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A inexplicável saída de Guerrinha de Bauru

Fábio Balassiano

20/10/2015 01h07

Bauru está tendo um começo de temporada pra lá de agitado. Iniciou com o Mundial contra o Real Madrid, teve eliminação decretada por uma canetada da terrível Federação Paulista no Estadual e viajou para dois amistosos na NBA.

Seria muita coisa para menos de dois meses, né? Mas o time decidiu colocar algo mais na equação: demitiu, na última sexta-feira, o técnico Jorge Guerra, o Guerrinha, há sete anos no comando da equipe e o único (até então) a comandar uma mesma equipe em todas as edições do NBB. Ontem à tarde foi confirmada a chegada de Demétrius, ex-Minas, para o comando técnico (dois anos de contrato).

Li tudo atentamente, principalmente trechos da entrevista coletiva de Guerrinha (mais aqui no Canhota 10), conversei com dirigentes (de Bauru e de outras agremiações), atletas e confesso não entender o movimento feito pela equipe.

E por um simples motivo: até onde se sabe (e é exatamente o que eu sei também), o motivo da mudança de comando foi simplesmente porque a diretoria queria uma "nova filosofia". Aí vamos lá:

1) Acho Guerrinha um bom técnico (para o cenário nacional ele está seguramente entre os melhores – e há tempos). É óbvio que seu trabalho merece boas doses de críticas (eu mesmo as faço constantemente como deve ser). A forma como Bauru atuou principalmente contra o Washington (abusando dos tiros em transição contra uma das equipes mais rápidas da NBA) não foi a mais apropriada (ao meu ver), por exemplo. Daí a tirá-lo do comando técnico bauruense vai uma ENORME distância, creio eu. E explico melhor a seguir.

2) Com todo respeito que a diretoria de Bauru merece, aqui no Brasil NUNCA existiu (e talvez nunca exista) esse negócio de mudança de filosofia (seja no basquete ou no futebol) embora Demétrius tenha, de fato, uma visão de jogo bem diferente da do antigo dono do posto (sua marca registrada no Minas foi a sua forte defesa e a constante rotação do elenco). Como o que manda é o imediatismo, o que sempre valeu sempre foi vencer (resultados) e manter o time no topo das disputas. E isso Guerrinha sempre conseguiu desde que teve um forte elenco à disposição (duas últimas temporadas principalmente). O absurdo é tão grande que, em uma comparação aleatória, seria como demitir José Neto do Flamengo para "mudar a filosofia". Mas, ei, pô, o cara está ganhando e chegando às decisões de TODOS os torneios. Mudar o quê exatamente? Aqui não é a NBA, onde é, sim, muito possível mudar filosofias, partir para reconstruções (via Draft ou mercado de agentes-livres) e/ou mudanças de estratégia.

3) Muita gente alegou problemas financeiros em Bauru para a troca de Guerrinha por um técnico menos custoso. Não sei se é bem por aí, porque até onde se sabe (e até pelas palavras do treinador) ele tinha contrato e receberá seus salários normalmente da equipe bauruense. Ou seja: a diretoria do time terá que pagar dois comandantes nesta temporada (se contratar algum, claro).

4) Uma coisinha que não entendo bem: se a avaliação da diretoria de Bauru era que Guerrinha precisava ser trocado, qual o motivo de não terem feito isso nas férias, dando ao novo técnico tempo de trabalho antes do começo da temporada? Cheguei a ler nestes dias que o técnico foi mantido para os jogos na NBA e o Mundial contra o Real Madrid "por gratidão", mas prefiro não acreditar nisso pois seria chancelar o amadorismo – algo que certamente não ocorre em solo bauruense. Não existe gratidão em um meio profissional. Ou você é bom e fica ou é ruim e vai sair. Gratidão é algo presente nas relações emocionais, e não nas racionais (meios profissionais/corporativos).

5) Tentando compreender esta questão da mudança de filosofia (seja lá o que isso for), será que não havia outra forma de contornar a situação? Tipo trazendo um assistente-técnico com um viés diferente do utilizado por Guerrinha? Tipo conversando com o treinador sobre a forma que a diretoria acreditava ser a mair apropriada para o time? Tipo fazendo uma avaliação prática (e não empírica) sobre o que o treinador estava fazendo de errado e qual seria a melhor maneira de treinar a equipe? Quantas conversas sobre a metodologia de trabalho houve até a demissão de um cara que era a alma, a cara, o corpo e o coração do projeto há sete anos?

Acho que está claro o que penso sobre a saída de Guerrinha, né? Consigo entender o movimento da diretoria de Bauru, mas não concordo com o que foi feito. Não pela palavra 'respeito', como andei lendo por aí. Não é isso e qualquer profissional pode ser demitido a qualquer momento caso a avaliação seja feita e detectada que seu trabalho não está sendo bem feito. Não aprovo o que ocorreu simplesmente porque o argumento ("mudança de filosofia") é empírico (pouco científico) para tirar um cara que conquistou, na última temporada, três títulos (Liga das Américas, Liga Sul-Americana e Paulista) e um vice de NBB.

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