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Bala na Cesta

Segunda tentativa: Kouros poderia ser a terceira via na eleição da CBB

Fábio Balassiano

27/08/2016 01h00

nunes3Há cerca de três anos escrevi texto aqui após o pleito que reelegeu Carlos Nunes para o que já antecipava que seriam mais quatro anos de terror na Confederação Brasileira. Não precisava ser nenhum gênio para saber disso. Era preciso, mesmo, uma dose de realidade, algo que a turma do oba-oba e do puxa-saquismo não pode enxergar.

Um dos problemas do basquete brasileiro é este mesmo – a falta de senso crítico e a vontade de achar que tudo está bom, de que tudo está caminhando como deveria caminhar. Não, não está bom. Não, não está caminhando como deveria. Posso cometer meus exageros (e os cometo!), mas análises lambe-botas nunca me conquistaram, nunca serão vistas por aqui e quando é necessário colocar o dedo nas feridas irei colocar – justamente porque há inúmeras feridas no basquete brasileiro. O segundo esporte em preferência no país perde espaço há alguns anos e não sabe como se recuperar. Qual é o plano? Ninguém sabe simplesmente porque não há (plano) por parte das mentes pouco brilhantes que habitam a CBB.

nunes8Por causa disso tudo listado acima eu falo a realidade sobre o mandatário da entidade máxima do país há 8 anos: Carlos Nunes é uma figura simpática, educada, mas vive em uma bolha, em seu mundo, alienado da realidade e tranquilo com o que não faz. Sua noção do que há de mais moderno em gerenciamento de empresas inexiste. Previa, em 2013, um desastre pelos quatro anos seguintes. Veio uma verdadeira tsunami de notícias ruins. Dívida crescente (passou dos R$ 17 milhões, algo absurdo!), nenhuma capacitação dos professores, não mais do que ideias sobre o tão necessário Centro de Treinamento (eram só maquetes, como supunha), resultados internacionais horrorosos, esfacelamento da base, situação pré-falimentar no feminino, perda do respeito internacional, nenhuma massificação com a Olimpíada no país etc. .

amarildo1Em minha análise de cenário logo depois da Olimpíada do Rio de Janeiro escrevi que nada mudaria. Tal qual já havia feito em 2013, aliás. Disseram que era uma pessoa negativa. No começo desta semana divulguei que dois nomes surgem como pré-candidatos a presidência da CBB – Antonio Carlos Barbosa e Amarildo Rosa (foto). Nada mais desanimador. Respeito a história de Barbosa como técnico, converso bastante com ele, mas sua experiência em gestão é muito pequena para o que o basquete precisa neste momento. Estamos no fundo do poço pedindo socorro e não vejo nele uma pessoa com as ferramentas necessárias para tirar o esporte de lá. Não é que ele representa o continuísmo. Falta a ele expertise em campos como gestão, planejamento, finanças, marketing e comunicação, algo que o próprio reconhece. O caso de Amarildo é o famoso "mais do mesmo". São 12 anos de Federação Paranaense, nenhuma obra-prima pelo basquete do Estado ou do país e apoio a gestão de Carlos Nunes por longo tempo. Fico me perguntando o que leva alguém a querer ser presidente de uma entidade com R$ 17 milhões de dívida. Confesso não conseguir responder.

kouros4O que deveria acontecer para o basquete mudar de verdade seria procurar uma via diferente das que estamos vendo. Como a modalidade é um rodamoinho que traz sempre os mesmos temas à tona fui resgatar um texto que escrevi antes da segunda eleição de Carlos Nunes (em agosto de 2012, quase seis meses antes do pleito para ser mais exato). Falava, como uma alternativa para aquele pleito, no nome de Kouros Monadejmi (foto), primeiro presidente da Liga Nacional de Basquete, membro da LNB até hoje e figura respeitada nos altos escalões de FIBA, FIBA Américas e também da NBA. Mantenho o que disse quatro anos atrás pensando na disputa presidencial da CBB para 2017. Kouros para mim seria o cara ideal para assumir a presidência da CBB neste momento.

kouros2E explico. O dirigente, um cara bem resolvido financeiramente (não precisa do esporte para NADA!), tem ideias arejadas, possui noções empresariais bem modernas, atrairia investidores, traria a tão necessária sinergia (de conceitos) entre Confederação e Ligas Nacionais, e certamente daria, com profissionais de alto nível que o cercariam, um choque de gestão em uma entidade que precisa ser balançada para sair do lugar. Mais do que isso: Kouros traria credibilidade a uma Confederação que é mal vista por todos atualmente – FIBA, imprensa (a imprensa séria, claro), clubes, jogadores, todos. O primeiro passo, por incrível que pareça, não é nem pagar a galopante dívida. O primeiro passo para sair do buraco é mesmo mostrar para a tal comunidade do basquete que é possível, sim, trabalhar de maneira diferente no comando da Confederação Brasileira. Algo que foi e é feito na Liga Nacional de Basquete desde a sua fundação há quase uma década. Liga, é bom que se diga, que tem inúmeras falhas, mas cujos ganhos são muito grandes desde seu surgimento.

cbb1O problema, para quem gosta de basquete, é que, como também venho dizendo há anos, o basquete suga as pessoas boas para o lado ruim e extirpa de vez personagens de bem do tabuleiro. Querem um exemplo? O sistema que elege o presidente da CBB é tenebroso. São 26 mandatários de Federação (alguns há séculos no poder) que colocam na urna os destinos do esporte do país. Apenas 26! Logo depois é o Presidente da Confederação que precisa passar a cobrar estes eleitores (dele) para trabalhar pelo esporte. É possível dar certo? Não, não é.

kourosEste é o motivo real pelo qual Kouros jamais embarcará nesta barca furada chamada eleição da CBB. Porque ele não quer participar de um sistema eleitoral viciado e torto. Tão simples quanto isso. Se eu (re)escrevo este texto agora, sabendo que ele, Kouros, irá reclamar comigo quando ler isso é por um motivo singelo: o basquete brasileiro não aguenta, vivo, mais quatro anos com o modelo de gestão que afunda a modalidade há duas décadas com Nunes e Grego.

kouros1Mais do que o nome de Kouros, prego mesmo é uma turma boa, de bem e interessada apenas em desenvolver o esporte brasileiro à frente da CBB a partir de 2017, quando teremos a troca de guarda de Carlos Nunes. Para isso acontecer, ou o sistema eleitoral e político muda ou nada feito. E sendo totalmente realista: é impossível pensar em modificação no panorama atual porque atletas, clubes, dirigentes e profissionais do meio encontram-se anestesiados. Ninguém age. Ninguém questiona o establishment. Na Argentina, aqui do lado, atletas se insurgiram e tiraram o presidente da Confederação. Por aqui? Nada.

E aí o que acontece? Eu vos digo: acontece que em 2017 teremos Antonio Carlos Barbosa ou Amarildo Rosa como presidente da Confederação Brasileira para um dos ciclos mais importantes da história do basquete nacional nos últimos 50 anos. Se está ruim hoje, caso nada de muito diferente aconteça, acreditem: vai piorar.

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