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Bala na Cesta

Gerente-Executivo, Sergio Domenici fala do sucesso do NBB

Fábio Balassiano

29/03/2016 05h00

dome1Criada em 2008, a Liga Nacional de Basquete tem em Sergio Domeneci o seu primeiro funcionário. Gerente Executivo desde que o NBB, que tem hoje a última rodada da fase de classificação , nasceu, ele viveu de tudo um pouco desde o surgimento de um novo modelo de fazer campeonato de basquete no Brasil. Da reconstrução, passando pelas conquistas internacionais dos clubes do país, a assinatura do contrato com a NBA e a recente chegada de três patrocinadores fortes, Sergio comandou e esteve presente em tudo. O blog conversou com ele sobre tudo isso em um papo franco, aberto e bastante revelador. Como o conteúdo ficou extenso, vou dividir em duas partes porque creio que tudo seja bastante relevante.

nbb25BALA NA CESTA: Nas últimas semanas tivemos grandes notícias, como as chegadas da Caixa, Avianca e Sky como patrocinadores, e também com Spalding, Adidas e Renault no Jogo das Estrelas. Queria que você falasse um pouco do processo para a obtenção desses patrocínios em primeiro lugar.
SERGIO DOMENICI: Isso tudo se traduz neste momento por uma coincidência de data porque esse trabalho foi iniciado há mais de um ano. A questão de venda não é um trabalho de curto prazo. Existe um trabalho de identificação de anunciantes, estratégia de abordagem, fazer com que as pessoas conheçam o produto e o fechamento do acordo. As tratativas com a Caixa já vem de muito tempo, com a Sky a mesma coisa, e ainda bem que conseguimos anunciar todos praticamente ao mesmo tempo.

nbb4BNC: O que a Liga espera com esses aportes? A expectativa de todos é que o NBB mude, assim, de patamar. E você sabe que a LNB será mais cobrada a partir de agora, né?
SERGIO: Nós nunca fomos menos cobrados. Quando acabou a final do NBB1, e você estava lá, as pessoas vinham nos dar parabéns, porque foi muito bacana aquela HSBC Arena lotada. Quanto mais me davam parabéns, maior era o elefante que pousava nos nossos ombros. Essa cobrança vem desde sempre, o que é uma coisa positiva. O advento da Liga gerou expectativa muito grande nas pessoas. A vinda desses patrocinadores significa uma segurança que continuaremos a fazer o melhor trabalho possível para os clubes. Não há nada na Liga que não seja feito para os clubes. Se o produto hoje é melhor, é por causa de um trabalho conjunto entre o que a Liga conseguiu transformar o produto e do que os clubes conseguiram demonstrar dentro das quadras. Essa coisa do repasse aos clubes a gente sempre procura fazer, ajudá-los, a questão da arbitragem é um exemplo, mas, creia, não é isso o principal. O principal é fazer uma competição que justifique aos clubes terem um bom produto para ser vendido. É a gente oferecer televisão, uma grande exposição, um produto de qualidade para que eles (clubes) tenham também o que oferecer os seus patrocinadores. Não pode ser a Liga a provedora de tudo. A Liga tem que ser a provedora de uma metodologia que os clubes têm para se profissionalizarem ao máximo. Nos próximos meses vamos lançar um novo site, já com uma tecnologia mais responsiva e integrará as nossas mídias sociais. Assim como nós, os clubes precisam se profissionalizar para ter a melhor entrega, para se tornarem autossustentáveis. Se não mudar na raiz, não mudará nada.

Sergio1BNC: Você falou sobre o clube se auto-sustentar, e o Kouros Modadjemi, Presidente de Honra da Liga Nacional, me disse que a Liga vai promover espécies de clínicas de gestão para os clubes. É isso mesmo? Você poderia explicar melhor como isso vai funcionar?
SERGIO: Nós finalizamos o nosso processo de planejamento estratégico para a Liga Nacional de Basquete faz duas semanas. Dentro desse planejamento nós temos, sem querer ser redundante, alguns objetivos estratégicos. Em um nível primário, ou inicial, nós temos a melhoria dos processos internos da liga, de gestão e de qualificação das pessoas. Em um segundo nível, os processos administrativos da Liga e que visam a melhorar o produto e também a interação com o público e a geração de recursos. No terceiro nível, vem o que você falou, ou seja, a capacitação dos clubes. Vem desde a parte de gestores e técnicos estarem de acordo com o modelo de gestão que achamos pertinente. Veremos as melhores práticas existentes e iremos aplicar isso. Faremos essa implementação, o acompanhamento, o incentivo e veremos também a parte promocional, a de comunicação e marketing dos clubes. Nessa parte do alinhamento dos processos dos clubes é que entra a intervenção da liga com cursos, a própria NBA já abriu as portas para o aprendizado. A primeira coisa, ao meu ver, é chamar os donos e presidentes das franquias e fazê-los entender definitivamente que isso aqui é um negócio. A atividade fim, o jogo, não se encerra nele mesmo. Hoje o que a gente tem no esporte brasileiro de uma forma geral é: montei um bom elenco, contratei uma boa comissão técnica e está tudo certo. Não é verdade. Você precisa ter um departamento de marketing que atue eficazmente em suas diversas atividades. Precisa ter o público como prioridade zero. E não só no ginásio, mas nas redes sociais, o cara que acompanha na televisão e o morador da comunidade. Se a alta diretoria não "comprar" essa ideia, não adianta eu tentar depois implementar isso com os profissionais. Passado esse primeiro momento, vamos identificar quem cuida de comunicação, de marketing, de promoção, de atração de público, de bilheteria, e dando treinamentos para essa galera toda. Vamos trazer o pessoal da NBA para nos ajudar nessa parte de treinamento sem dúvida alguma.

sergio4BNC: Deixa eu te cortar. Quase que 99% dos clubes não possuem estes profissionais que você cita – marketing, comunicação, bilheteria, promoção…
SERGIO: Por isso teremos que fazer um trabalho preliminar de fazer a alta direção dos clubes entender a importância disso. Se essa turma não comprar essa ideia, não adianta que não haverá o trabalho seguinte que você cita. Se eu não tiver um "patrocinador interno" que entenda a importância de ter todas essas áreas, não adianta absolutamente nada.

sergio1BNC: E esse primeiro contato com os gestores dos clubes já está acontecendo?
SERGIO: Ainda não. Eu preciso agora, junto com a diretoria da Liga Nacional, fechar algumas estratégias para implementação dos nossos objetivos e também como implementar as metas. Aprovadas essas ações a gente começa. Até o final de abril faremos isso. A implementação das atividades deve ser no começo de maio. A ideia é pegar todos os gestores das franquias e colocar dentro de um hotel, uma sala de reunião, e fazer um trabalho de um final de semana. Depois a gente desdobra para o restante dos funcionários. Com a chegada da NBA as pessoas sabem que precisarão caminhar pra isso.

sergioBNC: No planejamento, qual a prioridade?
SERGIO: Não existe a prioridade zero. Existe a nossa visão, que é ter o basquete como a segunda modalidade mais praticada no Brasil e ser a modalidade no país com o maior reconhecimento. Mas vamos lá. Na minha opinião: é o entendimento de que o que fazemos é um negócio – e isso já faz mudar tudo.

BNC: A Liga depende dos clubes, que por sua vez formam a Liga. É uma relação simbiótica, mas que nem sempre é fácil de administrar, né?
SERGIO: Sim, sem dúvida. Mas uma das coisas que vem fazendo a Liga dar certo foi as associações entenderem que isso é uma coisa só. Que o todo é maior do que as partes isoladas. Uma questão interessante disso: a NBA é uma empresa e como qualquer empresa do mundo visa o lucro. Grande parte das nossas associações são entidades sem fins lucrativos. Isso é interessante, não? E isso vai precisar mudar um pouco. Não creio que teremos tantas dificuldades dos gestores entenderem isso porque são pessoas bem sucedidas com suas empresas e entendem que um modelo de gestão moderno e transformador só trará benefícios.

BNC: Sobre a mais recente Liga das Américas, faltou senso coletivo para trazer o Final Four para o Brasil? Pelo momento que o NBB está vivendo agora seria muito importante ter um Mundial por aqui na abertura da próxima temporada. Porque claramente, e sem tirar os méritos do Guaros de Lara, ter uma final em Barquisimeto influenciou decisivamente no resultado final do torneio.
guaros1SERGIO: Então vou te contar uma coisa que ninguém sabe e não sei se estou autorizado a falar isso. Nenhuma das equipes (Mogi, Flamengo ou Bauru) tinha condição de oferecer os US$ 100 mil que a FIBA Américas exigia para fechar o Final Four. Mais estadia, transporte interno, entre outras coisas. Aí o que aconteceu. Bauru e Flamengo abriram mão de ser sede em função de Mogi, que poderia receber as finais. Os times, na Liga das Américas, têm direito a um prêmio financeiro. O campeão, US$ 50 mil, o vice US$ 30 mil e o terceiro, US$ 15 mil. Os três times abriram mão e, como teríamos no mínimo vice e terceiro, como tivemos, abrimos mão da premiação para oferecer a FIBA. Flamengo e Bauru viriam a Mogi e pagariam sua própria estadia e passagens, cabendo a Mogi fazer o aporte financeiro apenas do Guaros e de toda delegação da FIBA. Eu nunca vi uma união como essa. Fizemos a oferta para a FIBA. Aí o que pesou? A Venezuela já havia feito as duas primeiras etapas – e pagando para a FIBA. Empatou conosco para esta terceira etapa, e a FIBA decidiu por eles.

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