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Um pouco sobre o nível técnico da LDB - Edição 2015

Fábio Balassiano

16/12/2015 01h05

Falei aqui na segunda-feira sobre a conquista do título da LDB pelo Pinheiros e da consolidação de Lucas Dias no cenário nacional como um dos jogadores para ficarmos de olhos bem atentos daqui pra frente. O texto de agora é para falar de maneira mais específica sobre os jogos da fase final da Liga de Desenvolvimento que aconteceram em Belo Horizonte. Quero passar por alguns pontos bem importantes:

1) Vi atentamente os quatro jogos da fase final da LDB, a competição de base mais importante do país (e a xodó do blog!), e obviamente pode ser que o que tenha visto não fale exatamente sobre o que foi o torneio (embora tenha visto os, em teoria, quatro melhores times da temporada). A LDB é ótima, precisa ser exaltada, estimulada, potencializada, mas quando vemos um jogo da base entendemos bem o porquê dos confrontos da categoria adulta estarem no nível (baixo) em que se encontram.

2) Há, sem dúvida alguma, uma molecada muito boa jogando na LDB (tanto é assim que há inúmeros olheiros em todas as suas etapas). Me impressionei, por exemplo, com o Sport-PE, bronze da LDB e dono de um dos melhores trabalhos do Nordeste. De falta de vontade ninguém pode falar da garotada. Todos estão ali dando o melhor, tentando passar da categoria de base para o profissional (e sabemos quão difícil é essa transição). São garotos novos e que buscam espaço e evolução em um torneio que contou com 24 equipes de quase todas as regiões do país.

3) De todo modo, a parte técnica, tática e de fundamentos precisa ser muito repensada por aqui. As duas semifinais, o jogo do bronze e a decisão da LDB mostraram muito bem alguns dos problemas que vemos no basquete brasileiro há no mínimo uma década – sem grande perspectiva de melhora. Quase tudo o que sempre falo por aqui se viu nas quatro pelejas, e o meu medo é que isso não esteja sendo visto/monitorados por técnicos e/ou clubes para futuras correções de rota.

4) Abaixo estão os pontos que mais me chamaram a atenção do ponto de vista negativo:

4.1) Falta "agressividade" para os sistemas ofensivos atacarem a defesa e também para as defesas incomodarem o ataque. A magia do basquete é justamente gerar o "incômodo", o "desconforto" entre as duas, digamos, unidades (defesa e ataque, ataque e defesa) e o que vemos por aqui é justamente o oposto – um jogo muito passivo, muito "distante". Dificilmente temos um "agredindo" o outro. As arbitragens, aliás, contribuem negativamente nisso, marcando falta em todo tipo de contato e a todo instante – um verdadeiro absurdo e que tampouco representa a essência do jogo.

4.2) Quase não há passes no ataque. A maior parte das ações ofensivas se resume a um jogador que escolhe o um-contra-um como estratégia para arremessar, utilizando apenas o bloqueio do pivô para se livrar de seu marcador. O jogo de passes, tão conhecido com o San Antonio Spurs, praticamente inexistiu nas finais da LDB. Me arrisco a dizer que em pouquíssimas ocasiões um ataque trocou mais de 10 passes em uma ação ofensiva. Outro ponto que vale a pena dizer: os armadores ficam MUITO tempo com a bola nas mãos, tornando as ações ofensivas previsíveis demais. Em qualquer nível de basquete isso é ruim.

4.3) Falta MUITA leitura de quadra por parte dos atletas para entender o que deve ser feito com a bola (ou sem ela nas mãos). Como disse acima, os jogadores acham que a única maneira de pontuar é arremessando por cima de seu rival. Quase não há construção de jogada, procura por um arremesso mais livre ou infiltração para uma cesta mais fácil. Outro ponto: normalmente quem está sem a bola se movimenta muito pouco, fazendo com que o atacante com a bola fique literalmente sem muitas opções de passe. Tudo isso estimula (negativamente) jogo de um-contra-um infinito.

4.4) Este aqui é um ponto crônico e é visto também no NBB com extrema regularidade. Quando defesas marcam por zona, os ataques SÓ CHUTAM DE TRÊS PONTOS. Que fique claro: NÃO é só assim que se ataca este tipo de marcação. Esta é uma das maneiras, mas não a ÚNICA. A Argentina, nos jogos do time nacional, cansa de colocar Luis Scola na linha do lance-livre como forma de "matar" a zona rival. Um armador passa para o outro, a bola chega na ala e depois em Scola. De lá, sem marcação, Luifa manda pra cesta com tranquilidade. Assim também mata-se uma marcação por zona (com arremesso mais próximo da tabela e com maior chance de acerto).

4.5) Foram muitos desperdícios de bola (quase um por minuto nos quatro jogos). Isso é muita, muita coisa mesmo. Um pouco mais de cuidado com a bola na mão é recomendável. E tantos erros não são porque as defesas são pesadas, não. Os desperdícios de bola acontecem porque normalmente a aceleração de ritmo é imensa e sem um propósito. Corre-se muito, pensa-se pouco e aí os erros acontecem com facilidade.

Esta é uma análise dura, mas creio que é importante que se tenha em mente os pontos visando a evolução do basquete brasileiro. O básico seria pedir que alguém da Confederação Brasileira tivesse acompanhado TODAS as fases da LDB, gerando relatórios para a entidade máxima fazer um plano de ação para corrigir os problemas. Mas isso, sabemos, é impossível porque a CBB é a menos preocupada em melhorar a modalidade por aqui.

Ficará, como sempre, na mão dos clubes e da Liga Nacional a tentativa de criar mecanismos que solucionem isso tudo (como eles têm tentado fazer de tempos pra cá). A hora, agora, é de sentar e avaliar o que tem dado certo e o que tem dado errado dentro de quadra. Após este diagnóstico recomenda-se que se faça uma imensa reciclagem nas comissões técnicas e, quem sabe, inúmeras clínicas com a garotada. A chance de evoluir é, justamente, buscar os profissionais que representam a excelência do basquete (a parceria com a NBA pode ajudar a chegar nestes caras e em como fazer para que suas ideias sejam trazidas para cá).

A conclusão, como se vê, é muito óbvia: há muito trabalho pela frente para colocarmos tanto LDB quanto NBB como produtos ótimos em termos técnicos. A grande vantagem é que vontade para acertar a gente sabe que a Liga Nacional tem de sobra.

Viu os jogos da LDB? Concorda comigo? Comente aí!

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