Meu Balanço da temporada 2016/2017 do NBB - o que deu certo e o que precisa melhorar?
Foi assim em 2013, 2014, 2015 e 2016. Em todos eles fiz o (meu) balanço da temporada do NBB. Como sempre digo, esta é uma avaliação crítica de um produto de 9 anos, já bom no mercado e que tem mudado de patamar positivamente ano após ano.
Sobre a situação envolvendo CBB e Liga Nacional, peço que esperem o texto que virá amanhã. Vamos, neste momento, aos pontos positivos e negativos sobre o NBB9, o da temporada 2016/2017.
PONTOS POSITIVOS:
1) Playoffs emocionantes -> Foi um mata-mata incrível, muito provavelmente aquele com a maior carga emocional da história do NBB. Viradas, favoritos eliminados, lances surreais (como a remontada do Vitória contra Campo Mourão), heróis surgindo, vilões aparecendo e tudo o que a gente sempre sonha. Se playoff é drama, o desta temporada foi drama ao quadrado. Destaco a série final de Bauru e Paulistano e a entre Pinheiros e Flamengo nas quartas-de-final, ambas bem jogadas e com roteiros cinematográficos.
2) Ginásios cheios -> A reboque de um playoff emocionante tivemos ginásios quase sempre cheios também. Já havia notado isso na fase de classificação (ainda não tenho números muito profundos em relação a isso, mas vou checar), mas no mata-mata houve uma explosão. Até times, digamos, sociais como Pinheiros e Paulistano encheram seus ginásios. Como bom termômetro, as redes sociais, que nem sempre pulsavam quando o assunto é NBB (mas sim NBA), passaram a acarinhar o produto nacional também.
3) Áreas de marketing mais atuantes -> O crescimento do segundo pode ser analisado por uma consolidação, também, nas áreas de marketing dos times. Paulistano, Vitória, Bauru e Basquete Cearense, para citar apenas quatro que eu conheço mais, fizeram trabalhos consistentes e envolveram comunidades, cidades e torcedores. Falta MUITO, quilômetros, para conseguirmos chamar de muito bom o marketing esportivo brasileiro, mas dá pra sentir um caminho em algumas equipes.
4) Jovens aparecendo (técnicos e atletas) -> Lucas Dias foi sublime pro Paulistano, do jovem técnico Gustavo de Conti. Bauru teve Leo Meindl brilhando e Demétrius comandando um time campeão. São quatro exemplos de jovens que apareceram jogando e nas pranchetas. Com a crise econômica, e times cada vez mais enxutos, surgiu espaço pra galera mais nova aparecer. E alguns deles apareceram. Dá pra citar, também, Yago, Georginho, Alexey (Franca), Lucas Mariano (Brasília) e tantos outros jogadores, além de Cesar Guidetti (Pinheiros), Bruno Savignani (Brasília) e um punhado de jovens treinadores que estão fazendo ótimos trabalhos.
5) Jogo das Estrelas -> Certamente o ponto alto da temporada. O Jogo das Estrelas em São Paulo foi fantástico, alto nível mesmo. Nem há muito o que comentar. Em minha modesta opinião, um dos melhores eventos de basquete que já houve por aqui (tirando os da NBA, claro) em todos os tempos. Show do Jota Quest, comida do Starbucks, produtos para compra do lado de fora, espaços para os patrocinadores e tudo mais. Nota 10 aqui!
6) Novo campeão -> Enfim temos um novo campeão no NBB. Depois de Flamengo (cinco) e Brasília (três) terem vencido as oito edições, chegou a ver de um novo integrante no hall dos campeões. A chegada de Bauru entre os vencedores é salutar para o basquete brasileiro, pois evita o dualismo e aumenta a imprevisibilidade.
7) Playoff todo na TV fechada, TV aberta e Facebook -> Se durante a temporada nem sempre foi fácil acompanhar os jogos do NBB, na pós-temporada foi bem tranquilo. Quase todas as partidas foram exibidas pela Bandeirantes, ótima parceira e sempre com programas especiais, Sportv e Facebook da Liga Nacional. Se isso tudo não fosse o bastante, quase todos os jogos da Band foram pra prorrogação, aumentando o tempo de exibição em TV aberta. O Facebook Live da Liga Nacional, com os embates e também com a ótima ideia (não sei de quem foi, mas merece os parabéns!) dos pré e pós-jogos nas finais, também foram muito bons.
8) Nordeste forte -> O Basquete Cearense se consolidou e o Vitória foi até a semifinal. A força do Nordeste abre um espaço importante para a Liga Nacional explorar. A região pode ser um local muito, muito rico para a expansão do produto NBB.
PONTOS A MELHORAR:
1) Liga forte, clubes nem tanto -> A Liga Nacional tem 756 patrocinadores graças a seu ótimo trabalho de prospecção de apoiadores, mas os clubes não estão tão bem assim. Campo Mourão e Vasco terminam o NBB com salários atrasados. Brasília, com a ameaça de não conseguir pagar as suas estrelas para 2017/2018. Em Bauru até sábado havia rumor que os patrocinadores iriam desacelerar os investimento. Qual a solução, então? Não digo o óbvio, o clichê, que é a LNB repassar a verba para as franquias. Isso é o fácil, ao meu ver – e nem sempre resolve. Os clubes precisam aprender a se virar sozinhos para de forma sustentável conseguirem se bancar. O lance todo é que a gente vê, ano após ano, que são poucos os que são bem estruturados. Ao invés de a Liga dar um cheque, talvez seja o caso de dar mesmo é um curso fortíssimo de gestão e planejamento. De nada adianta um "back-office" forte se a porta de entrada está ruim.
2) Espaço entre os jogos das finais -> Entendo os motivos (ter o maior número de partidas na Band), mas não consigo gostar do fato de termos jogos de sábado a sábado em uma final de NBB. O basquete brasileiro não possui, ainda, uma grade de programação que seja alimentada por uma semana. Em alguns momentos eu, sinceramente, pensei que o campeonato já havia acabado e aí lembrava que tinha um embate daqui a 3/4 dias.
2.1) As finais (locais, ingressos, ginásios e tudo mais) -> Aqui foi uma confusão imensa. Faltando cinco dias ninguém sabia como seriam venda de ingressos e os cincos locais das finais. Aí a Liga anunciou Botucatu como local do jogo 5 da final – e foi em Araraquara. O Paulistano fechou seu ginásio pra primeira partida da decisão – e quem acompanhava o time desde o começo chiou que foi uma loucura. No jogo 2, o árbitro Cristiano Maranho foi agredido por vândalos em Bauru. No quatro, Paulistano e Bauru jogaram com luz entrando na quadra (atrapalhou os atletas) no Corinthians. Antes do jogo 5, devido ao JUCA (Jogos de Comunicação, se não me engano), os times só puderam treinar em Araraquara na sexta-feira à noite (menos de 12h antes da partida final do campeonato). Antes o local estava reservado aos atletas universitários. Sei que a Liga adora dizer que está tudo bem, mas nessa final não esteve tudo bem, não.
3) Arbitragem -> Terrível. O nível cai assustadoramente a cada ano (tal qual na NBA, diga-se de passagem). Isso é potencializado por técnicos e atletas que reclamam de TUDO do minuto 1 ao minuti 40 de um jogo. Apitar uma partida de basquete não é algo fácil. Com atletas se jogando a cada instante e treinadores dando chiliques homéricos fica ainda mais difícil.
4) As datas e os ginásios de Flamengo e Vasco -> Nem preciso entrar muito nisso aqui, né? A primeira partida entre os gigantes do futebol foi adiada menos de 96h antes do seu começo. Depois foi feita uma tentativa, mas não rolou e a peleja foi disputada sem público. A segunda teve que ser jogada em Manaus – e com confusão entre "torcedores". Em 2017/2018 Vasco e Flamengo seguirão no NBB e existe a possibilidade grande do Botafogo também entrar no campeonato (disputa a final da Liga Ouro a partir de hoje). Planejar isso desde já é imperativo ao meu ver.
5) Nível técnico -> Os times e técnicos se esforçam, estão cada vez mais estudando, mas o nível técnico está muito baixo por aqui. Os veteranos (e bota veteranos nisso) seguem dando as cartas, os jovens (com raríssimas exceções) ainda não conseguem liderar as suas franquias e não são muitas as equipes que atuam de maneira organizada, não. Duas das que mais conseguem jogar taticamente bem (Bauru e Paulistano) chegaram à decisão, mas no geral ao meu ver a parte técnica ainda deixa bastante a desejar. A perda de gringos de ótimo nível (Meyinsee, Hermann, Stanic etc.) mexe neste ponteiro também.
6) Tabela irregular e cheia de "oportunidades" perdidas -> A tabela do NBB é um problema crônico e vem de alguns anos já. Esse ano foi potencializada devido a ausência dos times brasileiros na Liga das Américas, deixando uma lacuna de quase 15 dias sem jogos para alguns times. Outro ponto importante é a perda da oportunidade da Liga Nacional nas férias do futebol. O noticiário, principalmente o da TV, fica mais disponível, aberto, e o basquete poderia se aproveitar.
CONCLUSÃO E NOTA GERAL:
Foi um NBB nota 7, nota 7,5. O campeonato é bom, o produto é bom e bem cuidado pela Liga Nacional. Há problemas grandes pra resolver, mas creio que a cada temporada o principal torneio de basquete do país está ficando melhor. Falta pouco pra dar o grande salto de qualidade, algo que ainda não vimos, mas talvez isso seja muito mais um problema de ansiedade do blogueiro do que algo factível.
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