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Entrevista exclusiva: Lucas Bebê

Fábio Balassiano

29/07/2013 01h54

Os últimos dias têm sido bem agitados para Lucas Bebê. O pivô encontrou com seu ídolo de infância (Zico, na foto – aqui você vê imagens de como isso ocorreu) na quinta-feira, completou 21 anos no dia seguinte (a festa, em sua casa, teve direito a canja de Marquinhos Satã, seu cantor preferido) e embarcou ontem à noite para Atlanta, a fim de treinar com a franquia que o escolheu no Draft da NBA no dia 27 de junho. Ainda sem saber se fará a migração do basquete europeu, onde defende o Estudiantes (Espanha), para a liga norte-americana nesta ou na próxima temporada (entenda mais sobre o caso aqui), Lucas, que ainda não sabia que seu time estava fechando com o pivô mexicano Gustavo Ayon, conversou com o blog em papo descontraído na quinta-feira.

BALA NA CESTA: Sei que você tem dado uma série incrível de entrevistas. Qual a pergunta que você mais respondeu desde que foi escolhido pelo Atlanta Hawks no Draft da NBA?
LUCAS BEBÊ: (Risos) Pô, Bala, essa é bem fácil. É a questão da ficha (se a ficha já caiu sobre o Draft). A da seleção tá forte também, sem dúvida. Mas não dá pra reclamar de nada. É o que sempre sonhei (ser escolhido por um time da NBA), então é momento de curtir mesmo. Parece que são sempre as mesmas, mas não posso reclamar, não.

BNC: Tem só uma pergunta que eu não vou conseguir fugir, que é sobre a questão de sua ida agora pra NBA ou não. O que você, pessoalmente, gostaria de fazer? Se você pudesse escolher sozinho, o que faria?
LB: Meu desejo é jogar na NBA, é o ponto máximo da carreira de um atleta e eu nunca escondi isso de ninguém. Só que a gente tem que ser realista, conhecer os nossos limites e saber se realmente eu estou preparado. Isso é bem importante para a minha tomada de decisão. Na minha opinião eu acho que posso estar preparado pra jogar um pouquinho na NBA agora, ganhando muita massa muscular nos treinos, mas talvez pode ser que esteja enganado, que ainda seja prematura a minha ida pra lá. E caso esteja enganado vou ter a humildade de reconhecer isso, voltar pra Europa e seguir crescendo lá para, mais tarde, realizar meu sonho de atuar no Atlanta Hawks. O time está passando por um processo de reconstrução, sei que faço parte disso, mas sei também que há uma série de pivôs lá pra disputar minutos. Tudo isso será pesado.

BNC: Então tá. Vamos pra algumas perguntas diferentes desde já. Sei que uma pessoa que exerce uma influência grande sobre você é a também pivô Érika, que por coincidência também joga no Atlanta (só que no Dream, da WNBA). Como é o relacionamento de vocês, e quais os conselhos que ela te dá?
LB: A Érika é a minha melhor amiga e meio que me adotou na Espanha em um período muito complicado pra mim. Foi depois daquele Mundial Sub-19 de 2011. Ela foi ver um jogo do Raulzinho em que eu também estava na plateia, batemos papo, ficamos ali rindo e a amizade foi crescendo pra caramba. Devo demais a ela, demais mesmo. No tempo que fiquei em Atlanta, depois do Draft, estive direto com ela e foi muito divertido. Tem uma importância gigante na minha vida. Me dá muita moral, mas também dá muito conselho e muita bronca. É uma irmã que tenho.

BNC: A primeira vez que eu o entrevistei, lá em 2010, logo depois daquela Copa América Sub-18 que o projetou pra todo mundo, você me disse que seu sonho era jogar na NBA. Mas depois veio o ano de 2011, o Mundial Sub-19 não foi muito bom, a volta pro Estudiantes tampouco foi boa. Como foi aquele momento, e como foi pra reverter e chegar a ser escolhido no Draft?
LB: Foi uma sequência de coisa "boa", né (risos). Coisa boa de coisas ruins. Teve o Eurocamp de Treviso também, que não foi bacana, o próprio Draft, que acabei tirando meu nome. Foi um período mega frustrante na minha vida. Muito, muito mesmo, mas foi o período que eu mais cresci como pessoa e como jogador, Bala. Ali eu vi que precisaria me esforçar muito pra chegar onde queria chegar. Foi tudo muito ruim, eu nem gosto de lembrar. Hoje eu tô mais na minha, não me exponho tanto em redes sociais, essas coisas. Fui obrigado a amadurecer porque eu não entraria na NBA caso mantivesse aquele comportamento. Já estava claro. As pessoas já não acreditavam mais em mim, Bala. Você sabe bem a fama que eu estava criando. Eu tive que mudar sim ou sim. Ou então era parar de jogar. Não tinha muita escolha, não. Por isso que eu valorizo muito o Draft. Estou desfrutando este momento porque sei que foi duro pra caramba chegar lá. Treinei muito, amadureci muito de dois anos pra cá, ralei demais.

BNC: Essa temporada que terminou na Espanha foi a que eu mais acompanhei, com vídeos e jogos. Vi alguns seus, e sua evolução no Estudiantes em relação ao campeonato anterior foi muito grande, principalmente em termos de confiança. Mas teu jogo, e me corrija se estiver errado, ainda é muito baseado em enterrada.
LB: (Me cortando) Em bloqueio e continuação, né. Mas, pra te ser sincero? Não estou aqui pra criticar ninguém, não, mas é o que eu tinha que fazer na Espanha. Lá funcionava assim e não podia mudar muita coisa. Era o desejo do técnico pra mim. Se eu fizesse mais que isso (bloqueio e rebotes ofensivos) eu ia pro banco. Já teve um período de eu estar com média de 14 minutos, jogando legal, fazendo o que o técnico me pedia, errar dois arremessos e sair de quadra com dois minutos, ficando de fora não só daquele jogo mas também do seguinte. E isso não me preocupa. Foi isso que me colocou na NBA e é isso que vai me manter na NBA. Mas é óbvio, e isso é bem claro pra mim, que eu tenho que evoluir em jogo de poste baixo e outras coisas. Mas eu fui draftado porque defendo bem a cesta e completo bem os passes em enterradas. Simples assim. É meu carro-chefe mesmo. Mas sempre que posso eu treino meu arremesso, movimentos ofensivos diferentes, já melhorei muito neste sentido também. Preciso evoluir, além da parte técnica que te mencionei, muito em força física e sobretudo na leitura de jogo – ofensiva e defensivamente. Isso pra mim é muito claro.

BNC: Mas teu arremesso tem caído bem mais do que nos últimos anos, não?
LB: Ainda bem, né (risos). Olha, cara, eu tive um baita professor na Espanha, que foi meu companheiro de Estudiantes German Gabriel (foto à direita). Ele foi um mestre pra mim, Bala. Foi ele que me fez acreditar que eu poderia acertar um gancho. Um gancho, cara. Como eu acabei me baseando a vida inteira em enterradas e jogadas de força, acabei não dando tanta atenção pra outros golpes. O Gabriel, com muita paciência, é que me fez enxergar que poderia arriscar, mas arriscar essas jogadas depois de muito treinamento. Ele me dizia pra eu não ter vergonha, não ter timidez desde que treinasse as jogadas cada dia mais. O Gabriel um professor e uma inspiração pra mim.

BNC: Seu agente, Arlem Lima, contou uma história bacana pra mim e queria que você contasse pros leitores do blog também sobre sua chegada a Atlanta.
LB: Ah, cara, eu já estava há algum tempo sem treinar devido a uma lesão que tive naqueles treinamentos que a gente faz pras franquias da NBA antes do Draft. Aí fui escolhido no dia 27, pegamos o vôo na manhã seguinte pra Atlanta e chegamos lá pra conhecer as instalações do Atlanta Hawks por volta de oito da noite. Pô, Bala, eu não treinava há séculos. Peguei a bola ali e comecei a arremessar, a correr. Na hora que ouviu o barulho na quadra, o Danny Ferry (gerente-geral da franquia e responsável pela contratação de Bebê) desceu da sua sala e veio me dar os parabéns pela dedicação. Foi bacana. Não foi só por mim que fiz aquilo, mas o mínimo que eu posso dar pro Atlanta é alegria, Bala. Os caras fizeram de tudo pra me ter no time, trocaram escolha no Draft, fizeram o diabo. O mínimo que eu posso dar em troca pra eles é a minha gratidão, meu suor e meu comprometimento.

BNC: E o que mais te impressionou neste primeiro contato com o Atlanta? A estrutura?
LB: Ah, sim, isso sem dúvida. É coisa de outro mundo, surreal. Eu tenho a chave do ginásio, cara. A hora que eu quiser treinar é só chegar lá, abrir com a chave e bater bola. A hora que eu quiser, cara! Cinco, quatro, três da manhã, a hora que eu quiser é só entrar em quadra e pronto. Eu pedi pra dormir no vestiário na primeira noite também, porque queria treinar cedo no dia seguinte, mas o Ferry não deixou, não. Pediu pra eu ir descansar no hotel e tal.

BNC: No dia do Draft, imagino que você deva ter recebido milhares de mensagens, ligações, o diabo. Teve alguma em especial que mexeu com você?
LB: Cara, foram tantas, mas tantas que tem mensagem até hoje no meu Facebook que ainda não respondi. Não é por falta de educação, é falta de tempo mesmo. Minha vida desde aquele dia virou uma loucura de treinos e entrevistas, é até bom avisar (risos). Mas teve uma do meu primeiro treinador, o Rodrigo Kanbach, lá do Central (clube do Rio de Janeiro), do meu amigo Irlan, que me conhece há anos, e também o Fred Varejinho, que jogou muito tempo comigo também. A gente até brincava que era o trio FBI – Fred, Bebê e Irlan. A gente só andava junto, Bala.

BNC: Mudando um pouco de assunto. Os salários da NBA são muito altos, o seu primeiro contrato você já deve ter visto quanto você vai ganhar e o valor é bem bacana. Você já planejou o que irá fazer com o dinheiro neste primeiro momento? Tem alguma coisa que você deseje muito? Um carro, uma casa pros seus pais, sei lá. Tem algo?
LB: Desfrutar eu vou desfrutar um pouco, tem alguns caprichos que eu vou querer me dar, mas tem que ter cabeça, cara. Quando a gente é escolhido no Draft logo depois tem uma palestra da NBA. Lá eles exibiram um documentário pra gente chamado "Broke"(clique aqui e leia mais a respeito). Eu não entendi muito por causa do inglês, que ainda é difícil pra mim, mas a mensagem ali estava clara. Eram atletas que perderam tudo o que ganharam com bobagem, com bobeira. Bala, é papo de perder US$ 100 milhões só com loucura. A NBA nos obriga a ter um assistente financeiro pessoal, e eu terei também pra me ajudar a cuidar desta parte. Não vou dar mole, não, pode ter certeza. Vou querer comprar uma casa pros meus pais em Niterói, mas tudo com muita calma, sem muito atropelamento.

BNC: E como foi lá na Summer League. Eu cheguei a colocar um vídeo seu no blog em que você jogou 12 minutos e deu cinco tocos.
LB: Eu joguei 12 minutos, é? Nem sabia.

BNC: Sim, e os caras da narração estavam te chamando de "The Block Machine" (A Máquina de Tocos), comparando com o Dikembe Mutombo e tal. Como foi este começo lá em Las Vegas na Liga de Verão?
LB: Foi um pouco difícil, cara, porque já tive dificuldade pelo corpo que eu tenho (sou muito magro pra enfrentar os pivôs de lá ainda), mas principalmente porque estava há muito tempo sem treinar. Minha forma física não estava nada boa, mas fiz até que um bom papel na Liga de Verão. Agora vou voltar pra lá, Atlanta, e pode ter certeza que vou treinar igual um maluco, vou me matar na quadra. Já tem uma programação pesada e toda montada pra mim. Os caras são muito organizados.

BNC: E o que eles prepararam pra você?
LB: Tem o Camp do Tim Duncan, que irei participar, um outro em Las Vegas, uma série de atividades na academia, trabalhos específicos de quadra, tudo tabulado aí. Tem três folhas com todas as datas preenchidas até outubro. Até alimentação vai ser uma preocupação deles. Eles vão me fazer comer bem. Ou seja: pelos próximos três meses eles já sabem o que eu vou fazer. É incrível isso. Independente de jogar na NBA ou não quero estar preparado para o que eles exigirem de mim.

BNC: E aula de inglês? Vou te contar uma coisa: teve uma entrevista que você deu, falando em inglês, que a galera do Facebook falou que você estava melhor que o Joel Santana.
LB: (Risos) Mas o Joel é ídolo, Bala (Risos). Isso é outra coisa que eu vou ter que fazer com certeza. Aula de inglês não é com o Atlanta, mas eu certamente vou procurar um professor pra me ajudar. Isso está no meu planejamento também.

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