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Bala na Cesta

Após vice-campeonato continental, qual o futuro das meninas da Sub-16?

Fábio Balassiano

29/06/2015 05h46

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foto1O Brasil lutou muito, mas não conseguiu voltar pra casa com o título da Copa América Sub-16 em Puebla, no México. Jogou bem, contou com 32 pontos (alguns arremessos incríveis e BEM decisivos), 7 rebotes, 5 assistências e 4 roubos desta promissora Izabela Nicoletti (que baita jogadora – foto), teve chances, mas perdeu do Canadá na prorrogação em um duelo de altíssimo nível para a idade das meninas neste domingo (71-72, e aqui você pode rever tudo), terminou com o vice-campeonato e uma campanha pra lá de honrosa que contou com uma magistral vitória contra os Estados Unidos na semifinal de sábado. Passada a alegria da medalha de prata, no entanto, fica a pergunta: qual o futuro das meninas a partir de hoje?

dam5Esta não é, aliás, uma pergunta nova e nem uma situação inédita no basquete brasileiro (feliz e infelizmente). Em 2003 o Brasil foi vice-campeão Mundial Sub-21. Em 2013, medalha de bronze no Mundial Sub-19 (com Damiris – a craque de bola na foto – sendo a MVP do torneio). Nas duas ocasiões abrimos um sorriso quando vimos surgir novas meninas para dar continuidade aos bons resultados internacionais de Paula, Hortência e Janeth. Nas duas situações a Confederação fracassou absurdamente em dar condições mínimas para as atletas evoluírem.

erika1Mais que isso: com o basquete nas cordas, a maioria destas meninas já pararam de jogar. Sejam as que hoje estariam com 32, 33 anos, sejam as que nem completaram 25 anos. Dá pra falar da brilhante Érika de Souza (foto), pivô daquele time de 2003, como a exceção que confirma a regra das que ainda estão em (boa) atividade, e de Damiris, Cacá, Isabela Ramona e Tássia, que após a medalha de bronze em 2013 agora integram a seleção adulta, mas é muito pouco, muito pouco. E sabemos o que este ciclo eterno de erros gera. Pouco investimento, poucas atletas, poucos formadores, poucos times, poucas conquistas internacionais em competições de alto nível. A roda do esporte gira de forma cruel e é preciso repensá-la caso o país realmente queira voltar a ser forte.

dumercJá cansei de citar neste blog (aqui, aqui, aqui, aqui e aqui) o exemplo da França, né? Pois é, mas vale repetir. Atuais vice-campeãs olímpicas, as francesas perderam ontem na final do Eurobasket para a Sérvia, mas se garantiram no Pré-Olímpico Mundial. E quem estava por lá com as azuis? Skrela, Gomis e Dumerc, remanescentes do time que foi vencido pelo Brasil no agora longínquo Mundial Sub-21 de 2003. Doze anos atrás, hein. Ou seja: houve continuidade do trabalho, investimento por parte da Federação Francesa, crescimento na Liga local e persistência por parte das meninas que não desistiram nas primeiras dificuldades que apareceram. Não tem tanto mistério assim, tem?

izabelaPor aqui, por mais inacreditável que seja devido às péssimas administrações em Confederação e Federações, a seleção brasileira ainda consegue apresentar meninas muito talentosas como foi na Copa América Sub-16. A maior delas chama-se Izabela Nicoletti (foto), ala de 1,80m, 15 anos e que recentemente passou um tempo treinando nos Estados Unidos sob o comando da excepcional técnica Anne Sabatini (que comandou o time na Copa América também) e terminou o campeonato com incríveis 21,4 pontos, 5,4 rebotes, 3,6 assistências e um punhado de atuações acima da média para alguém de sua idade. Izabela é xará da não menos talentosa Izabella Sangalli, que também brilhou em competições de base pelo Brasil recentemente e que agora tenta seu espaço na seleção brasileira adulta.

brasil3As duas e mais um punhado de sonhadoras meninas talentosas que ainda teimam em surgir sabe-se lá como em um basquete cada vez mais minguado nas divisões de base só esperam que agora a Confederação Brasileira, Federações, Liga de Basquete Feminino (LBF) e clubes lhes apóie com condições mínimas para que elas sigam crescendo e evoluindo na modalidade. Não deveria ser um pedido muito grande, né? Mas é algo imenso para uma CBB que tem R$ 13 milhões de dívida acumulada e uma gestão que liga muito pouco para o que acontece com o esporte, sim. Infelizmente.

foto1E aí a conclusão é dura, mas claríssima: a não ser que alguma coisa mude radicalmente na maneira de se fazer e pensar basquete na Confederação e Federações Estaduais, hoje, 29 de junho de 2015, é o primeiro dia do fim da carreira das meninas da Sub-16. Triste maneira de terminar um texto de uma geração talentosa e que acaba de derrotar os Estados Unidos em uma Copa América, né? Sem dúvida que sim, mas é a realidade.

Lembra da tal roda do esporte que falei lá em cima? Quem será, por aqui, capaz de mudar o seu rumo?

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