Como preterido da seleção se tornou um dos responsáveis por parar MVP da NBA no Mundial
Foi em agosto de 2017, na Copa América da Colômbia, que Bruno Caboclo parecia fechar o seu livro na seleção brasileira. Em uma partida insossa contra o México, o ala se negou a retornar à quadra após pedido do técnico Cesar Guidetti e foi dispensado da seleção no próprio vestiário. Parecia o fim de uma jornada que mal havia começado. Muita gente inclusive da Confederação Brasileira de Basketball pregava que o jovem, então com 21 anos, nunca mais vestisse a camisa da equipe nacional.
Aí no final de 2017 chegou Aleksandar Petrovic, o novo técnico da seleção, pro começo das eliminatórias para o Mundial da China que está acontecendo agora em 2019. Desde sempre o croata disse que não havia ninguém descartado, mas com Caboclo às voltas com a Liga de Desenvolvimento ou a própria NBA não havia chance para um primeiro encontro. Até que às vésperas do Mundial Petrovic disse isso em uma entrevista exclusiva ao blog em março deste ano:
"Caboclo tem marcado muito bem no (Memphis) Grizzlies, está atacando com confiança e consistência, e pode ser muito útil para nós. Essa conversa com Bruno e os diretores da CBB é muito importante. Ele tinha 21 anos. Acontece e passou. Todos querem um Brasil melhor. Essa seleção precisa de Bruno Caboclo jogando como atuou na quarta-feira contra o Houston (15 pontos e 7 rebotes). É fundamental essa conversa porque ele é um ala-pivô que faz tudo o que o basquete moderno pede". Bingo.
Caboclo veio, foi integrado ao elenco e tornou-se o ala-pivô titular da seleção brasileira de Petrovic para o seu primeiro Mundial. Tímido na estreia contra a Nova Zelândia, ele teria a missão de, junto com Alex Garcia, segurar simplesmente o MVP da NBA, o grego Giannis Antetokounmpo, na segunda rodada de ontem. Tarefa impossível, certo? Nem tanto e aí eu vou deixar um vídeo que mostra bem como Bruno atuou nesta terça-feira:
Sim, foi um toco decisivo em cima do MVP de uma temporada da NBA para ajudar a dar a vitória ao Brasil. No lance seguinte, o próprio fez a famosa "limpada" no aro, algo que no basquete internacional é válido, mas na liga norte-americana não. Ligado na tomada, Caboclo foi esplêndido quando mais se esperava dele.
Ao todo Caboclo esteve em quadra por 35 longos minutos, apanhou 10 rebotes, teve 8 pontos, roubou duas bolas e teve um toco. Ao todo, 17 de eficiência, a segunda maior marca brasileira (Varejão teve 27) em uma atuação cujos números não dizem tudo. Do outro lado, o ser humano marcado por ele, Giannis, o MVP, saiu-se com apenas 13 pontos, mas o mais importante: apenas sete arremessos de quadra e apenas uma enterrada, a especialidade do craque helênico. Na única tentativa de cravada de Giannis, Bruno deu-lhe uma bela marretada, afastando-o, com falta, é verdade, de perto da cesta. Intimidação e proteger o aro com força também é válido – e assim foi feito.
É óbvio que o camisa 50 não fez tudo sozinho. O esquema tático de Aleksandar Petrovic foi BRILHANTE do começo ao fim, usando a famosa marcação por zona permitida no basquete FIBA, quase que o tempo todo em cima da fera grega e concentrando no mínimo um homem na sobra da defesa para qualquer eventualidade caso Caboclo não conseguisse, como conseguiu, conter o cara em algum momento. O plano de jogo foi pensado de forma espetacular e a execução foi operacionalizada incrivelmente perfeita.
O mais lindo de se verificar é como o esporte permite novas oportunidades. Bruno Caboclo, selecionado pela NBA em 2014 pelo Toronto Raptors, teve que amadurecer muito nos últimos cinco anos. Errou, errou feio, mas parece estar aprendendo a sobreviver em um ambiente competitivo, profissional e cuja exigência física, mental e técnica é brutal.
O 03 de setembro de 2019 ficará gravado na memória dele e também nas nossas como o dia em que ele, quase carta fora do baralho na seleção brasileira, ajudou a parar o MVP da temporada 2018/2019 da NBA. Que Bruno Caboclo siga em sua caminhada. Aos 23 anos, ele ainda tem muito a crescer.
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