Dream Team estreou na Olimpíada há 25 anos - qual o impacto do timaço no basquete atual?
Fábio Balassiano
26/07/2017 05h45
Há exatos 25 anos a palavra sonho ganhava um novo significado no dicionário do basqueteiro. No dia 26 de julho de 1992 a seleção dos Estados Unidos estreava na Olimpíada de Barcelona pela primeira vez contando com atletas da NBA, a liga profissional norte-americana. E não era qualquer seleção. Era um elenco que contava simplesmente com três dos maiores ícones do esporte à época (Michael Jordan, Larry Bird e Magic Johnson) e craques como Charles Barkley, John Stockton, Karl Malone, David Robinson, Chris Mullin, Scottie Pippen, Clyde Drexler e Patrick Ewing, além do jovem Christian Laettner, recém-saído da faculdade.
Diante de Angola, o Dream Team (Time dos Sonhos) inaugurava uma nova Era na modalidade de um modo particular e no esporte de um modo mais amplo. O placar do jogo inaugural (116-48) e as partidas seguintes até o ouro contra a Croácia em 8 de agosto (117-85) não deixavam muita dúvida: estava aberto um novo capítulo quando se falava em excelência no basquete.
Vinte e cinco anos se passaram, e a pergunta que fica é: qual o impacto do melhor time da história do basquete nos dias atuais?
Há cinco anos eu fiz aqui um especial sobre o Dream Team. Que ninguém se engane. O objetivo de David Stern, manda-chuva da NBA à época e maior entusiasta da criação de um time olímpico dos EUA com atletas da liga profissional, era mercadológico.
O comissário via dinheiro, via na Olimpíada de Barcelona um grande trampolim para transformar as franquias, os atletas e a marca NBA em ativos mais rentáveis do que eram no começo da década de NBA. Havia uma questão em quadra. Outra, sem dúvida alguma, era até certo ponto maior – a de negócio.
Stern enxergava que o produto NBA havia se consolidado nos EUA após uma década (a de 70) de problemas, e queria alçar voos maiores – bem maiores. Os ídolos americanos não podiam ser "apenas" ídolos de um país, mas sim mundiais. E não haveria melhor maneira de mostrá-los que não na Olimpíada de 1992, em Barcelona, diante de milhões de pessoas.
Michael Jordan, o melhor jogador do mundo naquela época e que recém havia conquistado o seu segundo título de campeão, começou a ver a sua marca chegar a outro patamar (internacional, e não mais nacional) logo depois dos Jogos. Antes celebridade do basquete americano e razoavelmente conhecido fora do país, passou a ser venerado, seguido, acompanhado e (sobretudo) consumido em todas as partes do planeta. A propagação em escala planetária de seus feitos faz com que seus momentos sejam lembrados até hoje – e não apenas em seu país de origem.
A visão extraordinária de Stern foi: tirando o futebol, o basquete era o esporte mais praticado em todo mundo. Não fazia sentido privar os ídolos, as equipes, o produto a um só país. O correto era disseminar os melhores jogadores, as melhores partidas, as melhores práticas por todos os cantos – e rápido. Sua frase "highlights are marketing" (melhores momentos também são marketing) foi cirúrgica em um mundo sem internet e sem tanta penetração de TV a cabo assim. Era o momento de se abrir, de expandir, e não de se fechar.
Mostrar na Espanha o melhor do basquete mundial renderia frutos lá na frente. E não era qualquer time, né? Era O time. Era o sonho. Era o show, o espetáculo, a excelência. Era o melhor que os norte-americanos poderiam apresentar (com exceção de Isiah Thomas, vetado pelo seu desafeto Michael Jordan).
Havia também um lado "libertário", pra frente, diferenciado que os Estados Unidos queriam mostrar ao mundo. Pouco tempo antes, em 1991, Magic Johnson, um dos melhores jogadores da história do basquete, havia sido diagnosticado com o vírus HIV. Sem tanta informação, o preconceito vencia. E David Stern deu o aval à NBA para trazer Magic de volta às quadras. O All-Star Game de 1992 é icônico devido a isso (a primeira aparição do camisa 32 dos Lakers jogando após o anúncio do vírus HIV). A presença dele no time olímpico, mais ainda. Não era uma questão "apenas" de jogar. Era de jogar e mostrar um pouco sobre como a liga queria se posicionar – à frente do seu tempo e brigando pelas boas causas.
Todo mundo sabe o resultado disso hoje em dia, não? O produto NBA é global, gigantesco, um dos mais valorizados do mundo, brigando pelas causas mais nobres há décadas (meio-ambiente, casamento homossexual etc.) e com atletas de todas as partes do planeta jogando na liga. Quase 20% da mão de obra da última temporada não havia nascido nos Estados Unidos, em uma prova que o mundo todo começou a estudar e a aprender as lições de Barcelona-1992. A chegada da internet ajudou, claro, e o intercâmbio fez com que craques de fora surgissem mais rápido e em todas as parte do mundo.
Dá pra citar os exemplos de Pau Gasol, craque que passou pelo Lakers e hoje defende o San Antonio Spurs, que viu do ginásio as Olimpíadas de Barcelona. Seu irmão, Marc, foi pelo mesmo caminho. Toni Kukoc, craque croata e brilhante na Europa há anos, foi pra NBA logo depois dos Jogos. O mercado se abriu para os jogadores internacionais, e neste século estrangeiros já receberam a alcunha de MVP's de temporada regular (o canadense Steve Nash e o alemão Dirk Nowitzki) e também foram decisivos em finais (o próprio Gasol, Nowitzki, o francês Tony Parker, o argentino Manu Ginóbili). A NBA não seria mais um campeonato para times e jogadores norte-americanos. A NBA é desde a década de 90, um torneio disputado pelos melhores atletas do planeta.
Não havia nada parecido no mundo naquela época. Nunca houve nada parecido depois disso. Arrisco-me a dizer que jamais haverá coisa igual. O Dream Team foi único. E eterno. Há 25 anos a história do esporte mudaria para melhor.
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