Balanço Financeiro da CBB - Minha Análise: 'Muita dívida e nenhum projeto'
Fábio Balassiano
07/05/2014 01h55
1) Mais do que as contas, me espanta um pouco a maneira como as coisas têm sido "administradas" na Confederação Brasileira. Como o Professor Scarpin, que estará por aqui amanhã dissecando o balanço de forma brilhante, costuma dizer: o problema não é ter dívida. Empresas grandes, imensas, possuem dívidas. O problema é você ter muita dívida, poucos ativos, zero de alternativa para sair do buraco e nenhum projeto de basquete. A grande dúvida é: como a CBB gastou, em 2013, R$ 28,3 milhões? Isso pra mim é inexplicável. Diria que bastante inexplicável.
3) Recentemente o presidente Carlos Nunes deu uma entrevista (aqui) ao Estadão. Nela, ele disse: "Nós estamos cientes das nossas dificuldades, das dívidas, mas temos administrado tudo isso. Não fizemos mais dívidas e o valor diminuiu. Não sanamos, mas diminuiu. O departamento financeiro da CBB está trabalhado no balanço, que deve sair em breve porque temos assembleia no dia 26 de março, mas eles já me acenaram que eu terei uma surpresa agradável. Com o aporte financeiro de um novo parceiro, com certeza, ficaremos tranquilos. A gestão hoje da CBB é toda profissional. Uma coisa é administrar com dinheiro, outra é sem. E temos sabido administrar sem dinheiro". Como se pode ver, no Balanço Financeiro da CBB, a entidade fechou o ano com dívida de quase R$ 900 mil e o valor da dívida aumentou em R$ 700 mil. Ou o presidente Nunes gosta de contar piadas ou ele precisa de ajuda para analisar as contas.
4) Quando Nunes afirma que "uma coisa é administrar com dinheiro, outra é sem", o que ele pode nos contar sobre o aumento das despesas? A linha de despesa da CBB subiu de R$ 25,8 milhões em 2012 para R$ 28,3 milhões em 2013. Abrindo um pouco da linha de despesa consegue-se verificar algo BEM interessante: a entidade máxima do basquete brasileiro conseguiu aumentar de R$ 3,1 para R$ 3,7 milhões seus custos com pessoal (gente, pessoas, profissionais que receberam grana da entidade). Tipo: mesmo com dívidas de R$ 8,8 milhões em 2012 a Confederação seguiu contratando. Não é formidável? Uma reflexão: se a entidade máxima estava sem dinheiro (e não estava, sabemos desde sempre), como Nunes diz (equivocadamente), não seria recomendável encurtar as despesas? Pelo menos aqui em casa funciona assim: se entra menos dinheiro, sai menos dinheiro também. Sobre a parte em que ele diz "A gestão da CBB hoje é toda profissional" eu juro que não vou comentar, ok.
7) Outro ponto merece ser levantado. Como administra bizarramente mal a grana, a CBB pagou, em 2013, mais de R$ 2,5 milhões em juros bancários devido aos seus inúmeros empréstimos. Empréstimos estes contraídos em Itau (que inclusive processou a entidade máxima, como divulguei aqui com exclusividade) e Bradesco, que PATROCINA a Confederação. Ou seja: o banco que coloca dinheiro na entidade máxima vê a entidade máxima pedindo dinheiro emprestado ao próprio banco. Para o mundo que eu quero descer…
8) O rombo pode ser ainda maior caso a Champion, que pede R$ 4,1 milhões na Justiça, vencer o processo. Caso ganhe, será uma catástrofe de proporções gigantescas nas contas da CBB.
A conclusão é bem óbvia, né, pessoal: a CBB está quebrada, falida, em situação de insolvência total – insolvência moral, financeira, administrativa e de ideias. O principal ponto é: existe MUITA grana (principalmente pública) para os dirigentes da Avenida Rio Branco administrar. Mas desde 2010 (quando comecei a analisar os Balanços Financeiros) é muito claro que eles não têm sabido muito bem o que fazer com tanta receita. O basquete está sendo administrado de maneira, com todo o respeito, muito, muito ruim, amadora (para usar um termo contrário ao 'profissional' descrito por Nunes). Tão ruim que (isso vocês verão amanhã), os Auditores, que deveriam APENAS verificar os números, colocam um alerta para a Confederação (algo raríssimo).
Mais do que isso. Impressiona, tanto quanto a falta de habilidade administrativa, organizacional e financeira da CBB, a desfaçatez do Carlos Nunes, que afirma que "não fizemos mais dívidas e o valor (das dívidas) diminuiu". Que "surpresa agradável" é essa que o senhor afirma que teria do departamento financeiro, presidente? Nunca tive uma festa surpresa na vida, mas confesso que se tiver espero que os organizadores utilizem um conceito diferente do termo 'surpresa' que você utilizou. Acho bem prudente.
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