Quase ninguém sabe, quase ninguém vê, quase nada é feito em termos de ação social e/ou de relacionamento com o público (nem Media Day, nem Facebook Live, nem fotos novas, nem informações dos uniformes recentemente lançados, nem promoções nas redes sociais…), mas as seleções brasileiras adultas estão treinando para a Olimpíada do Rio de Janeiro (a própria foto do site demonstra isso – creio que seja do Mundial de 2014 na Espanha…). Vão ficar enclausuradas em hotéis, a população não saberá de nada e terá contato com a modalidade e seus ídolos apenas a partir do dia 6 de agosto, quando começarão as partidas nas Arenas da Cidade Maravilhosa.
Seria cômico se não fosse trágico e se parasse por aí. Mas isso não é tudo. Na verdade, não é nada perto dos problemas que a Confederação Brasileira está vivendo a um mês da Olimpíada do Rio de Janeiro. Vamos lá:
1) Totalmente esfacelada financeiramente, a entidade máxima não tinha dinheiro para as passagens das duas seleções brasileiras Sub-18 que participarão de suas respectivas Copas Américas em Valdivia, no Chile, lutando por uma das quatro vagas nos Mundiais Sub-19 de 2017 (meninas entre 13 e 17 de julho; rapazes entre 19 e 23 de julho). Havia, inclusive, o risco do Brasil não levar seus times nacionais, mas aí entrou em cena mais uma vez a Liga Nacional de Basquete para garantir, na sexta-feira à tarde (8 de julho), a participação dos times nacionais (responsabilidade da CBB, né…) nos torneios internacionais de base deste ano.
O blog apurou que a LNB, de forma bem elegante e pensando no bem maior da modalidade, antecipou (de agosto para julho) um pagamento à CBB referente ao percentual de contratos publicitários que ela, LNB, deve pagar à CBB anualmente. A própria LNB fez a cotação e a compra das passagens para os atletas das seleções Sub-18 masculina e feminina do Brasil. Isso tudo no final da sexta-feira para competições que começam a partir de quarta-feira (13/07). Insisto: se a Liga não tivesse entrado em campo as seleções brasileiras NÃO jogariam a Copa América Sub-18.
2) Não para por aí. Depois de treinar por menos de um mês para o Mundial Sub-17 em que terminou na décima-terceira posição com a Seleção Sub-17 Feminina (a masculina sequer se classificou para o seu…) a CBB decidiu inovar na preparação das meninas para a Copa América Sub-18. Após convocar as meninas no dia 12 de junho (link aqui) para uma "preparação" de 10 dias (2 a 11 de julho), uma Nota Oficial do dia 29 de junho informou a desconvocação das atletas (ao lado e no link aqui). Havia (de novo reitero o ponto) o risco do país não jogar a Copa América. Após a ação da Liga Nacional de Basquete, as 12 meninas convocadas foram informadas na sexta-feira à tarde (8 de julho) que deveriam se apresentar no Aeroporto amanhã à noite (10 de julho) para jogar uma Copa América sem NENHUM dia de treinamento antes da competição. Do alto de sua (falta) de transparência a Confederação nada informa em seu site (nem nas Notas Oficiais). A convocação e informações das passagens foram feitos diretamente por e-mail às atletas. Qual o elenco que irá disputar o evento? Até agora ninguém efetivamente sabe…
3) Na seleção masculina Sub-18 o mico é tão grande quanto. Não havia sequer previsão de convocação no site da CBB (e até agora não há nem uma Nota Oficial a respeito). Desesperada por não ter tempo de treinar, a entidade máxima foi literalmente para o desespero. Ligou há cerca de duas semanas para o Esporte Clube Pinheiros, um dos melhores formadores de atletas do país, e perguntou se o clube poderia levar seu time INTEIRO da categoria para a Copa América. A Confederação não teria, portanto custo algum de preparação, arcando apenas com as passagens aéreas (que viriam da Liga Nacional, como agora sabemos…).
O Pinheiros aceitou, e em uma atitude louvável do técnico David informou que não seria justo o clube levar todo o seu elenco para a competição. Cinco atletas de outras equipes foram incorporados aos treinamentos desde sexta-feira passada (Yago, do Palmeiras, Gabriel e Michael, de Bauru, João Vitor, do Flamengo, e Victor, do Brasília) e estão alojados na República que o clube de São Paulo disponibiliza para seus jogadores da base. Treinarão por uma semana em São Paulo, dormirão na República do Pinheiros, viajarão para o Chile no próximo domingo com passagens compradas pela Liga Nacional. Ou seja: um time nacional sem NENHUMA ação da CBB. Genial…
4) Pensam que acabou? Também do alto de sua (falta de) transparência, a CBB não publicou nada em seu site, mas distribuiu às Federações locais uma Nota Oficial (ao lado) informando o cancelamento de TODOS os Brasileiros de Base (Sub-15 e Sub-17) que ela ainda organizava (o Sub-19 não é realizado há anos), dando a elas, Federações, a opção de realizar os torneios caso queiram (ou possam, em termos financeiros). Se as Federações não quiserem, não haverá torneio de base em 2016, o tal ano olímpico. O blog apurou que a Confederação Brasileira esperava realizar os Brasileiros de Base com verbas de Lei de Incentivo, mas não conseguiu apresentar as Certidões Negativas necessárias para isso.
Para quem acompanha este blog não é nenhuma novidade, pois, como demonstrado no Balanço Financeiro deste ano (e nos dos últimos anos também…), além da monstruosa dívida (R$ 17 milhões), a entidade máxima deve, como mostrou o Professor Jorge Eduardo Scarpin com brilhantismo, quase R$ 4 milhões em tributos à União (INSS e Imposto de Renda principalmente), um aumento de quase 50% em relação a 2014. Sem certidão negativa, a entidade presidida por Carlos Nunes não conseguiu a liberação para captar verbas para os torneios de base. A propósito, pergunto aqui algo que já fiz neste blog: como o Ministério do Esporte derramou mais de R$ 10 milhões em uma entidade que deve tanto em impostos ao Governo Federal? Eis uma resposta que gostaria de ter.
Deixa estar que é pra lá de interessante que há menos de 15 dias o técnico da seleção brasileira adulta masculina, o Senhor Rubén Magnano, tenha reclamado, em entrevista recente à Folha de São Paulo, do trabalho de base dos clubes e da quantidade de equipes fazendo basquete no país. Uma parte da imprensa (reverente toda vida…) ainda cai no discurso (meio vazio, meio alienante) de que os problemas do esporte deste país estão nas agremiações que ainda TEIMAM (reforço este termo) em investir na modalidade.
Se tivesse uma visão mais abrangente, ou até mesmo real da situação, Magnano veria que a sua empregadora, a CBB, cancelou TODOS os Brasileiros de Base para 2016 (o ano olímpico, né?), foi para um Mundial Feminino Sub-17 com menos de 20 dias de treinamento, não levou a equipe masculina ao Mundial Masculino da categoria por não ter se classificado, não tinha um mísero centavo para viajar com as seleções Sub-18, deve mais de R$ 17 milhões e muito mais.
Deveríamos, neste momento (faltando menos de 30 dias para a Olimpíada), estar falando de situações de quadra, de preparação, de aspectos táticos e técnicos do basquete, mas a CBB encontra-se em um caos absurdo, levando a modalidade a uma deprimente situação. E ignorar isso não é o melhor a se fazer. O ideal, mesmo, era que atletas (cadê a Associação?), técnicos (onde estão?), clubes (vão ficar calados?), imprensa (quem mais?) e todos os que gostam do basquete se manifestassem a respeito, pois a situação chegou a um ponto insustentável e de difícil, em um curto prazo, resolução.
Ah, e quer saber mais? A Confederação Brasileira da qual Magnano, Vanderlei, Nunes e afins fazem parte é aquela que, por causa de um calote monstruoso em relação ao convite do Mundial Masculino de 2014, arriscou muito deixar o Brasil, país sede, fora dos Jogos Olímpicos de 2016.
Onde é mesmo que está o problema maior (embora não o único) da modalidade por aqui?