Gostaria muito de começar o texto sobre o Kings falando que a equipe entra em uma nova Era. Desculpem, mas não dá pra dizer nada disso. O Sacramento continua sendo a grande "Casa da Mãe Joana" da NBA. Com a gestão de basquete de difícil compreensão exercida por Vlade Divac, a quem entrevistei recentemente no Rio de Janeiro, com uma estrela totalmente alucinada como DeMarcus Cousins, com um elenco totalmente desbalanceado, é muito complicado crer que a equipe volte ao playoff depois de dez anos (a última vez foi justamente na temporada 2005/2006).
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Analisando o elenco montado por Vlade Divac você entende exatamente por que será bem difícil a vida do técnico David Joerger, recém-contratado pela franquia junto ao Memphis Grizzlies. De Joerger falarei adiante.
Na armação temos como contratações o errático porém experiente Jordan Farmar, aquisição que anunciou a sua chegada ao time com uma foto de sua melhor atuação com a camisa do maior rival, o Lakers, diante do… Sacramento, e o maluco-beleza Ty Lawson, que depois de micos e micos em Denver, Houston e Indiana tenta reencontrar a sua carreira. Ambos têm contratos não garantidos, o mesmo podendo-se dizer de Isaiah Cousins, calouro que não tem parentesco com o pivô do time. O único remanescente da posição 1 é Darren Collison, um cara talentoso mas que nunca foi titular em sua carreira. Provavelmente Collison começa a temporada jogando, mas ele tem chance de ser suspenso por ter se envolvido em uma briga doméstica no começo do mês. O campeonato do Kings não começou e já tem crise interna pra resolver, né?
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As alas até que estão bem preenchidas, mas sem nenhum grandíssimo jogador. Chegaram Matt Barnes, polêmico toda vida, e Arron Afflalo, que deve ser o titular na ala-armação, para dar uma melhorada na marcação de perímetro. Também vieram o regular Garrett Temple, que fez boa temporada passada com o Wizards, e o calouro Malachi Richardson. Permanecem por lá Rudy Gay (será trocado rapidamente como se especula ou não?), Ben McLemore, que está indo para seu quarto ano na liga sem ter engrenado ainda, e Omri Casspi, ala israelense que teve 11,3 pontos em 2015/2016. Perguntinha básica: além de Gay, quem daí consegue criar bem o seu próprio arremesso? Afflalo, Barnes, Casspi e McLemore nunca foram conhecidos por isso. Como o Kings conseguirá pontuar de longe da cesta?
No garrafão as coisas ficam ainda mais incompreensíveis. Willie Cauley-Stein (foto) foi testado junto com DeMarcus Cousins em alguns momentos da temporada passada, mas coexistir a dupla do então calouro com a estrela da companhia não rolou. São dois gigantes de mais de 2,10m precisando de espaço perto da cesta, sem tanta mobilidade assim e invariavelmente com Cousins convergindo demais para o aro e dificultando a vida de Stein. Pensando nisso, o que fez Vlade Divac nas férias? Trouxe mais pivô! E olha que Divac teve chance de dar uma arejada na ala-pivô. Com o oitavo pick do Draft deste ano ele selecionou Marquese Chriss, da Universidade de Washington e considerado um dos mais promissores da turma de 2016. O que aconteceu minutos depois? O Sacramento trocou Chriss para o pelo pivô grego Georgios Papagiannis, de apenas 19 anos e dono da média de 6,5 pontos na Liga Grega em 2015/2016. Estão no elenco ainda Kosta Koufos, o haitiano Skal Labissiere, da Universidade de Kentucky, e o Anthony Tolliver, veterano de 31 anos.
Dá pra entender quão dura será a vida de David Joerger no Sacramento? Encarar o Kings parece ser uma tarefa dura demais para ele ou qualquer ser humano deste planeta. Não só porque o elenco, como demonstrei acima, é desbalanceado, indecifrável, sem boas opções, mas porque acima de tudo existe um clima de que a cada cinco minutos algum desastre irá acontecer. Controlar a ansiedade do dono do time, o milionário Vivek Ranadivé, e de um já pressionado Vlade Divac é tão ou mais importante que tentar manter a paz no vestiário. A pressão do Kings, sobretudo nos últimos anos, não vem somente dos jogadores, mas principalmente de fora (da diretoria) para os atletas. E isso atrapalha muito. O elenco não entende bem os rumos da organização, pensam sempre que serão trocados e por mais que exista talento no grupo qualquer pequena série de derrotas é a fagulha para acender a chama do desespero. Decididamente deve ser fácil ser treinador em Sacramento. George Karl, o antecessor de Joerger, que o diga.
É óbvio que falar do Sacramento sem citar DeMarcus Cousins não é apropriado, né? Cousins é disparado o melhor jogador do time, está entre os cinco melhores pivôs de toda a NBA e poderia facilmente chegar a média de 30 pontos por jogo se tivesse um mínimo de juízo na cabeça. Acompanhei Boogie o máximo que consegui nos jogos e treinos dos EUA no Rio de Janeiro durante a Olimpíada, deu pra ver o desespero da comissão técnica e de seus companheiros em fazer com que ele se sentisse o mais confortável possível.
Nada disso rolou, e Cousins mal ficava em quadra na equipe de Coach K. Havia momentos que Mike Krzyzewski inclusive saía da beira de quadra durante as partidas, se ajoelhava diante do atleta, falava calmamente e retornava o rapaz ao jogo. O que acontecia? Dava dois, três minutos, Cousins cometia faltas seguidas, era retirado novamente, colocava uma toalha na cabeça e Krzyzewski balançava a cabeça. Se Coach K não foi capaz colocar o cara na linha, será que alguém consegue?
Basquete ninguém duvida que DeMarcus Cousins tenha, mas o rapaz que faz questão de parecer ser um doidão (ele tuitou na noite do Draft o famoso "D's me dê força", em uma crítica DIRETA e PÚBLICA à direção da franquia), já tem 26 anos, o tempo está passando, ele não é mais criança e ainda por cima o ambiente em Sacramento é convidativo para quem quer ser "rebelde a vida toda", desperdiçando a carreira. Desde que chegou ao time, em 2010/2011, Joerger será o seu sétimo técnico. Confesso que gostaria de ver: 1) Como Cousins jogaria em uma franquia organizada como o Spurs? 2) Qual seria a real performance do camisa 15 no Kings caso mantivesse a cabeça no lugar por um campeonato completo?. A segunda parte ainda pode acontecer, embora pareça irreal. A primeira depende muito da segunda. Caso não se emende, sabe lá o que o time fará com o atleta cujo contrato termina em 2017/2018.
A Casa da Mãe Joana da NBA ainda aguarda por um síndico que transmita paz e tranquilidade aos condôminos.
Campanha em 2015/2016: 33-49
Projeção para 2016/2017: Fora dos Playoffs (entre 33 e 38 vitórias).
Olho em: DeMarcus Cousins