Com NBA de olho, jovem Georginho deixa futuro de lado e foca no NBB com Paulistano
Fábio Balassiano
15/04/2017 01h40
Aos 12 anos, George Lucas Alves de Paula recebeu a bola no fundo da quadra, se desvencilha do marcador, o relógio ameaça chegar ao final e ele solta a bola do meio da rua. Cesta. Cesta do título. Os meninos do Círculo Militar colocam as mãos na cabeça desolados. Georginho e seus companheiros de São Bernardo pulam loucamente comemorando o título com uma cesta improvável diante do grande favorito a levantar o caneco daquele ano.
"Nunca havia sentido uma emoção como aquela em minha vida. Foi a bola mais emocionante que eu já fiz a minha vida, uma das poucas até hoje que me fizeram perder o ar. Os caras estavam invictos no campeonato, todos diziam que eles eram imbatíveis e conseguimos vencê-los. Ali eu decidi que gostaria de ser jogador de basquete. Só de falar com você sobre este lance eu já fico emocionado. Isso que passaram quase 10 anos, mas eu nem preciso ficar olhando o vídeo pra lembrar. É muito fresco em minha memória", conta George Lucas Alves de Paula depois de quase 10 anos.
Foto de Filippo Ferrari / OC
Fã de Russell Westbrook, que terminou a temporada 2016/2017 da NBA com média e recorde de triplo-duplos na NBA, George Lucas se transformou em Georginho , hoje armador do Paulistano e uma das maiores promessas do basquete brasileiro.
Monitorado por olheiros da NBA há cerca de três temporadas, participando com frequência de eventos com a nata jovem do planeta e com chance de figurar no próximo Draft da melhor liga de basquete do mundo, o armador de 20 anos, 1,96m, técnica refinada, fala mansa e pausada, explosão absurda rumo a cesta e dono de um potencial físico descomunal é um dos principais jogadores do Paulistano que hoje às 14h enfrenta o Basquete Cearense fora de casa em busca do empate na série de playoff do NBB (a Rede Bandeirantes exibe a partida). O time de São Paulo perde de 2-1 e novo revés faz a temporada terminar.
"Meu pai viu que eu gostava muito de basquete e em pouco tempo tanto eu quanto a minha irmã Bianca começamos a nos destacar na escolinha. Foi um caminho meio sem volta e agradeço demais por eles terem me incentivado a seguir praticando a modalidade que eu escolhi. Eles ficaram felizes e orgulhosos pela gente", conta, relembrando que seu grande ídolo na época em que começou a jogar (2003/2004) era o armador Allen Iverson: "Eu queria ser o Iverson. Usava cabelo grande, tranças, imitava a forma de se vestir e as jogadas que ele tentava na quadra. Na época a gente não tinha TV a cabo, não via os jogos dele ao vivo, mas lembro que depois ficava vendo os melhores momentos direto, uma coisa louca mesmo. Eu era tão fissurado no cara que ficava fazendo os desenhos dele. Tinha uma pasta de desenhos bem legal, mas infelizmente eu perdi tudo. Sempre admirei muito ele, principalmente pelo fato de que a sua altura (1,83m) nunca o impediu de nada".
Aos 9 anos ele, que hoje em dia vê seu irmão mais novo João de Paula também iniciando sua trajetória no basquete, foi para São Bernardo jogar para a técnica Monique Poles, responsável por toda iniciação de Georginho na modalidade (jogou dos 9 aos 15 anos). Há quatro temporadas foi para o Pinheiros, onde conheceu uma estrutura grandiosa e que lhe permitiu crescer profissional, pessoal e fisicamente. Ganhou visibilidade no cenário nacional e internacional com a (ótima) Liga de Desenvolvimento de Basquete, a LDB, torneio de basquete Sub-22 que revela atletas aos borbotões e que é responsável por 43 % da mão de obra do NBB, principal campeonato masculino do país.
Campeão da LDB de 2015 já como armador titular da equipe, George teve um pouco mais de tempo de quadra na temporada passada pelo time pinheirense mas queria mais. Trocou de clube, ganhou espaço, cresceu seus números (11,3 pontos, 4,1 rebotes e 4,4 assistências de média em seu primeiro campeonato profissional como líder e titular de uma equipe), jogou o All-Star Game do NBB em 2017 e o barulho em torno do seu nome aumentou. Os jogos do Paulistano são lotados de olheiros da NBA e vira e mexe seu nome é ligado a Draft e franquias do basquete norte-americano. Nada que incomode a cabeça do garoto de 20 anos.
Ale da Costa / Portrait
"No começo eu me assustei bastante. As coisas foram acontecendo muito rápido, todo mundo falava e eu meio que ficava perdido, assustado. Era tudo muito novo pra mim. Hoje já entendo mais como tudo funciona, estou mais maduro e tento não ligar para nada que eu não possa controlar. Eu só posso jogar basquete, melhorar como atleta e pessoa e ajudar meu time a conquistar vitórias. É o que posso fazer e preciso estar focado nisso. Basquete é a minha vida, tenho muito a evoluir e não sinto realmente essa pressão de NBA, não. Sigo trabalhando e treinando forte como sempre fiz. Essa especulação, previsões, não mexem comigo", responde Georginho, que esquiva-se quando perguntado sobre qual seria, em sua opinião, o próximo passo ideal em sua carreira: "Ainda tem muita coisa pra acontecer nessa temporada. Tudo depende de como eu terminarei o campeonato. Vamos ver como eu vou me sentir para entrar ou não no Draft. Aí tomamos, eu, minha família e meus agentes a decisão final sobre isso".
"A parte de intensidade do jogo a gente sempre pode melhorar. É o principal pra mim e me cobro muito neste sentido inclusive. Jogar bem depois do pick and roll é algo que eu preciso melhorar bastante também. E, claro, ter um arremesso melhor, defesa, leitura de jogo. Quero ser o melhor armador que eu puder ser", finaliza o garoto, que começou a fazer inglês recentemente, que adora andar com seus quatro cachorros e que tem a pesca como hobby.
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