Três das grandes revelações do basquete do país nasceram em 1995. Três das grandes revelações do basquete do país jogam no mesmo time e chamam a atenção de quem acompanha a modalidade no Brasil. Três das grandes revelações do basquete do país nasceram há menos de 20 anos e já têm seus passos monitorados por olheiros de todo mundo.
Lucas Dias (ala de 2,07m), Humberto (armador de 1,95m) e Bruno Caboclo (ala de 2,04m) defendem o Pinheiros, time pelo qual treinam nas divisões de base há duas temporadas (foram medalha de bronze e campeões paulistas juvenis em 2013 – todos são unânimes em afirmar, inclusive, que a final estadual passada contra o Paulistano foi o melhor momento de suas curtas carreiras) cultivando as expectativas por um futuro brilhante e convivendo com toda a pressão que imprensa e torcedores lhes impõem. Hoje à noite, às 19h, eles atuarão na capital contra o Mogi, em partida válida pelo NBB.
Tratados com todo cuidado pelo Pinheiros (fazem trabalho físico, psicológico e nutricional no clube), o trio, que começará a fazer aulas de inglês neste semestre, já mora sozinho (Humberto e Caboclo dividem um apartamento e têm Lucas Dias como vizinho), treina com o time principal, realiza trabalhos específicos com o ótimo técnico José Luiz Marcondes, que lhes apresenta vídeos de Kevin Durant, Carmelo Anthony e Russell Westbrook (com quem os três são comparados, aliás), e vive quase o dia inteiro junto.
No final das contas, fora das quadras os meninos acabam se virando como se fosse na quadra – Humberto organiza, Bruno Caboclo usa a sua envergadura para carregar o que for preciso e Lucas é o responsável pelas tarefas mais, digamos, adultas. Cabe a ele, por exemplo, cozinhar o churrasco sagrado da trinca: "O Luquinha assa carne muito bem, tem que ver. Arroz, farofa, molho, tudo isso ele aprendeu também. A gente só aproveita, né", entrega Humberto.
Tão famintos quanto eles, quem acompanha basquete espera que Lucas, Humberto e Bruno ganhem cada vez mais espaço na rotação do Pinheiros. Mas não será tão fácil assim: "Ninguém tem a fórmula mágica do sucesso. Se tivesse seria só apertar um botão e pronto. Temos muito cuidado com esses meninos porque já vi acontecer muita coisa nesse esporte. Não é só chegar e colocar na quadra pra jogar. Há certos cuidados que são necessários. É preciso ter paciência, ver o que eles apresentam no dia a dia, sentir suas reações e prestar atenção exatamente aos objetivos de cada um. É um processo que segurar eu sei que é complicado. Alguns ingredientes compõem uma trajetória de sucesso, mas estamos muito conscientes do que devemos fazer para eles chegarem lá. A cobrança que eles sofrem já é muito grande e eles ainda não têm 20 anos. Aos poucos, porém, todos eles terão as suas oportunidades. São meninos de talento, valiosos, isso ninguém questiona. É preciso só um pouco de calma que já, já as coisas aparecem", adverte, sob o olhar atento dos garotos, o experiente técnico Cláudio Mortari, técnico do adulto do Pinheiros.
Lucas Dias, nascido em Bauru, foi o primeiro a sair da fornada do Pinheiros e a chamar a atenção de todos. Foi MVP do Jordan Classic em 2012, evento que reúne a nata juvenil mundial do basquete, e despertou a cobiça de todos. Foi apontado, logo depois das Olimpíadas de Londres no ano passado, como O ala da seleção adulta masculina para o Rio-2016. À época, ele disse a mim: "Não sou nem titular do meu time, cara". O tempo passou, Lucas parece mais maduro, mais consciente do que lhe espera e do que esperam dele, e mantém os pés no chão: "Por eu ter sido o primeiro de nós três a aparecer a cobrança é um pouco maior mesmo, né. Até eu mesmo me cobro muito, me pergunto se estou no caminho certo. Não é fácil ir pro jogo e ficar quase o tempo todo no banco. Mas só tem uma forma de mudar isso – treinando e aproveitando as oportunidades. É o que tenho tentado fazer", pondera Lucas Dias, listando seus pontos de melhoria: "Eu preciso ganhar mais força física e ter confiança pra decidir, tomar decisões importantes na quadra".
Humberto, por sua vez, é o "caçula" do trio. Nascido em Diadema em uma família humilde (seus olhos brilham quando fala do pai), começou a jogar basquete no Banespa por influência do irmão mais velho e certamente é o mais falante (e articulado) dos três. Apareceu para o país na semana retrasada, na Liga das Américas, quando o titular Joe Smith, lesionado, nem viajou para a Colômbia e, lá, o reserva Paulinho torceu o joelho. Humberto ganhou a titularidade, não decepcionou e arrancou elogios de Mortari e dos companheiros de clube.
Ala-armador de "criação", tem passado por uma transformação para se tornar armador e acaba ouvindo comparações com figurinhas conhecidas da modalidade: "Ah, todo mundo me fala que sou parecido com o Russell Westbrook (do Thunder) e com o Leandrinho (Suns) pelo estilo de jogo. É até bom ouvir isso, né, mas eu não curto muito. Sou alto para armador (1,95m), rápido e as pessoas acabam achando isso. Mas estou só começando. Estes caras são estrelas, são craques. O Leandrinho treinou conosco, me deu muito toque, aprendi demais com ele. Tinha vezes que ele nos levava de carro pra casa, e o caminho, mesmo curto, era recheado de muitos conselhos, dicas, histórias. Eu tento fazer o meu melhor, não para ser o novo Westbrook ou Leandrinho, mas para ser o melhor Humberto que eu puder ser, né", afirma o armador, que parece saber bem onde precisa melhorar: "Por eu ter sido criado como pontuador, tenho que ter muito clara a noção de como organizar o jogo, posicionar meus companheiros. É algo que os meus técnicos aqui me orientam demais, me dão toques, auxiliam. Tenho toda liberdade, mas este ponto de leitura de quadra e organização das jogadas são bem fundamentais para eu crescer".
Disparadamente o mais calado dos três, Bruno Caboclo tem 2,04m, envergadura de 2,30m e foi um dos destaques do Pinheiros na Liga de Desenvolvimento passada. Encantou a quem passou pelo ginásio do Flamengo para a fase final, virou obsessão para os olheiros de todo mundo e ganhou espaço na rotação de Cláudio Mortari (com as lesões de Paulinho, Tavernari e Joe Smith, ele se tornou titular e seus minutos aumentaram muito). Mesmo assim a timidez do rapaz de Osasco, MVP do Basquete sem Fronteiras da NBA realizado em Buenos Aires em 2013, se mantém intacta, igualzinha. Amante do jogo de tiros Call of Duty, ele sabe que sua trajetória ainda está apenas começando: "Quando eu entro em quadra, hoje, eu penso mais em defesa, sabia? Porque eu sei que se não defender, se eu fizer besteira nas rotações eu não vou ficar na quadra e os caras vão ficar loucos comigo. Até porque, por sermos muito novos, é difícil receber a bola no ataque, né. Mas aos poucos vou entrando, ganhando confiança. O que mais tento fazer é ouvir tudo o que estão me falando, tento aprender com o que me dizem para eu crescer. Outro dia o Toyloy disse que eu preciso, toda vez que receber a bola, olhar sempre para a cesta mesmo que eu não arremesse. E ele tinha razão. Ainda estou no início, preciso ganhar muito em força física e no trabalho de pés. É o que está na minha ordem do dia".
Alçados a condição de revelações do momento, os jovens têm sido monitorado e não esconde o sonho (comum aos três): "Jogar na NBA é o objetivo, é o sonho. E depois que chegar lá rever tudo e colocar novos objetivos para seguir evoluindo, se desenvolvendo. Sabemos que estamos nesses sites aí de projeção de Draft, tem umas pessoas olhando pra gente, mas é tudo muito cedo. Além disso, conquistar títulos importantes pela seleção brasileira está na nossa cabeça também", sentencia Caboclo, certamente um dos mais promissores jogadores de sua geração.
O trio é unânime em afirmar aquele que mais pega no pé durante os treinamentos. Shamell, estrela do time e norte-americano com ótima passagem pelo basquete do país, orienta, passa ensinamentos e exige seriedade nos treinamentos e nas partidas: "Talento todo mundo vê que eles têm. Eu tento fazer com que eles sintam a menor pressão possível, porque eu sou mais experiente e sei bem o que é ser mais jovem e surgir com tanta responsabilidade assim. É injusto quando olham pra eles e comparam com jogadores já formados de NBA ou Europa. Construção de carreira é feita passo a passo, e não com coisas atropeladas. Eles estão começando, têm um caminho a trilhar e estamos, todos aqui no clube, dispostos e prontos e ajudá-los. Às vezes temos que ser duros, mas é pro bem deles. O negócio é manter a cabeça no lugar e pensar positivo", ensina o camisa 24 do Pinheiros.
As revelações querem seguir junto em sua caminhada, mesmo cientes que por vezes o maior tempo de quadra de um pode diminuir a evolução do outro.
"Pode parecer que somos concorrentes, porque acabamos disputando tempo de quadra e espaço, mas a verdade é que somos muito amigos e torcemos pelo outro. Quando um está mais cabisbaixo, o outro chega, conversa, tenta animar. Amamos basquete, mas a vida não é só isso, né. Somos companheiros, compartilhamos quase tudo. Queremos vencer juntos, queremos ir longe juntos. E vamos lutar por isso", finaliza Lucas Dias.