Cinco motivos que explicam por que os Warriors sobram tanto na NBA
Como você sabe, a temporada 2017/2018 da NBA terminou na sexta-feira, quando o Golden State Warriors surrou o Cleveland Cavs em Ohio por 108-85 para fechar a série final em inapeláveis 4-0. Mas o que explica isso? Abaixo coloco as cinco principais razões:
1) Escolhas certeiras no Draft -> Não sei exatamente de onde surgiu isso, mas no Brasil meio que virou um senso comum chamar o domínio do Warriors de "panela", numa alusão à formação de esquadrões de estrelas. O que pouca gente lembra é que três das quatro principais estrelas do time vieram do Draft. E NENHUMA do Top-5.
Foi visualização de cenário, olho certeiro mesmo que fez com que Steph Curry (o sétimo em 2009), Klay Thompson (décimo-primeiro em 2011) e Draymond Green (trigésimo quinto em 2012) chegassem a equipe. Outro que foi selecionado no Draft foi Harrison Barnes, o sétimo em 2012. Barnes saiu pra chegada de Kevin Durant dois anos atrás. Não custa lembrar que mesmo já em espiral de vitórias e com picks mais altos a franquia conseguiu se virar e achou o pivô Kevin Looney, trigésimo em 2015 e presente na rotação do time nesta temporada.
Escrevi isso ano passado e repito: o Warriors campeão é fruto de planejamento e organização. Kevin Durant foi a cereja do bolo de um time que, sem ele, já havia sido campeão e conquistado 73 vitórias em uma temporada regular. O atual MVP das finais de forma consecutiva simplesmente potencializou algo que já era fantástico – e não criou algo que não existia.
2) Foco no resultado e não no teto salarial -> Dono do Warriors, Joe Lacob cansa de dizer aos seus executivos: "Vençam. Este é o maior ativo que vocês podem trazer para a organização". E isso se explica. A NBA tem um teto salarial (de US$ 101 em 2017/2018). Lacob AUTORIZA Bob Myers, o gerente geral do Warriors, a ultrapassar o limite da liga em sua folha salarial mesmo que isso signifique pagar multa de um dólar por cada dólar ultrapassado do teto de US$ 123 mi. Com salários na faixa dos US$ 138 mi em 2017/2018, o Warriors paga multa de US$ 8 milhões pros cofres da NBA portanto e é o maior orçamento da liga ao lado do Cleveland Cavs (com um elenco muito melhor, obviamente).
A razão de Lacob é clara: investir mais significa que o time estará mais perto de ganhar não apenas um, mas vários títulos – como tem acontecido recentemente. Com isso o valor da organização aumentou de uS$ 450 milhões, quando Lacob comprou em 2010, para US$ 3,1 bilhões de acordo com a Forbes. Não é sem razão que Steph Curry, a cara do Warriors de Lacob, receberá quase US$ 160 milhões pelos próximos 4 anos, praticamente o mesmo valor de Kevin Durant, que renovará seu contrato por 4 anos e US$ 156 milhões.
O Golden State já tem uS$ 129 mi comprometidos para 2018/2019. O teto deverá ser de algo em torno de US$ 101 novamente, com taxa nos mesmos US$ 123 mi. Sem contar os novos contratos que serão assinados, a multa já está em US$ 6 milhões. Lacob não está preocupado. Seu foco segue sendo ganhar campeonatos. Salários altos ele recupera com ginásios cheios, patrocínio na camisa, venda de produtos licenciados e no valor final da equipe. Simples, não?
3) Comissão técnica moderna -> Steve Kerr, o treinador do Warriors há quatro anos, foi companheiro de Michael Jordan, dirigido por Phil Jackson e Gregg Popovich, duas das melhores mentes de basquete da história do jogo, e contratado por Myers e Lacob porque mostrou na entrevista de emprego que o Golden State poderia revolucionar a NBA jogando de uma maneira inovadora, revolucionária e diferente – esta que vemos aí com intensidade dos dois lados da quadra, velocidade no ataque e bolas de 3 em profusão.
Isso pode ser exemplificado durante alguns vídeos da temporada 2017/2018 quando um errático Warriors não se encontrava direito no começo da caminhada. O talento estava ali, mas o jogo do time, não. E aí o técnico teve que encontrar soluções. Nem sempre usuais, mas ele foi tentando. Em um dado momento Kerr deu a prancheta para seus atletas dirigirem a equipe durante um jogo.
Maluquice? Não. Ele quis entender a cabeça dos seus jogadores. Foi isso que intrigou os donos da equipe na entrevista de emprego. Como aquele técnico até então calouro iria mexer tanto assim com as estruturas do Warriors? No começo o dono e o gerente-geral duvidaram mas aceitaram a argumentação e contrataram não só as ideias do basquete de funções de Kerr (esqueçam as posições de armador, ala e pivô, pois isso de forma "clássica" não existe mais), mas uma comissão técnica inteira de altíssimo nível.
Tanto é assim que dois de seus assistentes saíram da franquia pra serem técnicos principais em outros times. Luke Walton (Lakers) e Alvin Gentry (Pelicans). Foi, aliás, demanda de Lacob e Myers que os auxiliarem fossem de alto nível, algo que não acontecia com a gestão anterior de Mark Jackson, cujos assistentes eram totalmente subservientes ao treinador principal.
4) Potencialização das habilidades dos atletas com esquema inovador -> Na própria entrevista de emprego Steve Kerr disse como jogaria com o elenco do Warriors. De forma completamente diferente e disruptiva. Com isso Steph Curry foi alçado à condição de MVP duas vezes, Klay Thompson virou All-Star e Draymond Green tornou-se uma estrela da liga.
Não é que Curry não fosse se tornar um craque como se tornou. Talvez virasse. Com Kerr, o camisa 30 se tornou um dos melhores armadores de sua geração e um dos principais responsáveis por transformar a maneira de jogar da NBA. O técnico percebeu que só jogando de maneira diferente ele conseguiria explorar o potencial técnico de seus atletas ao máximo. E só com isso ele venceria. Até mesmo com o maluco beleza JaVale McGee rende com Steve Kerr, sinal de que todos entendem seus papéis e responsabilidades da equipe.
5) Senso altruísta das estrelas -> Andre Iguodala foi trazido pro Warriors pra ser titular. Hoje é reserva. Steph Curry era o MVP de 2 temporadas e foi atrás de Kevin Durant pra reforçar a equipe. Klay Thompson disse que aceita ganhar menos para ficar com o mesmo núcleo do Golden State. O que isso quer dizer? Simples: pra este núcleo do GSW, o que vale é fazer parte de algo histórico, algo incrível, algo muito vencedor. Ninguém faz parte de uma dinastia se não abrir mão de algumas coisas individuais para suceder de forma coletiva. É o que este Warriors ensina. Ah, e é bom dizer: Durant tem 29 anos. Curry, 30. Klay e Green, 28. Iguodala, 34. Ainda há MUITA lenha pra queimar no núcleo que forma uma das melhores formações da história da NBA.
Quer um exemplo final? Steph Curry, que poderia ser o MVP das finais pela 1a vez, estava comemorando o título de sexta-feira como uma criança ao lado de Kevin Durant, que levou o troféu. Perguntado sobre o fato, Curry disse que nunca os dois conversaram sobre isso e que o que vale na verdade são os anéis de campeão que todos do elenco colocam nas mãos quando o troféu Larry O'Brien é levantado. Elementar, não?
Com três títulos nos últimos 4 anos, o domínio da franquia de Oakland na melhor liga de basquete do mundo é incrível e tende a aumentar, já que seus principais atletas são jovens e no auge físico e técnico.
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