Nos dois últimos anos fiz um balanço sobre o NBB (aqui o de 2013 e aqui o de 2014). Pontos positivos, pontos negativos, o que tem a melhorar. Acho um texto válido principalmente porque há evoluções claras de um ano para o outro.
Antes de entrar a fundo no certame, considero importante dizer duas coisinhas: a) Apesar de ter assinado um acordo com a NBA (divulgado em primeira mão neste blog em setembro/2014) é injusto cobrar qualquer melhoria na Liga Nacional em virtude disso. Não deu nem tempo de os norte-americanos saberem o material que têm nas mãos e com a competição em curso era natural que não tivéssemos nenhuma grande evolução; b) Com sete edições já realizadas, o NBB já não é mais uma "criança", motivo pelo qual a avaliação será feita em cima de um produto maduro no mercado esportivo brasileiro. Dito isso, vamos lá:
PONTOS POSITIVOS
1) Técnicos novos -> Se houve algo bacana neste NBB foi a consolidação de alguns técnicos jovens no cenário nacional. Dedé, de Limeira, e Demétrius (foto), do Minas, são os nomes que mais chamam a atenção, mas apareceu também o nome do valente Leonardo Costa, que levou Macaé às quartas-de-final (perdeu de Mogi no quinto jogo após ter 2-1 e jogo em casa). Não dá pra esquecer Gustavo de Conti, do Paulistano, também.
2) Nível das defesas -> Havia escrito aqui há meses que considerava salutar que uma das vertentes mais bacanas deste NBB era a evolução defensiva das equipes. A gente se acostumou por muito tempo a ver times que simplesmente não agrediam seus adversários na marcação. O panorama parece ter estar mudando. O Flamengo, agora tricampeão, dominou Bauru na decisão graças a sua defesa. Mogi conseguiu segurar os bauruenses em cinco jogos também devido a marcação. Limeira, Minas e Franca, Palmeiras e Bauru também foram muito bem neste sentido. Quanto mais "físico" e "pegado" forem os jogos, melhor para o público, para os atletas e para o basquete brasileiro de um modo mais amplo (os atletas não sentirão tanta diferença em partidas internacionais).
OS MÉRITOS DE JOSÉ NETO, TRICAMPEÃO DO NBB PELO FLAMENGO
3) Bom nível técnico nos playoffs -> Como reflexo dos dois pontos acima tivemos um playoff muito bom. Nível técnico alto, ajustes táticos sendo bem feitos de partida para partida e um punhado de jogos com margem pequena de pontos. Até mesmo os menos bem jogados foram disputados até o final, o que gerou emoção para quem estava assistindo. Obviamente ainda pode melhorar muito, mas a série entre Mogi e Bauru, por exemplo, foi ótima, bem como a de Flamengo x São José.
4) Jogos na Web -> O pedido antigo de quem gosta e acompanha basquete está se consolidando enfim. Nesta temporada tivemos jogos no site da Liga Nacional em quase todas as semanas – e sempre com ótima estrutura para quem acompanhava de casa. O time comandado pelo ótimo narrador Guilherme Maia teve a presença da repórter Giovanna Terezzino e comentários de Cadum e Miguel Angelo da Luz, além de participações especiais. Espero sinceramente que isso cresça ainda mais em um futuro próximo, quem sabe até chegando perto do que já vemos no League Pass da NBA. Para a massificação da modalidade, quanto mais jogos na Web, melhor (e quanto mais divulgação houver, maior a chance de essa tendência crescer na audiência e popularidade).
5) Liga de Desenvolvimento -> Mais uma vez a Liga de Desenvolvimento foi um sucesso. Apesar dos contratempos (demorou bastante a começar devido ao atraso na liberação das verbas do Ministério), a competição foi boa e se o nível técnico não foi dos melhores (ao menos dos jogos que vi não foram mesmo) ao menos tivemos um campeão do Nordeste (o Basquete Cearense), o que valoriza ainda mais o trabalho de Alberto Bial e Espiga por lá. Além disso, cada vez mais os olheiros da NBA olham a LDB com atenção – vide o recente caso de Bruno Caboclo.
6) Liga Ouro -> Fui um dos maiores críticos em relação ao baixo número de clubes da Liga Ouro. Foram apenas quatro times, uma competição muito curta, mas com bons jogos na final e semifinal (alguns transmitidos pela Web – muito bacana isso!). O campeão (o Caxias do Sul) vem de uma região (Sul) sem time no NBB desde a saída de Joinvile do cenário nacional e isso também é salutar pra caramba. Uma boa ideia para o campeonato ser mais amplo é colocar times B de agremiações que atuam no NBB (como é feito na Espanha). Flamengo B, Minas B, Paulistano B e por aí vai. Daria ainda mais espaço para a molecada da LDB atuar.
APESAR DA DERROTA, A BRILHANTE TEMPORADA DE BAURU
7) Jogo das Estrelas em Franca -> Foi o primeiro Jogo das Estrelas envolvendo NBB e LBF. Com o Pedrocão lotado nos dois dias, foi realmente uma festa do esporte (a presença de Horace Grant foi legal também). Tudo funcionou muito bem (principalmente no quesito entretenimento) em uma cidade que respira basquete e que entende muito bem do jogo (o que ajuda a potencializar o "volume" do evento). A chance de trazer os antigos ídolos locais para perto do público também foi belíssima.
PONTOS A MELHORAR
1) Desequilíbrio grande de Bauru e Flamengo -> Eis um ponto preocupante para as próximas edições. Com a queda de Brasília, existe um núcleo de Bauru e Flamengo muito acima dos demais. É um fato que o Flamengo terminou em terceiro lugar na fase de classificação, mas em investimento e capacidade técnica dos elencos ambos estão muito na frente dos rivais. O tal ranking, aplicado pela CBV no Vôlei, é uma alternativa, mas não é algo que me agrade muito pois há uma série de imperfeições e não corrige o problema a fundo (vide as 456 finais seguidas entre Rio de Janeiro/Unilever e Osasco). Não sei exatamente o que a Liga Nacional pode fazer em relação a isso, mas o desequilíbrio não é um ponto positivo para a sustentabilidade do negócio e creio que o tema merece uma discussão ampla.
2) Calendário -> Não é mais plausível que o NBB tenha uma série de alterações de data como vimos nesta e nas edições anteriores. A Liga Nacional divulga o calendário com antecedência, mas vira e mexe precisa mexer devido às competições continentais. Que a LNB converse com ABASU, FIBA Américas, Federações e faça o seu calendário com janelas para jogos que aconterão em Liga Sul-Americana, Liga das Américas e Estaduais. Tampouco me parece bacana que um time, como foi o caso de Bauru, jogue 84 partidas em menos de 8 meses. O nível apresentado pelos bauruenses na final não foi bom, e o motivo é físico, e não técnico.
3) Queda de público -> Ainda não vi a média final de público deste NBB, mas a percepção (notem bem a palavra 'percepção') que tenho é que os torcedores deram uma bela sumida dos ginásios nesta sétima temporada (o mesmo aconteceu com a LBF, diga-se de passagem). Houve as consolidações de Bauru, Limeira e Mogi, por exemplo, mas o Pedrocão não encheu nem por decreto, o primeiro jogo na final não teve 50% da ocupação e não foi raro vermos, em partidas da Web ou TV, arquibancadas bem vazias. A Liga Nacional precisa entender bem como se comporta o seu público para se comunicar bem com ele, dando a ele informações e motivos para prestigiar a competição (e seus times).
4) W.O. e Bate-Boca Público entre Flamengo e LNB -> Esta edição do NBB apresentou o primeiro W.O. da história da competição (no jogo entre Flamengo x Pinheiros no Rio de Janeiro). Isso não foi o pior. Pior que o fato em si foi a série de notas oficiais do clube rubro-negro e da Liga Nacional. Bate-boca público desnecessário e que pegou muito mal para a imagem da instituição. Que os clubes sentem e resolvam as situações delicadas internamente. É o melhor a se fazer. E que eles leiam bem o regulamento antes de assinar.
5) Formato da final -> Não poderia deixar isso passar batido. Durante todo o playoff o formato dos jogos foi: duas partidas na casa do time de melhor campanha, duas no ginásio da equipe com pior campanha e o quinto e decisivo duelo no lar da agremiação com melhor retrospecto (2-2-1). Simples. Na final houve alteração (o time de melhor campanha abriria a decisão fora e faria os dois jogos seguintes em seu ginásio). Faltou coerência/padrão neste sentido. O ideal era que o formato tivesse sido repetido mesmo com uma melhor de três jogos (1-1-1). Nada que tire o mérito do Flamengo, mas Bauru, que só havia perdido duas vezes na temporada regular, fez o 2º jogo pressionado em Marília.
6) Nível da arbitragem e reclamações dos técnicos -> Outro ponto recorrente. Os juízes erram cada vez mais e com uma arrogância assustadora. Os técnicos, por sua vez, exageram nas reclamações. O cenário, vocês devem imaginar, é de pandemônio completo. Desde o bola ao alto inicial até o 40º minuto há discussão entre treinadores e árbitros. Terrível.
7) Falta de Patrocinador -> Foi o terceiro campeonato seguido que o NBB não contou com patrocinador. A grana para manutenção da estrutura da Liga Nacional saiu do novo acordo com a NBA, mas isso é pouco. Para crescer, para evoluir a LNB precisará urgentemente de uma injeção forte de investimento nos próximos anos. Há um novo Gerente de Marketing na entidade, mas preocupo-me bastante com o fato de o competente Alvaro Cotta ser, também, presidente da Federação Mineira de Basquete. Conversei com ele sobre isso no Rio de Janeiro e creio que um cargo importante como este deva ter um profissional com dedicação exclusiva. Para uma entidade que precisa gerar novas linhas de receita, estreitar laços com patrocinadores e alavancar a venda de produtos pela Web (algo que também pede-se há anos) não me parece o mais indicado.
8) Dependência da Globo -> Não vou me alongar neste tema, pois todos sabem exatamente o que acontece. Só vou citar o que houve no segundo jogo da final do NBB como exemplo. O criticado formato de jogo único se alterou para melhor de 3 jogos justamente para atender aos anseios da emissora. E o que fez a TV Globo no Jogo 2? Só exibiu para o Rio de Janeiro e cidades do interior de São Paulo. Baita prestígio do basquete, não? Não. Que a Liga Nacional tenha, definitivamente, aprendido a lição (embora eu duvide que algo mudará na relação). O ideal é que o NBB faça a final em melhor de cinco jogos e que a decisão seja promovida por ela (LNB), e não pela Globo ou por qualquer emissora que detenha os direitos de transmissão. Que fique claro: a ordem natural das coisas é a dona do produto "vender" o seu evento por si só, e não depender de um meio de comunicação. Simples assim.
SALDO
O NBB, comandado pelo ótimo Gerente-Executivo Sergio Domenici (foto), já é um produto consolidado no cenário nacional e seu saldo, temporada após temporada, é pra lá de positivo. Ninguém duvida disso. Já são anos com o mesmo núcleo de times e dirigentes, o que traz continuidade de ideias e participantes. Isso é bom.
Ao mesmo tempo, acho que já está na hora de a Liga Nacional dar alguns passos adiante (principalmente em Marketing). Como disse acima, faltam patrocinadores, há times sem grana (Franca é o melhor exemplo) e é possível, sim, tratar melhor o produto que já está bom. O contrato com a TV Globo vence em dois anos, a NBA chegou recentemente e há times querendo entrar no NBB (Vasco e Jacareí recentemente). São muitas variáveis que precisarão ser analisadas e uma série de ações a serem tomadas.
Espero sinceramente que a turma da LNB encontre as melhores soluções, consiga se comunicar cada vez melhor com seu público (que está loucamente consumindo basquete na internet) e que a parceria com a liga americana traga boas práticas não só na parte técnica do jogo, mas também na gestão do produto NBB. A próxima temporada será fundamental neste sentido e a cobrança do primeiro certame completo com a NBA ao lado será maior.
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