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Desvendado o mistério da relação entre CBB, Ministério e FIBA Américas

Fábio Balassiano

25/02/2014 00h49

Você leu aqui no blog ontem uma análise longa sobre as declarações (pertinentes) de Alberto Garcia (Secretário-Geral da FIBA Américas) e Ricardo Leyser (Secretário de Alto Rendimento do Ministério do Esporte) a respeito da situação falimentar (financeira e administrativamente falando) da Confederação Brasileira de Basketball (CBB).

As razões para Ricardo Leyser e Alberto Garcia terem aberto fogo contra a CBB, que fará uma Assembleia Geral em março, foram confirmadas por dois personagens envolvidos diretamente e são fruto do não cumprimento de um acordo, por parte da Confederação, que começou a ser desenhado em uma reunião no ano passado por Leyser, Garcia, Carlos Nunes (presidente da entidade máxima – foto à esquerda) e outros dirigentes em São Paulo.

No sábado, Leyser quanto Garcia criticaram de forma dura a administração atual da Confederação Brasileira, deixando o presidente Carlos Nunes em péssima situação a menos de seis meses para a Copa do Mundo masculina da Espanha (para qual o Brasil pagou pelo convite para jogar) e a menos de três anos das Olimpíadas do Rio de Janeiro. A entidade máxima colocou ontem uma Nota Oficial em seu site rechaçando todas as críticas apresentadas, mas confirmando que fará uma reunião com o Secretário Leyser nesta semana para discutir todos os temas (tamanha a gravidade da situação). Mas parece não ter convencido nem ao Ministério do Esporte e nem mesmo a FIBA Américas, entidade que comanda o basquete nas Américas – do Sul, Central e do Norte.

No final de 2013 reuniram-se alguns dirigentes em São Paulo. Entre outros, Alberto Garcia, Ricardo Leyser (foto à direita), Carlos Nunes e um ex-profissional da TV Globo (bem conhecido no esporte) estavam no encontro.

Lá, Leyser cobrou uma gestão mais profissional da Confederação e (principalmente) das Federações, oferecendo ajuda no que fosse necessário e pedindo que Nunes fosse mais independente das Federações para tocar os projetos de basquete tão necessários para o desenvolvimento da modalidade no país.

Todos os problemas financeiros (aqueles apresentados nos balanços divulgados por este blog, que há anos briga praticamente sozinho contra as alucinações financeiras da Confederação) foram esmiuçados, inclusive o processo que a entidade máxima sofria do Banco Itaú. Carlos Nunes, presidente da CBB, comentou que estava, sim, disposto a ser ajudado, que estava disposto, JUNTO, a tirar a Confederação Brasileira de Basketball da lama. Pois bem.

Com o auxílio dos que compuseram a mesa de jantar em São Paulo o patrocínio do Bradesco (algo em torno de R$ 10 milhões/ano) saiu, e uma outra empresa estatal (os Correios) estava disposta a injetar dinheiro na entidade máxima. As duas, tanto a instituição financeira quanto a do Sedex, só impuseram uma condição: que a grana fosse administrada de forma austera, planejada, organizada – e por gestores profissionais. Ou seja: por alguém que NÃO faz parte do corpo de funcionários da CBB atual. Ou, se você quiser que seja mais claro ainda, por qualquer pessoa que não seja um funcionário de Carlos Nunes.

Algo que Nunes concordou, dando sinal verde para as negociações com os dois patrocinadores que tirariam a CBB do buraco financeiro em que estava atolada até o final de 2013. O acordo, portanto, estava selado no final de 2013. Duas alternativas foram visualizadas de cara: ou um Comitê de profissionais a ser formado ou uma empresa de marketing esportivo (a IMX) para gerenciar a Confederação.

Foi escolhida a primeira opção, sendo, então, criado um Comitê de Gestão para passar a tocar a administração da Confederação Brasileira. Além do rosto global conhecido, um profissional bem sucedido no mundo empresarial participou das reuniões com os patrocinadores e deixou a todas as partes bem impressionadas. Carlos Nunes continuaria a ser o presidente da entidade máxima, mas toda a parte financeira, administrativa, de marketing, de comunicação e o desenvolvimento do basquete seria tocado por este Comitê de Gestão. Isso foi no final de 2013, pouco antes do Natal.

O tempo passou, e Carlos Nunes inacreditavelmente não andou com absolutamente nada do que prometeu, descumprindo o acordo com Ministério, FIBA Américas e demais envolvidos. Não deu poderes, não chamou a tal Comissão para as reuniões, nada. Candidamente esperou, assinou o acordo com o Banco Bradesco, mas não chancelou o Comitê de Gestão até agora, deixando a todos bem furiosos.

Nada do que foi prometido, portanto, foi cumprido. Nada do que foi exposto, Nunes ouviu. Nada da ajuda que o presidente disse que queria saiu do papel. Nem no Jogo das Estrelas do NBB, uma das meninas dos olhos tanto de Ministério quanto de FIBA Américas, Nunes apareceu. A credibilidade dele, que já era baixa, chegou ao negativo…

E aí a bomba explodiu em Fortaleza, no Jogo das Estrelas, quando Ricardo Leyser  e Alberto Garcia se encontraram e colocaram a conversa em dia. Ambos ficaram surpresos com o NÃO andamento dos fatos e as entrevistas que vocês leram (aqui e aqui) no UOL saíram. Ambos foram inteligentes, hábeis, usaram a imprensa para escancarar um problema de gestão seríssimo que acontece na CBB. Mas não só isso: os dois estavam na conversa iniciada em São Paulo em 2013 e se surpreenderam muito com a leseira da entidade máxima do basquete brasileiro para, enfim, querer sair do atoleiro (passaram-se cinco meses). Como diz um amigo, aí sim a dupla surtou, soltou os cachorros de forma totalmente pensada e sabendo das conseqüências.

A lentidão no processo de "passagem de bastão" para uma gestão profissional (ou co-gestão, caso queiram chamar) irritou demais a Ricardo Leyser, que se sente desenganado devido ao investimento que sua pasta tem feito na CBB (mais de R$ 14mi só em 2013) e ao acordo de cavalheiros que tinha sido feito com Nunes no final do ano que se passou.

Mais do que isso: Leyser sabe que até 2016 os cofres (estatais e privados) estarão abertos, prontos para investir nos esportes ditos olímpicos. Caso as Confederações não consigam ter gestões profissionais AGORA, a tempo de deixar um legado mínimo que seja para depois das Olimpíadas do Rio de Janeiro, todo o investimento feito pela sua pasta terá sido praticamente em vão.

Seu medo, portanto, é que a entidade máxima do basquete brasileiro e suas Federações por tabela (milhões de vezes mais atrasadas) percam o momento, o bonde da história, para se organizar, se planejar para um período de vacas magras que virá em no máximo dois anos e meio – tendo o Ministério avalizado, chancelado tamanha falta de competência com o dinheiro PÚBLICO.

Nada (planejamento, passagem de bastão, organização, saneamento financeiro) andou, e Alberto Garcia e Ricardo Leyser começaram a tentar sufocar a CBB por mudanças drásticas que precisam acontecer para ontem. O que estava difícil de entender, portanto, agora está bem claro. O Comitê de Gestão ainda não foi criado, os problemas GRAVES continuarão na Confederação e Carlos Nunes está cada vez com menos aliados (Ministério, FIBA Américas e algumas federações que já se insurgem), encurralado em uma trincheira cada vez mais solitária.

O cenário, sem dúvida alguma, já foi mais bonito no basquete brasileiro.

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