Sergio Domenici lembra momentos emocionantes e projeta futuro do NBB
Fábio Balassiano
30/03/2016 01h58
Você leu aqui a parte I da entrevista
SERGIO DOMENICI: Eu fui o primeiro funcionário, e pouca gente sabe que os seis primeiros meses o escritório da Liga Nacional de Basquete foi na minha sala, na minha casa em Belo Horizonte. Ou seja: era eu trabalhando sozinho até a LNB ter uma estrutura em São Paulo. Já tinham acertado com o Antonio Carlos Affini para ser o Coordenador de Arbitragem, mas eu fui o primeiro funcionário mesmo.
BNC: Aí, lá em 2008, eram você, Kouros, João Fernando Rossi, Cassio Roque e Rubens Calixto que arquitetaram o que estamos vendo agora. O primeiro jogo foi em 28 de janeiro de 2009. Quando vocês olham lá pra trás e veem tudo o que já conquistaram qual é a sensação que fica? Sei que você não gostam de falar de si mesmo, mas queria ouvir pessoalmente do Sergio qual é o sentimento que se fica quando nota-se um produto tão bem estruturado sete anos depois.
BNC: Tá bom, Sérgio, mas você não me responde. Eu quero saber o seu sentimento. Quantos anos tem seu filho?
SERGIO: Oito anos.
SERGIO: Assim eu fico meio emotivo. Algumas coisas me emocionaram muito. A final do NBB1 me emocionou demais. Foi um negócio de outro mundo ver aquela HSBC Arena lotada na final contra Brasília (Neste momento Sérgio se emociona um pouco e pede para parar a gravação por alguns segundos). O Flamengo campeão mundial em 2014. Nós pegamos o basquete e não ganhávamos de ninguém internacionalmente. Ninguém. Não ganhava nada. Sete anos depois nós fomos campeões de tudo. Não é que nós voltamos a ganhar um Sul-Americano. Fomos três vezes seguidas campeões sul-americanos, das Américas e campeões mundiais. Então quando vi o Flamengo ganhar do campeão da Euroliga em um ginásio absolutamente lotado foi demais. Um time, como era o Maccabi Tel-Aviv, de 35 milhões de euros de orçamento anual. Isso é muito significativo. Perdemos agora na Liga das Américas. OK, justo, faz parte do esporte e não se ganha sempre. Foi uma festa legal lá ne Venezuela, mas fomos segundo, terceiro, quarto e quinto neste Liga das Américas. É relevante, não? A evolução foi muito além do que eu esperava. Tem a entrada da NBA também que foi emocionante. Quando eles demonstraram o interesse houve toda a parte jurídica, de documentos, de envio de materiais. Eles nos pediram mais de 100 itens para fazer uma auditoria. E não são itens pequenos. Você conhece empresas americanas, e o volume de detalhes era absurdo, era surreal como tem que ser. E em três dias nós enviamos tudo em inglês para eles. E fomos aprovados. Somos a única entidade fora dos EUA que a NBA fez uma parceria. Não tem como você não se emocionar com isso. Acho que o sucesso da Liga é resultado da união dos clubes, da sorte das nossas lideranças serem as que foram, de ter a ética em primeiro lugar e de termos nossos objetivos muito claros para todos da Liga.
SERGIO: No planejamento estratégico há a massificação da modalidade. E que clubes como Corinthians e Vasco contribuiriam enormemente pra isso não há a menor dúvida. Mas antes a gente tem que entender se o projeto que esses clubes vão apresentar têm consistência. Vamos pegar o exemplo do Corinthians que você citou. É um clube que tem história no basquete há anos. É um clube que tem até hoje todas as categorias de base do basquete até hoje. O profissional seria apenas a extensão. Pelo que temos acompanhado, eles estão se cercando para fazer uma possível entrada no basquete profissional da melhor maneira possível. O Vasco é a mesma coisa. Tem história e jamais deixou de fazer as divisões de base. Essas são equipes que nos interessam. O que não podemos mais é ter o camarada que cai de paraquedas. Entra em um ano, não sabe se estará no outro, essas coisas. O projeto é mais importante do que ter a camisa.
SERGIO: A Liga Feminina está no processo de descoberta. Eles precisam ter uma autonomia maior para aprender a caminhar com as próprias pernas. Demos uma contribuição importante pra eles de mostrar como foi o nosso início. Não sei se você sabe, mas o campeonato teria apenas quatro clubes e passou a ter seis. O próximo terá oito. A Caixa vai ser determinante para o sucesso da LBF, mas sei que eles vão ter alguns problemas naturais. Vão ter que descobrir as melhores soluções entre erros e acertos qual é o caminho deles. Não sei se irão continuar na estrutura da LNB. Se continuar será ótimo. Se não, vão achar o caminho deles. Tenho que respeitar a decisão deles de não estar em Mogi para o Jogo das Estrelas. Hoje com o patrocínio da Caixa dá pra dizer que eles teriam condições, mas não sou eu que pago as contas dos times. Eles acharam que ficaria caro colocar as meninas aqui. Na minha opinião era melhor que eles estivessem no Jogo das Estrelas. É a coisa da Gestalt. O NBB vale 10. A LBF, 10. Os dois juntos, 30. Creio que o resultado seria melhor que todos estivessem juntos.
BNC: Quando veremos uma loja online em que é possível comprar produtos dos clubes do NBB na internet?
SERGIO: Não sei exatamente, mas está no nosso radar. Nós estamos conversando com Netshoes, com outras empresas de comércio eletrônico também. Mas isso vem um outro trabalho junto. Não adianta eu ter uma loja online se eu não tiver um departamento de licenciamento atuante e com os produtos. Não resolve muito. Este é um próximo passo da área comercial. Não é no curto prazo, não.
SERGIO: No marketing esportivo brasileiro há um amadurecimento das entidades que fazem o esporte e também das empresas que patrocinam o esporte. Se o patrocinador não entender que essa parte de ativação deve ser feita, talvez daqui a um ano ele não renove o patrocínio porque acha que não valeu a pena. Eu vejo o sorriso no semblante do pessoal da Caixa quando vê uma ação social e nota as crianças todas vestidas de azul. A Adidas mesmo, olha lá fora na quadra de brincadeira e todos vestindo os tênis da Adidas. Esse amadurecimento é importante para as duas partes. Casam-se as coisas.
SERGIO: Acho que estamos vivendo um momento bacana no basquete. Estamos vivendo uma sinergia muito grande. O esporte brasileiro perdeu muito porque só apareciam notícias ruins. O Estadão tinha um caderno inteiro dedicado a esportes. Não tem mais. A Folha de São Paulo era um caderno de esportes imenso. Hoje não tem mais. A mídia esportiva vai diminuindo também por causa de notícias não tão boas. E temos coisas legais para contar. Temos, por exemplo, uma Olimpíada no país. O basquete também está indo bem e queremos trazer o maior número de pessoas para o nosso lado, para fazer parte disso. Temos a união dos clubes, os atletas estão entendendo isso, os patrocinadores estão chegando. Que este momento perdure, e que a gente trabalhe cada vez mais para evoluir o basquete, porque sabemos que tem muita coisa ainda pra fazer.
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