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O grande mérito de José Neto, técnico tricampeão do NBB pelo Flamengo

Fábio Balassiano

01/06/2015 03h09

Como você deve saber, o NBB terminou ontem com mais um título do Flamengo. Foi a quarta conquista rubro-negra em sete edições do torneio, segurando o clube no topo do basquete nacional pelo terceiro ano consecutivo e manteve os 100% de aproveitamento do técnico José Neto desde que chegou a Gávea (três NBB's, três títulos, algo realmente espetacular). Pode até parecer, mas esta foi a temporada mais difícil para o técnico. E ele se saiu muito bem ao superar os obstáculos que surgiram.

O começo da temporada foi, digamos, maluco. Logo de cara, dois desafios muito grandes – o Mundial Interclubes contra o Maccabi Tel-Aviv e os três amistosos na NBA. Não é bem o que você espera enfrentar no início de uma jornada, mas era o que tinha e Neto, junto a sua comissão técnica, teve que acelerar alguns processos (principalmente o físico). Jogaram bem contra a equipe israelense, conquistaram o mundo, fizeram ótimo papel nos Estados Unidos e regressaram ao Brasil para continuar o NBB e iniciar a Liga das Américas. Ali os problemas começaram a aparecer.

Com o estágio físico avançado ainda para o começo da temporada, o ritmo teve que cair e derrotas (a mais doída foi a da Liga das Américas no Rio de Janeiro) e questões internas viera. O maior percalço, todo mundo sabe, foi com Marceinho Machado. Maior ídolo da equipe, o camisa 4 não gostou muito quando o treinador o tirou do time titular. Era o necessário, o mais prudente, o óbvio. Mas ele não gostou e gerou uma situação não muito confortável. Mas Neto e a diretoria decidiram, ao invés de "cortar na carne", contornar a situação. Não houve gritaria, bate-boca público ou demissão. Era a hora de seguir. Mas era a hora de seguir de maneira voltando a fazer algo que ainda não estava sendo visto àquela altura da temporada – defender com força.

Muita gente olha para os últimos timaços campeões do Flamengo e fica impressionado com a quantidade de suas armas ofensivas. De fato o arsenal é fortíssimo. Mas o grande mérito do clube para conquistar uma série de taças foi justamente conseguir equilibrar o ataque pesado a uma defesa cada vez mais pressionada, consistente e sufocante (vimos isso na final contra Bauru). Por isso entraram Vitor Benite e Olivinha entre os titulares, dois jogadores que tiveram desempenho excepcional do meio para o final da temporada principalmente por trazerem aquela fagulha defensiva tão necessária para os rubro-negros voltarem a subir para um nível ainda mais alto em relação aos últimos anos.

Com os dois de titulares (Benite e Olivinha), Neto acabou ganhando consistência desde o começo, mas não só isso. Houve crescimento também no banco de reservas. Suas duas, digamos, unidades ficaram mais equilibradas, e de um período para o outro era possível ver entrando em quadra Gegê, Marcelinho Machado, Felício e Walter Herrmann (é surreal que um quarteto deste nível seja reserva aqui no Brasil, sabemos). Ficou tão homogêneo o time que Marquinhos, um dos craques do grupo, fez 6 pontos no jogo 2 e pouca gente notou.

Não é que ficou difícil para Bauru, que, pressionado, não conseguiu anotar 70 pontos em nenhum dos dois jogos da final do NBB. Jogando contra um Flamengo assim tão equilibrado entre ataque e defesa, contra uma equipe tão bem treinada e com um número de peças de ótimo nível assustadoramente alto para o basquete interno ficaria complicado para qualquer equipe mesmo (em 10 jogos no mata-mata do NBB apenas uma vez o Flamengo levou mais de 75 pontos e fechou a competição com seis triunfos seguidos).

Méritos para José Neto, treinador cada vez mais centrado e maduro que conseguiu catar os cacos de uma equipe que poderia muito bem se desintegrar depois da eliminação na Liga das Américas para fechar a temporada com novo caneco. No Flamengo já são três títulos de NBB, um Mundial, uma Liga das Américas e muito mais ainda por vir.

O elenco do Flamengo é fortíssimo e seu treinador tem todos os méritos por fazê-lo jogar de forma arejada no ataque e pressionada na defesa, algo não tão fácil de vermos por aqui. Que ele continue assim.

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