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Bala na Cesta

Revelação do Pinheiros, jovem Lucas Dias sonha, mas evita expectativas pra sua carreira

Fábio Balassiano

23/01/2013 00h19

"Ele é especial. Está muito claro que trata-se de um jogador diferente, uma pessoa diferente. Não conheci muitos meninos de 17 anos com todo esse talento, não". A frase é de Joe Smith, armador norte-americano do Pinheiros, sobre Lucas Dias Silva, ala de 2,07m do clube de São Paulo e uma das maiores revelações do basquete brasileiro. Ainda na adolescência (ele está no terceiro ano do colégio ainda) e atuando no time adulto desde a temporada passada, Lucas tem feito trabalhos especiais com Murilo Drago, Preparador Físico do Centro Integrado de Apoio ao Atleta (CIAA) e com Zé Luís, técnico da base. Tudo bem planejado, bem organizado, para desempenhar em 2013 bom papel no NBB e no Mundial Sub-19 em que certamente será convocado para jogar na seleção brasileira. Melhor jogador do Jordan Classic em 2012 (na foto ao lado, o prêmio que ele recebeu do D's do basquete), torneio que reúne os melhores jogadores de sua idade no planeta, ele conversou com o blog em São Paulo sobre seu começo no basquete (ele era pivô, agora é ala), sua família (e sua simpática namorada Larissa), seus medos para o futuro ("não sou nem titular do Pinheiros e já me colocam como titular da seleção adulta no Rio-2016) e sonhos.

BALA NA CESTA: Pra quem não te conhece, quem é o Lucas Dias? Onde começou, de onde vem, essas coisas.
LUCAS DIAS: Meu pai se chama Marcos Silva, e minha mãe Maria Dulcineia. Meu pai é motorista de ônibus e toda semana está vindo pra cá pra São Paulo, se preocupa pra caramba comigo Sou de Bauru,  e no começo meu irmão Diego Dias, hoje no Paulistano, jogava no GREB. Um dia ele me chamou pra brincar e aí você imagina o que aconteceu. Comecei assim, meio na brincadeira, e acabei gostando muito do basquete. Comecei por lá, fiquei no GREB por um ano, depois fui para o Luso, que é um clube diferente do Bauru Basquete, que joga o NBB. Quando tinha 15 anos o Pinheiros me chamou, através do técnico Dudu, para um teste. Sou muito grato ao Danilo Padovani, que me aprovou e me deu a primeira chance por aqui. Estou no Pinheiros desde 2010. No primeiro ano que cheguei aqui dormia no alojamento que tinha dentro do clube. Vindo de cidade do interior, não foi fácil. Acordava no meio da noite, coçava o olho e ficava meio assustado, sem saber onde estava exatamente (risos). Cidade grande, né, cara, quase fui atropelado na rua algumas vezes. Mas hoje jogo no adulto, a responsabilidade é diferente, é maior. Minha namorada (Larissa) acaba pegando bastante no meu pé pra estudar, manter a cabeça no lugar

BNC: E como tem sido este começo no adulto? Por vezes noto você um pouco tímido em quadra. Estou certo?
LD: Se eu sou tímido dentro da quadra? Sou tímido até pra falar, poxa. Tô aqui falando com você e estou me tremendo todo, me coçando todo. Fico morrendo de vergonha, mas aos poucos eu vou perdendo essa timidez dentro e fora de quadra. Isso vem com o tempo, né. Jogar no adulto não é que nem no Cadete, que eu tenho mais liberdade pra arremessar, fazer pontos. Aqui tenho que contribuir de outras formas. É um pouco mais difícil pra mim. No começo, na primeira temporada, quando jogava com Marquinhos, Olivinha, Figueroa, que são estrelas de primeira grandeza, ficava bastante nervoso, sentia um pouco a pressão, sim. Tinha que fazer o que todos faziam. Agora você imagina. Tinha 16 anos, e os caras estavam no segundo turno do NBB quando fui incorporado ao time adulto. Não foi fácil, não. Hoje é diferente. Como o elenco é novo, eu não sinto mais tanto assim. Acho que estou mais habituado.

BNC: E como é a cobrança dentro do time? Noto que o Paulinho é o cara que mais conversa contigo, tenta te passar algumas coisas.
LD: Desde o começo dos treinos no adulto o Paulinho é o cara que mais conversa comigo. Explica como foi na fase em que ele era juvenil e treinava no time de cima, e pede para seu ser mais e mais ousado. Preciso melhorar em tudo, né. Defesa, ataque, tudo, e sei que eles estão aqui pra me ajudar.

BNC: Muita gente fala que você é o ala (posição 3) do Brasil para a Olimpíada de 2016. Você tem 17 anos agora, joga na ala há um. Isso te assusta?
LD: Não sei nada da minha vida ainda, sério mesmo. Sonhos todos têm, eu tenho os meus, mas não costumo falar muito sobre isso, não. Tento focar só no que eu quero e pronto. Converso com apenas ela (ele aponta para Larissa, que está a seu lado), ela me ouve e seguimos. Não dá pra ficar ouvindo tudo o que os outros falam, não. Ainda sou adolescente, né. As pessoas vivem falando essa coisa de seleção brasileira, de ser o ala do Brasil no Rio-2016, mas, poxa, eu não sou nem titular do time adulto do Pinheiros ainda, entende? Não é fácil ficar ouvindo isso, ficar ouvindo as expectativas dos outros. E de ala ainda, né, cara! Eu era um pivô, e em menos de um ano estou virando ala, virando um jogador da posição 3. E já falam que vou estar na seleção (risos). Não tem como falar o que vou ser como atleta em cinco, seis anos. É impossível fazer qualquer tipo de previsão agora. Não sei de nada, não sei mesmo.

BNC: Muito bacana essa sua 'trava', esse freio que você mesmo coloca nas expectativas dos outros. Mas sei que o Pinheiros tem feito um trabalho muito legal, bem específico, com você na parte física e técnica para te desenvolver.
LD: (interrompendo) Sim, muito bacana o que tem sido feito comigo aqui todos os dias. Meu ídolo é o Kevin Durant, é o cara que mais me espelho. O (técnico) Zé Luis me passa treinos específicos em que olho os vídeos do Durant, por exemplo, e tento fazer igual. Vejo o vídeo, os movimentos e vou pra quadra. Aquele passo mais largo que ele dá antes de arremessar eu tento fazer igual, mais para pegar fundamento, jogadas, tudo isso. Chego em casa, olho na internet os vídeos do Durant, de outros grandes jogadores, é muito bacana. Se não fizer isso minha namorada me mata (risos).

BNC: Por fim, como foi lá no Jordan Classic, evento que reúne os melhores jogadores com menos de 18 anos do mundo. Você foi simplesmente o MVP da competição. Ficou surpreso?
LD: Foi legal demais lá. No começo dos jogos lá eu comecei fazendo falta, sendo precipitado no ataque. Estava bastante nervoso, obviamente. Aí falei com o Breno (técnico do Juvenil), melhorei e acabei ganhando o prêmio. Quando ganhei o prêmio, chorei um pouco e não acreditava que havia ganho. O cara do microfone falou meu nome duas vezes, e eu não conseguia levantar da cadeira para receber o troféu. Estava tão surpreso que mal conseguia me mexer (risos). Ganhar um prêmio em um evento como esse, do Michael Jordan, foi uma honra grande pra mim.

Abaixo pequeno bate-bola e vídeo de duas enterradas dele contra Bauru no último sábado
ÍDOLO:
Kevin Durant e meu irmão Diego Dias
COMIDA: Lasagna, Arroz de Forno e Churrasco
FILME: Mulher de Preto
UM AMIGO: Nicolas (jogador do Pinheiros)
UM TÉCNICO: Danilo Padovani (Pinheiros)
UM SONHO: Dar uma vida melhor pra minha família e jogar na NBA

Sobre o blog

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