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Bala na Cesta

O que esperar dos próximos anos de Carlos Nunes no comando da CBB - vai melhorar?

Fábio Balassiano

08/03/2013 00h49

Como você sabe, Carlos Nunes (na foto ao lado do vice Reginaldo Sena) foi eleito nesta quinta-feira para mais um mandato na presidência da Confederação Brasileira de Basketball. E foi por aclamação, visto que recebeu 21 dos 27 votos possíveis (CE, MA e RN votaram em Grego; DF e BA se abstiveram; e SP nem representante enviou – uma vergonha, diga-se de passagem) em uma eleição em que não saiu sequer uma ideia para tirar o basquete do buraco. Tipo, é isso mesmo que você está lendo: um cidadão foi eleito para comandar uma entidade esportiva sem ter dado sequer uma ideia do que será sua estratégia pelos próximos quatro anos. Beira o absurdo.

De todo modo, eleito que está, a pergunta que fica, agora, para Nunes é: o que esperar de sua gestão nos quatro anos que teremos pela frente?

Quem acompanha este espaço sabe quão crítico eu fui (e continuarei sendo, já antecipo) em relação a gestão de Carlos Nunes, certamente a que mais de perto pude fiscalizar/acompanhar junto com a parte final do governor Grego. E a verdade é uma só: Nunes foi uma catástrofe como presidente. Só foi eleito porque do outro lado havia um candidato cuja rejeição beira a totalidade não só entre os presidentes de Federação, mas na (odeio este termo) "Comunidade do Basquete". E isso não sou eu que digo. Um dos presidentes de Federação me confessou o seguinte no hotel em Ipanema: "Carlos Nunes não ganhou essa eleição por méritos de sua gestão. Sabemos de tudo o que ele fez lá. Mas ninguém aguenta o Grego, ninguém mesmo. Foi muito mais um voto contra um candidato do que a aprovação de quatro anos de Nunes como presidente".

Em seu período à frente da Confederação só acertou em duas coisas: ao trazer Rubén Magnano, que devolveu o país às Olimpíadas no masculino, e ao proibir, modificando o estatuto, reeleições eternas na entidade (ou seja: já podemos começar a contagem regressiva para a despedida de Carlinhos, como é conhecido, em 2017).

De resto, insisto, Carlos Nunes foi um pavor – principalmente em termos financeiros e estratégicos (e pensar que o Ministério ainda "chancelou" essa gestão com R$ 14 milhões, hein!). Há problemas gravíssimos apontados pela oposição nesta semana: dívidas condominiais da CBB ao Edíficio Bokel (superior a R$ 300 mil), um processo movido pela entidade contra a Eletrobras (0006291-27.2012.4.02.5101), contas telefônicas atrasadas (valor superior a R$ 120 mil), dívida com José Carlos Brunoro de (R$ 4 milhões) e até mesmo problemas de INSS, FGTS e Imposto de Renda. Isso, claro, sem falar no processo que a Champion, ex-fornecedora de material esportivo, move contra a Confederação, da dívida, que certamente se aproxima dos R$ 10 milhões (aguardo ansiosamente o balanço financeiro de 2012) e do dinheiro que foi devolvido para a própria Eletrobrás por mau uso. Há várias coisas administrativas que deveriam ser respondidas, mas que Nunes teima em calar, em jogar para debaixo do tapete.

Sobre a questão técnica da coisa, Carlos Nunes foi igualmente catastrófico. Deixou de realizar mais de 11 campeonatos de base. Sequer pensou em criar um circuito de base decente, razoável, que envolvesse mais do que as federações, mas sim os clubes formadores, os verdadeiros "mantenedores" das seleções e times adultos. Não moveu uma palha para construir algo que foi prometido por ele em campanha, o tão sonhado Centro de Treinamento do basquete brasileiro. Deixou Hortência governar como bem entende, ou diz entender, uma modalidade feminina em frangalhos. Esqueceu de criar um departamento responsável pela popularização do esporte no país (o vôlei agradece, presidente!). Se apequenou nas palavras bonitas de Brunoro e deixou o agora dirigente do Palmeiras liderar todo o processo do basquete com sua equipe (gestão?). Não criou uma campanha sequer de comunicação quando da classificação às Olimpíadas depois de 455 anos. Não foi capaz, vejam só, de sequer fazer com que as novas camisas, da Nike e belíssimas por sinal, tivessem capilaridade em lojas de esporte para que o público que ainda teima em consumir a modalidade (porque só teimoso ainda consome o basquete depois de tanta zona) conseguisse comprar.

Juntando estes dois últimos parágrafos vocês podem ter ideia do tamanho do desafio de Nunes nestes próximos quatro anos. Popularizar um esporte que claramente está em declínio no país há 20, 25 anos (há uma oportunidade única com a realização dos Jogos Olímpicos por aqui, obviamente), arrumar as finanças que ele próprio arruinou desde 2009, promover um razoável circuito de base que por aqui jamais existiu, desenvolver novos técnicos e atletas e por fim trazer ideias novas em termos de marketing e comunicação para a entidade. Fácil? Claro que não. Possível? Com trabalho sério e dedicação, sim.

Será, então, que ele consegue fazer um bom segundo mandato? Conhecendo Nunes como se conheceu, a resposta óbvia é não. Se alguém tiver esperanças e quiser marcar o sim, é só apresentar algum argumento para confiar em alguém que ajudou, tal qual Grego fez em 12 anos, a afundar terrivelmente o basquete deste país.

Comentários abertos para um debate necessário pacas!

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