga Ouro -> A divisão de acesso que culminou com a vitória do time da Unifacisa, de Campina Grande, diante do gigante São Paulo foi a melhor edição de sua história. Com times de tradição (SPFC e Londrina, por exemplo), abriu portas do basquete em cidades como Pato Branco, por exemplo, viu a paixão de Campina Grande crescer com os triunfos do time e fez com que as cidades se movimentassem na divulgação do torneio também. Foi ótimo!
Marcelo Cortes/Flamengo
f) Novos ídolos -> Se foi a primeira temporada sem Marcelinho Machado, uma quase toda sem Alex Garcia e também a derradeira de Giovannoni, foi a de surgimentos de craques como Franco Balbi e a consolidação de Zoom Fuller, jogadores acima da média e com ótimo carisma. Isso dá uma repaginada nos rostos do NBB, o que é excelente.
g) Volta de praças apaixonadas -> São José dos Campos e Brasília retornaram ao NBB e com isso duas cidades que amam basquete, que entendem do jogo e que apreciam a modalidade puderam voltar a ver o melhor do basquete do país.
O QUE PODE EVOLUIR:
a) O conceito multicanal -> O conceito de multicanal foi ótimo, deu certo, quase todos os jogos foram exibidos mas muita gente sentiu falta de entender melhor o que estava acontecendo no NBB. Onde passam os jogos? Quando? Exatamente em que horários? Não o aficionado pelo basquete, porque esse vai achar tudo o tempo todo, mas sim aquele que quer começar a gostar do jogo. Este precisa de um estímulo, da informação mais precisa.
b) Ausência da ESPN por meses -> Durante 2, 3 meses e devido a um problema entre emissora e Caixa a ESPN deixou de exibir o NBB. Ninguém explicou nada. Entendo a questão do sigilo, mas do nada a ESPN voltou a transmitir os jogos como se nada tivesse acontecido. Foi chato e uma mínima explicação daria um pouco de transparência ao que ocorreu. Não custava nada.
c) Público nos ginásios -> Problema recorrente e pouco solucionado até aqui. Os times de camisa, os de futebol, que deveriam dar essa alavancada toda como esperavam ficaram longe disso. O Flamengo campeão do NBB não teve 800 pessoas de média nos ginásios na fase regular. A média de público na fase regular foi muito, muito baixa, com menos de 900 pessoas por jogo. Isso é inadmissível e algo precisa ser feito pelos clubes e pela Liga Nacional. Os ginásios estão cada vez mais vazios e ninguém ainda conseguiu endereçar o assunto de forma executiva. Vocês vão me desculpar, mas times como Flamengo, Vasco, Botafogo e Corinthians terem menos de mil pessoas por jogo é algo inadmissível. Não 100% culpa da Liga Nacional, que tem a menor fatia do problema, mas dos clubes, que agem muito pouco para promover seus atletas, seus eventos, suas partidas. É um círculo vicioso (clubes esperando a Liga, a Liga demandando dos clubes) cujo nó não foi desfeito ainda.
d) Jogo das Estrelas -> Não há dúvida que o JDEstrelas diminuiu de tamanho. Com dois anos consecutivos no Ibirapuera, a festa rolou solta, com ginásio lotado, parceiros de todos os tipos, shows com músicos conhecidos, atrações do lado de fora e tudo mais. O Jogo das Estrelas é um produto gigante da Liga e deveria ser tratado como tal. É uma das peças do portfólio e não algo como uma partida qualquer de temporada regular.
Créditos: Newton Nogueira
e) Onde estão os jovens? -> Apenas Lucas Dias, de Franca, é um jogador-franquia do NBB entre os brasileiros com menos de 27 anos. Diz muita coisa sobre trabalho de base, não? Bastante e isso preocupa muito. A Liga Nacional não tem culpa nessa questão toda, mas ela precisa se mexer porque não ter jovens comandando o espetáculo em muito breve fará com que seu negócio fique associado a veteranos. Isso não é bom.
f) Gestão dos clubes -> Houve times com atrasos de salários, sem departamento algum de marketing, sem nenhuma ação em redes sociais e com zero relação com a imprensa. O NBB evoluiu, o esporte evoluiu, não dá mais para ficar tratando o esporte com amadorismo ou com relação de outros séculos. Que os clubes se estruturem, tratem o basquete como negócio e tenham um mínimo de gestão profissional de fora pra dentro da quadra. São poucos os que conseguem isso atualmente. Franca é o melhor exemplo ao meu ver.
g) O playoff com os oito melhores -> Acho que já deu isso de termos playoffs com 12 melhores. Há times que estão indo pra pós-temporada com 30% de aproveitamento na fase regular. Isso é premiar algo não muito bom. Playoff em todo lugar do mundo é com os oito melhores. Que assim seja no NBB, com quartas, semi e final direto envolvendo as melhores equipes da competição.
h) Calendário muito espaçado -> Foi um ano atípico, com eliminatórias da FIBA, o primeiro Super8, essas coisas. Mas o fato é que Franca, por exemplo, ficou um mês e teve apenas 2 jogos devido à folga na primeira fase do playoff. É preciso organizar melhor todas as competições, colocando os times para jogar em uma sequência lógica e não irregular – às vezes com muito jogo, às vezes sem nenhum.
Ponto importante: a gente entende a necessidade e a importância da TV Aberta, mas final em praticamente 5 finais de semana me parece demais. O NBB ainda não tem "tração" para ficar uma semana sem jogo. Não tem mídia que cubra o esporte quatro, cinco dias seguidos na expectativa do jogo seguinte. O que acontecia? Parecia que a final tinha "morrido" pro grande público, surgindo cinco dias depois. Uma boa alternativa seria fazer como aconteceu nos jogos 2 e 3, com espaçamento menor (dois dias). E TODOS falando o tempo todo sobre o jogo.
Outra coisa: em alguns momentos houve jogo de mata-mata do NBB ao mesmo tempo de partidas de playoff da NBA. Não sou daqueles que acha (e tem gente que acha, respeito, claro) que o NBB deveria começar antes ou depois pra não pegar o playoff ao mesmo tempo do da NBA. Acho que eles se complementam, sobretudo devido a diferença de horários (lá sempre começa depois), mas ter partidas ao mesmo tempo não me parece legal. O jogo 3 da semifinal entre Botafogo e Flamengo começou 21h. A final do Oeste, jogo 1, entre Warriors e Blazers, 22h. Não acho legal e isso pode ser adaptado.
i) Pensamento nem sempre tão grandes -> Os ginásios precisam melhorar, sem dúvida, mas pra mim o fato de termos, por exemplo, uma semifinal de NBB em General Severiano, ginásio acanhado, e outra no Tijuca, pelo Flamengo contra o mesmo Botafogo, diz muito sobre o pensamento às vezes pequeno das equipes. Pra encher ginásio grande é preciso promover, achar o tom das comunicações, falar com a massa de torcedores, essas coisas. Dá trabalho, mas converte, viu… Sobre o pensamento do público, a forma como os atletas e técnicos rivais são tratados, farei um texto em separado porque vale a pena. Creio que aqui não seja culpa da Liga Nacional, mas vale entrar no tema.
SALDO DA TEMPORADA:
O saldo do NBB foi positivo, nota 7 pra 7,5 pra mim, mas acho que pro crescimento maior do basquete, do NBB, é preciso ir além agora. O que foi feito foi lindo para dar um pontapé inicial em um produto que não existia há uma década.
Hoje o NBB é uma marca consolidada, que emana credibilidade, paixão e transparência. Mas precisa e deve ir além. Os passos agora serão menores, talvez menos sensíveis, mas são muito importantes também. Todos eles envolvem gestão, processos mais meticulosos, organização e ainda mais velocidade na tomada de decisão.
A Liga Nacional tem tudo pra chegar lá!
Sobre o blog
Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.