Desde segunda-feira você tem visto neste espaço a análise sobre o Balanço Financeiro da Confederação (mais aqui e aqui). O tema, aliás, foi abordado também por Juca Kfouri e José Cruz. Amanhã o Professor Jorge Eduardo Scarpin aparecerá no blog para falar ainda mais dos números da entidade máxima com a propriedade que lhe é peculiar. Desde canto, cabe-me analisar a terrível gestão de Carlos Nunes à frente da CBB desde que assumiu em 2009.
Não sou (insisto nisso) especialista financeiro, mas me choca ver uma entidade até certo ponto pequena (quem conhece a sede na Avenida Rio Branco, Rio de Janeiro, sabe do que falo) ter um custo tão alto. Gostaria de ver, linha a linha, como esses caras estão tratando de equilibrar as contas. Mais do que matematicamente, vejo o absurdo que é a total ausência de projeto para recolocar a modalidade em lugar de destaque.
Onde está o Centro de Treinamento, sonho antigo do basqueteiro? Quantos projetos mais veremos até que a pedra-fundamental seja de fato lançada? Cadê o novo modelo para tratar as divisões de base no país? Até quando veremos o famigerado Brasileiro de Seleções Estaduais de Base em voga? E as Federações Estaduais, quando serão cobradas a trabalhar de forma mais eficiente? E os clubes, quando receberão o incentivo necessário para continuar desenvolver o basquete? E os treinadores, como estão sendo capacitados para ensinar melhor a molecada? E os garotos, como estão sendo monitorados aqui dentro e lá fora? Quando será criada a loja online da entidade máxima? Grana para investir, como se vê, não falta.
Poderia continuar elencando coisas aqui, mas não há nada que vá mudar o atual estágio do esporte. Não há nem sequer cobrança por parte da "comunidade do basquete" (odeio esse termo, mas tudo bem). Os dirigentes das Federações são tão ou mais inertes que Carlos Nunes, o presidente da Confederação Brasileira. Os clubes, por sua vez, parecem ansestesiados tentando fechar as suas contas. A imprensa, com raríssimas e ocasionais exceções, praticamente ignora os sobressaltos da CBB. Os atletas, que deveriam elevar o nível da discussão e exigir melhorias, até o momento parecem mais interessados em acompanhar o processo do que em se inserir como agentes de mudança. Quando digo que não vejo chance alguma de mudança é por tudo isso que expus acima. Não é pessimismo, mas sim realismo.
No final das contas, a CBB é justamente o microcosmo do Brasil que não queremos ver. Em um pequeno espaço há ineficiência de gestão, mau uso de verbas (públicas ou privadas), pouco apreço a transparência, violência contra a liberdade de expressão, federações completamente inertes, alto custo operacional, dívidas absurdas e nenhum planejamento para tirar a modalidade do buraco.
O pior (e isso eu repito sempre) é que o fundo do poço da CBB é sempre mais fundo do que a gente imagina. Tem sempre uma dívida nova, um vexame em competição internacional surgindo ou uma falta de pagamento aparecendo. Se está ruim hoje, certamente estará pior amanhã.
Sendo muito sincero com vocês: cansa ter que ficar analisando o basquete brasileiro pelo lado de fora da quadra. Seria muito mais bacana, daria muito mais prazer pra mim, falar apenas da parte técnica e tática do jogo. Mas infelizmente não dá quando a falta de capacidade administrativa da CBB influencia diretamente na qualidade (ou na falta dela) que vemos há mais de duas décadas. Ignorar este tema para mim é ainda pior e faria com que compactuasse com a verdadeira insanidade que é esta gestão da Confederação Brasileira. Prefiro, portanto, pecar pelo excesso das indagações do que simplesmente fingir que está tudo bem (como está cheio de gente fazer por aí). É mais honesto comigo mesmo e principalmente com vocês, que sabem a (vigilante) linha que este espaço segue há tempos.
Por fim, sabem o que mais me surpreende? Que nem mesmo a modalidade na lona faz o mandatário maior do esporte no país mudar a sua forma de gestão. Trata-se tudo como se estivesse tudo bem. Como se esta ainda fosse a segunda maior modalidade do país (algo que não é faz tempo). Vive-se, portanto, em um mundo de faz de conta e onde o discurso de "estamos no caminho certo" é aplaudido por uma imensa turma de aliados, puxa-sacos e alienados.
É este o jeito Carlos Nunes de governar. Um exemplo. Um exemplo de como não se gerencia instituição/empresa alguma neste país. Um exemplo do Brasil que não queremos e que não dá certo. O basquete sangra cada vez mais com isso.