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Sobre a saída de Limeira e o delicado momento do basquete brasileiro

Fábio Balassiano

19/09/2015 01h32

Você leu aqui na quinta-feira que Limeira está fora do próximo NBB. Na tarde de ontem a diretoria limeirense confirmou a informação em uma coletiva de imprensa (como está no Facebook oficial inclusive). Deixei, de forma proposital, a poeira diminuir pra escrever com mais calma sobre o triste e delicado tema.

Começando pelo começo, vamos lá. Reitero, sempre, que a Liga Nacional de Basquete (LNB) surgiu em um momento de caos na modalidade e conseguiu, com seriedade transparência, coerência, competência e muito trabalho, tirar o esporte da lama em menos de uma década. Não é sem os predicados acima descritos que se consegue criar um campeonato Sub-22 (LDB), três campeões seguidos nas Américas, uma segunda divisão ou uma parceria com a NBA (para ficar apenas em quatro bons exemplos).

Entretanto, coloquei uma série de links no texto passado em que, já há algum tempo, vinha alertando para o problema estrutural/financeiro do basquete brasileiro (quem quiser reler é só clicar aquiaqui, aqui, aqui e aqui ). Ver as saídas de Palmeiras e Limeira chocam, pois trata-se de um clube imenso e de outro que chegou à semifinal da temporada passada, mas não surpreendem (infelizmente). O esporte brasileiro surfou em um momento econômico bem razoável nos últimos anos e agora, tal qual acontece em todos os setores do país, vai sofrer bastante com a retração do mercado. Isso em ano anterior às Olimpíadas. Sem querer ser pessimista, mas sendo totalmente realista, já cabe um alerta: em 2016 e 2017 será ainda pior, podem apostar pois o foco no esporte olímpico será ainda menor e a economia não dá o menor sinal de melhora (só um lunático acredita no contrário, na verdade).

A fonte de patrocínios, obviamente, está secando – está secando muito. Acho que já escrevi aqui, mas também não custa lembrar: em um momento de incerteza econômica, a primeira área que as empresas gostam de enxugar os custos é justamente a de patrocínio/comunicação. Certo ou errado (ou entender patrocínio como investimento e não como despesa), é assim que acontece  – e é assim que o basquete brasileiro terá que conviver nos próximos anos sem dúvida alguma. Adoraria usar o ditado chinês que fala que crise é uma oportunidade, mas creio que o momento seja para uma reflexão maior e não para um clichê aplicável a qualquer situação.

Ficam algumas questões: Qual o motivo de a maioria dos clubes do país estarem nesta situação? Quantos profissionais de marketing e gestão temos nos (agora) 15 times que disputarão a próxima temporada? Quantos cadernos de "Retorno Sobre Investimento" foram entregues aos patrocinadores dos 16 times que disputaram o NBB passado? Alguma equipe se preocupou, de fato, em mostrar ao seu investidor quão bom foi, para ele, ter colocado dinheiro no basquete na temporada 2014/2015? Se não, qual o motivo de alguma empresa voltar a colocar grana no basquete? Quais as linhas de receita que os clubes do NBB estão utilizando em seus orçamentos? Se a única válvula de escape foi a linha "patrocínio" está errado. O que a Liga Nacional pode fazer de cara para evitar que mais súbitas saídas aconteçam? Quando afinal o NBB voltará a ter patrocínios para a competição? Será que não chegou a hora de a LNB criar um teto salarial, como existe na NBA? E uma espécie de Draft para equilibrar a competição, fazendo com que as discrepâncias técnicas diminuam? E os jogadores, o que acham disso tudo? Será que faz sentido pensar que nada mudará a partir dos atletas porque as "cabeças" da Associação de Atletas são justamente as de maior salário e figuras já estabalecidas no cenário nacional? No atual cenário, vale mesmo a pena fechar as portas para quem quiser investir no basquete? Clubes como Vasco, Jacareí e Osasco, que já demonstraram interesse no NBB, não merecem uma nova rodada de conversa antes do começo desta temporada? Será que não seria bacana, em termos de estratégia e também se respeito, se nomes de peso da modalidade (Oscar, Wlamir, Hortência, Paula, Janeth, Marcel etc.) fossem trazidos para perto?

São perguntas que eu sinceramente não sei responder (não todas elas), mas creio que a maioria das indagações não tenha resposta positiva, não. E não falo isso na base do empirismo ou do chute, mas sim pelo fato de estarmos vendo uma grande falta de evolução no NBB nos últimos anos – o que tenho chamado constantemente aqui de "próximo passo" não dado pelo maior campeonato de basquete do país.

Não falo, quando menciono a pouca evolução, da parte organizacional da Liga (Liga que não tem um patrocínio há três anos, diga-se), mas sim dos clubes – os tentáculos da LNB no final das contas. De que adianta, afinal, termos uma Liga Nacional fortíssima, com parceria com a NBA e muito mais, se os clubes estão todos esfacelados financeiramente? De muito pouco, respondo eu.

O presidente da Liga Nacional, Cassio Roque, é um cara bem sério, digno e que está abalado com o fechamento da sua equipe (Limeira). Disso não tenho a menor dúvida. Depois de escorrer as (justas e dolorosas) lágrimas, convém que Cássio sente com seu time, liderado pelo Gerente-Executivo Sergio Domenici (foto), e discuta forte e longamente as bases (não tão seguras) do basquete brasileiro na atualidade e os próximos passos. O passado foi ótimo, não resta dúvida. O presente é perigoso. O futuro, ninguém sabe, mas o cenário não é animador. Achar que está tudo bem, tudo sob controle, que o basquete é um oásis no desolador esporte brasileiro, é um engano – porque não está tudo bem, não.

Tentar responder às questões que coloquei acima pode interessante pra evitar que mais cenas como a da coletiva de fechamento de Limeira se repitam. O basquete brasileiro estava em um viés de crescimento. Precisa repensar muita coisa para voltar a fazer com que todos que amam a modalidade voltem a se animar.

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