Presidente da CBB, Carlos Nunes abre o jogo sobre finanças da entidade
Fábio Balassiano
08/03/2016 05h10
Mandatário da entidade desde 2009, Nunes é o responsável por uma CBB que devia, até o final de 2014, mais de R$ 13 milhões, que é processada pela antiga patrocinadora estatal (Eletrobrás) e que viveu o recente caos com a seleção feminina, quando os clubes e as atletas decidiram boicotar a convocação por não concordar com as diretrizes apresentadas.
Como é o costume deste blog, perguntei tudo o que poderia perguntar a Nunes e reproduzo o conteúdo completo a seguir. Completo é completo mesmo (quase não houve edição). Ele respondeu a tudo. Quase tudo. Hoje falamos sobre a parte financeira e estratégica da Confederação. Amanhã, a parte técnica.
CARLOS NUNES: Olha, dentro das dificuldades que foram criadas, principalmente no que tange a patrocínios, acho até que faço uma administração razoável. De razoável para boa. Tivemos classificações olímpicas, subimos no ranking da FIBA, temos uma equipe principal masculina com nomes que podem nos ajudar a chegar ao pódio olímpico e contratamos um técnico para a equipe dos rapazes de renome internacional.
NUNES: De quê?
NUNES: Olha, Bradesco que você cita é verba incentivada.
NUNES: É, é dinheiro, eu sei, mas a gente fica com esse dinheiro fazendo campeonato de base.
BNC: Que campeonato de base?
NUNES: Os que sempre tivemos.
BNC: Não, não mesmo. Não temos mais campeonato Sub-19, não fizemos campeonato Sub-14, não temos sequer o Sub-21, que hoje está com a Liga Nacional (a LDB). Eu pesquisei antes de vir pra cá. Em 2015, assim como em 2014 e 2013, tivemos apenas Sub-15 e Sub-17. São três divisões em cada, seis torneios em 12 meses para rapazes e seis para as meninas. A verba é toda consumida em 12 torneios?
NUNES: Então, não temos mais Sub-19 porque o dinheiro não nos permite fazer. Os valores subiram, e a verba de patrocínio não nos permitiu fazer o investimento.
NUNES: Não, não. Isso aí quem poderia te dar uma explicação melhor é a nossa Auditoria que mexe nos nossos balanços, nosso financeiro também. Mas não acho alto pelo que fazemos, não. E outra coisa: acho que esse ano nossa dívida de fechamento de 2015 vai diminuir.
NUNES: É, tudo bem, vamos ver, vamos ver. Você veja. Nós temos essa pendência que a Eletrobrás nos deixou (a Estatal move um processo contra a CBB). Se nós tivéssemos a receita deste patrocinador estaríamos tranquilos.
BNC: Você reclama muito da falta de patrocínio, eu acho que você tem uma certa razão quando fala que a ausência deste valor faz com que os investimentos sejam menores, mas vou insistir neste ponto: os vencimentos da Confederação são altíssimos. Não estamos falando de uma entidade que recebia R$ 25 milhões e passou a receber 2, 3. O que entra para a CBB não é pouca grana. E outra coisa: qual o motivo da CBB não conseguir patrocínio com empresas privadas? Quantas já foram procuradas?
NUNES: Tentamos, tentamos sempre. E a gente não consegue. As empresas alegam que não têm dinheiro e que a exposição da seleção brasileira é muito pequena, pois a seleção se junta em julho e deixa de estar atuando em setembro. Isso, para os patrocinadores, é muito pouco. Mas não desistimos, não.
NUNES: Não. Pelo Estatuto do Ministério do Esporte eu posso. Pelo da CBB que não. Vou respeitar o estatuto da CBB.
BNC: E quem você imagina que possa te suceder? O Grego pode voltar?
NUNES: Não, não. O Grego me disse que não quer. Não sei quem é que tem, sinceramente. Sei que o presidente da Federação do Paraná, o Amarildo Rosa (foto à esquerda), está fazendo uma campanha. É muito cedo ainda.
NUNES: O Grego tinha um patrocínio. Eu, não. Mas acho que não. Iremos reverter isso a tempo da eleição, tenho fé nisso e estamos trabalhando para resolver essa situação até março de 2017.
NUNES: Mas não sei se são R$ 13 milhões. É você que está dizendo
BNC: É o que está no Balanço Financeiro, presidente. Então vamos lá: diga-me de quanto é a dívida da CBB ao final de 2015 então.
NUNES: Não sei, não sei. Preciso esperar o fechamento de 2015 para te falar.
NUNES: Nós fazemos um bom trabalho, mas não é o que se desejaria. Nós fazemos muito bem estes campeonatos de base Sub-15 e Sub-17. Estes torneios são um espetáculo. As três divisões. A gente reúne nestes eventos mais de 2 mil atletas. Se você fosse nestes campeonatos veria a grandiosidade do trabalho e a maravilha que é. Reunimos técnicos, fazemos clínicas técnicas, de arbitragens, as Federações participam. O trabalho está sendo feito, mas as Federações acabam não fazendo mais porque também têm a necessidade de um patrocínio. Além disso, é preciso dizer: a CBB atualmente não tem conseguido ajudar às Federações também com uma verba mensal. Outra coisa: fizemos o 3X3 em todo Brasil. Estamos muito bem nos dois rankings e fomos homenageados no Qatar sobre nosso bom trabalho nesta modalidade.
NUNES: Mas aí é uma questão da Liga Nacional de Basquete e da Liga de Basquete Feminino. Mas por quê isso acontece? Porque os clubes não têm condições. Não há condições de arcar. E olha o trabalho que a LNB faz. A LNB faz um trabalho muito bom, muito bom mesmo. A Liga está fechando alguns patrocínios, e quando concretizar vai melhorar ainda mais.
NUNES: Olha, bom você tocar nesse assunto. Eu gostaria que o dia que você pudesse você fosse lá na CBB para falar sobre isso.
NUNES: Mas é só você ser um pouco menos duro para falar as coisas. Se você tiver esse conhecimento que estou lhe falando pra ter, com acesso à CBB, irá ver que as coisas não são assim como você escreve.
NUNES: Sim, sim, vamos retomar aqui. A Eletrobrás tinha que nos repassar um dinheiro. Dos R$ 21 milhões que ela tinha que nos repassar ela nos repassou apenas R$ 4,8mi. A renovação era anual, e temos um documento em que a Eletrobrás se comprometia a renovar. Então destes R$ 4,8mi tivemos que usar para algumas coisas que a Eletrobrás não concordou. Daí o problema. Mas que fique claro: foi tudo usado dentro das seleções. Nada fora da normalidade. E mesmo assim a Estatal glosou. Está tudo lá. Documentos, prestação de contas, tudo direitinho. Eles não aceitaram isso e estamos na Justiça. A Justiça informou, em primeira instância, que temos que discutir o assunto. O tema será julgado, e será provado que o dinheiro foi usado apenas pela seleção.
NUNES: Nós estamos reivindicando a renovação do contrato que não aconteceu. Isso dá, ao todo, R$ 21 milhões, com o desconto do que já foi pago mesmo. Tem que fazer as contas direitinho, mas acho que é isso aí mesmo (que você cita). Há outra coisa importante. Não me lembro exatamente o ano, mas a presidente Dilma Roussef chamou as Confederações em Brasília e disse que todas as Confederações teriam um patrocínio de uma estatal. Qual foi a única que não recebeu? Nós, da CBB.
NUNES: Não, não. Mas isso foi antes.
BNC: Não, Presidente. A Eletrobrás reclama de coisas de 2010, 2011 da CBB.
NUNES: Por isso que te digo: você tem que ir lá na CBB ver isso com a gente. Vou te chamar, vou te chamar.
NUNES: Isso eu não vou falar. Isso está com a Justiça. Só isso. Não posso falar.
BNC: Você falou sobre a falta de grana da CBB. Uma das grandes críticas que se faz à Confederação é a ausência de uma área de marketing mais atuante, mais forte. Marketing, no final das contas, é gerar receita, você sabe disso, e hoje em dia a CBB vive apenas de uma linha de receita que é a de patrocínio. Não falta um departamento de marketing mais pesado para alinhavar, por exemplo, venda de camisas, criação de ações promocionais etc. ?
NUNES: Concordo inteiramente com isso. Nisso concordamos inteiramente. Sobre as camisas, a Nike não tem a produção no Brasil. A gente vai lá, encomenda, mas não tem braço para distribuição aqui. Mas as dificuldades do país hoje em dia fazem com que essa parte de geração de receitas torne ainda mais complicado o nosso trabalho.
NUNES: Trabalho, trabalho e trabalho. Estamos lutando para reverter isso. Falamos da dificuldade porque existe mesmo essa defasagem de dinheiro em relação aos últimos anos. Não dá pra fugir disso. Agora, não podemos desistir. Continuamos trabalhando. A CBB continua fazendo seus campeonatos, atendendo às seleções. Queremos ir além. É o que mais queremos.
Continua amanhã
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