Vice-Presidente do Flamengo fala do tetra do NBB e do basquete brasileiro
Fábio Balassiano
17/06/2016 13h00
BALA NA CESTA: Foi a conquista mais difícil de NBB desde que você passou a ser vice-presidente de esportes olímpicos, certo?
PÓVOA: O Neto fica no Flamengo. Que fique claro: ganhando ou perdendo o NBB ele ficaria no clube. Esta decisão já estava tomada e era muito clara para todos nós. Em momento algum pensamos no contrário. Só não anunciamos antes porque o playoff de 2016 do NBB foi insano, com muitos jogos e muita tensão. Mas, sim, o contrato dele está renovado por mais um ano. Faltam apenas detalhes burocráticos para colocarmos tudo no papel, mas já podemos considerar que ele fica, sim, no clube por outra temporada. Outra coisa que é importante dizer. Não só o José Neto tem a confiança total da diretoria, como toda a comissão técnica também. É um grupo muito trabalhador e faremos questão que todos fiquem. Se você reparar bem, nosso grupo quase não tem lesão. Já reparou nisso? Houve um problema no Marcelinho, de ligamento, que é algo quase que incontrolável, e só. Raramente jogador do Flamengo se machuca. Muscular, quase nada. E o time sempre chega muito bem aos finais de temporada em termos físicos. Tem um fator também que é importante. Pela primeira vez a gente conseguiu, desde que assumimos, ter uma temporada tranquila em termos de salário. Depois de três anos conseguimos arrumar a casa e chegarmos bem. Ganhar também te deixa em alguns apuros, porque ganhando muito você precisa pagar muitos prêmios (risos). É uma alegria, mas uma preocupação também. Em 2016 fechamos com o título e com tudo zerado em termos financeiros. Ou seja: sem deixar nada pendente com atletas ou comissão técnica. Isso é muito legal. O Neto dá a palavra final nas contratações, mas o Gerente de Esportes Olímpicos do Flamengo, o Marcelo Vido, foi um atleta olímpico de basquete e entende das coisas. Eu também joguei. A gente conversa muito e as decisões são em conjunto.
PÓVOA: Primeira coisa que precisa ficar clara: a Liga Nacional é um oásis em termos de gestão esportiva no Brasil. Oásis. Não tenho medo nenhum em falar isso. Note a palavra: oásis. É a única verdadeira, independente de Confederação. Isso é um mérito danado, isso é bom demais. Segundo ponto: a Liga cresceu tanto, mas cresceu tanto de anos pra cá, que passou da hora de ela (Liga) crescer em termos de estrutura. A arbitragem, por exemplo, ela não evoluiu como deveria. O que falta à Liga neste momento, principalmente depois da parceria com a NBA, é que ela precisa investir em infraestrutura, em qualificação de profissionais, em ter ótimos gestores. O Flamengo mesmo não é perfeito…
PÓVOA: Não. Eu só soltei aquela nota porque a imprensa toda veio em cima do Flamengo como se a gente é que tivesse causado o transtorno que houve em Marília no jogo 4. O erro foi o seguinte: o Ricardo Machado (fisioterapeuta) não tinha que ter ido pra imprensa na terça-feira mostrar que tinha levado choque elétrico, essas coisas. Ali, naquele momento, a imprensa toda veio em cima da gente dizendo "ih, de novo", essas coisas. Aí pensei em soltarmos algumas coisas. Mas queria te dizer algo que você talvez não saiba. Houve episódios em Mogi mais graves que em Marília. Quebraram o carro dos árbitros, você sabia? Teve julgamento na terça-feira antes do jogo 5. Foi todo mundo absolvido, menos eu, acredita nisso? Por reclamação de jogo. A situação de Bauru e Flamengo foi mal administrada por todos os lados. Do lado do Flamengo inclusive. A imprensa também erra. E você sabe que leio seu blog. Na sua análise depois do jogo 3 você disse que o campeonato foi manchado por causa de uma bola. Quem conhece o basquete, e você vive nisso há muito tempo, sabe que um jogo de basquete não se decide em uma bola. Aquilo colocou em dúvida a vitória do Flamengo.
PÓVOA: Perfeito. Houve, houve um erro da arbitragem. Isso se criou um clima pro jogo 4 inacreditável. Era uma galera xingando a gente como se o Flamengo tivesse armado pra ser campeão. O episódio que aconteceu com o Ricardo, na verdade, foi uma consequência deste clima ruim que foi criado. Os torcedores de Bauru estavam exaltados desde o começo.
PÓVOA: A nota não é minha. É do clube.
BNC: Póvoa, eu te conheço bem e recebo seus e-mails. Aquele é um texto seu, mas publicado no site do Flamengo…
PÓVOA: (risos) Mas nada do que saia no site oficial não possui a chancela da diretoria de comunicação. O que aconteceu foi: o clube se posicionou para evitar que a imprensa viesse, toda, em cima da agremiação. Bauru saiu do jogo 3 aqui e não falou com os jornalistas. Um absurdo completo. A torcida do Flamengo foi agredida em Mogi, teve um ônibus quebrado, e nada aconteceu em termos de julgamento e punição. Acho que a Liga peca demais nisso. Aí a gente vai pra Marília, um profissional nosso leva um choque. Nada acontece. É até meio paradoxal isso. A torcida do Flamengo tem uma fama de doida, de baderneira, mas você já viu alguma confusão causada pela nossa torcida em jogos de basquete?
PÓVOA: A torcida do Flamengo aprendeu a torcer pelo basquete. Apanhamos em Mogi, apanhamos em Marília e aqui no Rio de Janeiro tudo acontece na maior paz como deve ser. Nós tivemos um posicionamento porque houve uma série de diz que me diz e o Flamengo não tinha falado ainda. No jogo 4 em Mogi poderíamos ter feito um barulho grande. E não fizemos nada. Fizemos, sim, uma nota de protesto para a liga, mas ficou apenas interna, nada disso saiu pra imprensa. Agora, acontece o segundo episódio, o Flamengo errou ao ir pra imprensa, e achei por bem me posicionar.
PÓVOA: Minimamente. Quando você ganha uma, duas, três, quatro vezes seguidas se cria um clima tão bobo e falam-se coisas tão bobas que é chato demais ouvir. Cara, Mogi poderia ter ganho da gente na quadra tranquilamente este ano. Estávamos a dois minutos de sermos eliminados por eles tanto no jogo 4 em São Paulo quanto no jogo 5 no Rio de Janeiro. E não seria nada de outro mundo. Seria totalmente justo. Bauru a mesma coisa. A diferença foi muito menor este ano do que nos anos anteriores. Mas concordo com você. É a hora de baixar a poeira, sentar e conversarmos todos pelo bem do basquete. Continuo afirmando: a Liga Nacional é um oásis dentro do esporte brasileiro. Tem tudo pra andar, caminhar mais. A gente tem que usar mais a NBA, esta parceria. Cada vez mais. E não só a Liga como também os clubes. A gente precisa sugar mais. Não dá pra termos a mesma estrutura da liga que a gente tinha anos atrás no atual estágio que temos no esporte. Muita coisa mudou. A estrutura do NBB1 é muito próxima da do NBB8 que temos atualmente. Agora precisa subir, elevar o nível. Acho que precisa sentar, contratar três, quatro profissionais de altíssimo nível para elevar ainda mais o status da modalidade, valorizar os ótimos que já temos. Creio que devemos aumentar o escopo que já temos em marketing, por exemplo. A Liga é aquele bebê que nasceu, fez sucesso e está na hora de crescer. E tem tudo pra isso.
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