Minha análise sobre o primeiro ato de Zanon como técnico da seleção
Fábio Balassiano
30/09/2013 01h43
Em primeiro lugar, é importante dizer o seguinte: a ideia de Zanon e da Confederação (ponto pra Vanderlei), de renovar a seleção brasileira, é corretíssima (e compartilhada aqui por este blogueiro há anos). Fazia-se necessária uma quebra de paradigma na seleção, com a entrada de meninas com potencial imenso mas com poucas oportunidades até mesmo em seus clubes, que preferem apostar nos produtos prontos e que ainda dão resultado no basquete interno. Foi uma nova filosofia de trabalho, um desafio, um risco grande até. Treinador e CBB embarcaram juntos sabendo de todos os obstáculos e estão de parabéns por seguirem nesta linha.
Além disso, duas coisinhas merecem ser ditas antes de passarmos ponto a ponto sobre o que vimos recentemente na seleção brasileira. Acho mais do que fundamental que a Confederação Brasileira dê a Zanon e às meninas um período de treinamentos e amistosos fortíssimo em cada um dos anos que virão de agora pra frente. É ficar uma semana nos Estados Unidos, três fazendo jogo-treino na Europa e por aí vai. Neste primeiro momento não deu, calendário já estava feito, sei disso tudo, mas é essencial para a melhora das meninas que o intercâmbio com os grandes centros esteja na ordem do dia (jogar contra Chile, Argentina e Porto Rico não vai ajudar em absolutamente nada). Outro fator importante que merece ser dito: como é ruim o trabalho de base do basquete brasileiro de um modo geral, e no feminino em particular. Vimos uma seleção brasileira ADULTA com atletas com problemas gravíssimos de fundamento (gravíssimos mesmo, algo que chegou a me assustar pois não imaginava que fosse tão triste assim), de leitura de jogo e de controle psicológico. É algo que precisa ser visto, revisto, pensado e repensado. Não é admissível que uma menina de 19, 20, 21 anos, independente de jogar em seleção, não consiga fazer drible com duas mãos, tenha dificuldade em acertar passes e por aí vai (por aí explica-se, também, o nível técnico abaixo do razoável da LBF).
PONTOS POSITIVOS:
– O próprio processo de renovação merece ser destacado por aqui também
– A evolução de algumas jogadoras em pouquísismo tempo (cito Débora Costa, Tatiane Pacheco, Damiris e Patricia)
– A parte física está muito bem entregue nas mãos de Vita Haddad (o cara é muito bom e as atletas estavam sempre muito bem em todas as partidas)
– A confiança de Zanon nas meninas mais jovens (Tatiane e Patricia, por exemplo, jogaram de titular na frente das experientes Karla e Chuca, e isso merece ser destacado).
PONTOS NEGATIVOS:
– Como chutou de três a seleção feminina na Copa América. Isso é uma lástima e algo que não se via em seleção feminina há anos. Não dá, sinceramente não dá aceitar – e com meninas que não são especialistas em bolas longas.
– A falta de um padrão ofensivo claro. Contra defesas por zona, então, foi uma tragédia, tragédia absoluta. Se a saída do Brasil será sempre arremessar de fora contra marcações por zona temos um problema seríssimo de concepção de jogo e opções táticas (abordei o assunto na semana passada).
– Não há jogo com as pivôs. As gigantes do Brasil só recebem bola quando há rebote ofensivo ou em finais de corta-luzes. As jogadas NUNCA começam com as meninas do garrafão, que tocam muito pouco na bola durante a partida. Ano que vem ele terá Érika de Souza, uma das melhores jogadora do planeta, e eu espero sinceramente que ela seja "alimentada" como merece.
– Intensidade no ataque (as meninas ficavam muito tempo paradas, a bola não rodou e a armadora quase sempre terminava com a bola nas mãos por 10, 12 segundos)
– A convocação poderia ser melhor feita em algumas posições (não levaria Tainá e Chuca, por exemplo).
– Fundamentos, fundamentos e fundamentos. Não vale citar as atletas por aqui, mas menina de seleção adulta que não consegue dar um passe ou que tem dificuldade pra dar drible pros dois lados não traz um bom sinal.
O começo foi bom, satisfatório, pavimentou muita coisa, mas ano que vem o desafio é maior e o time precisará evoluir. Que Zanon, as atletas e a CBB estejam preparados.
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