Espanhol que abriu mão da NBA, Sergio Llull mira outra medalha olímpica

Quando se fala em seleção espanhola masculina de basquete o nome que vem a mente é o de Pau Gasol. Bicampeão com o Lakers e um dos melhores atletas ibéricos de todos os tempos, ele é a mola-mestra do sucesso de seu país nos últimos anos. Mas não é só Gasol que brilha pelo time de Sergio Scariolo que está no Rio de Janeiro para tentar subir no pódio olímpico pela terceira vez seguida (prata em 2008 e 2012). Sergio Llull, de 28 anos, é um dos melhores armadores do mundo.

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Craque do Real Madrid que conquistou o título mundial interclubes contra Bauru no começo da temporada e o da liga espanhola no final de 2015/2016, Llull, nome frequente na equipe nacional desde 2009, vem para a sua segunda Olimpíada (foi prata com o time em Londres-2012) justamente como o ponto de equilíbrio entre os veteranos Gasol, Juan Carlos Navarro e Felipe Reyes e os jovens Nikola Mirotic, Willy Hernangómez e Alex Abrines. Confira a entrevista exclusiva que fiz com Llull, atleta que se nega a jogar na NBA (foi escolhido pelo Denver Nuggets no Draft de 2009 e logo trocado para o Houston Rockets, que já tentou, sem sucesso, contratar o atleta inúmeras vezes).

BALA NA CESTA: É inevitável perguntar isso logo de cara. Você fez mais uma temporada excepcional pelo Real Madrid e creio que muitos torcedores gostariam de vê-lo na NBA, onde o Houston Rockets já demonstrou inúmeras vezes que quer contar com o seu basquete. Eu sei que o Madrid é um grande clube, mas não tem vontade de jogar na NBA diante dos melhores armadores do mundo?
SERGIO LLULL: Olha, isso é algo que está muito em paz na minha cabeça. Recentemente renovei o meu contrato com o Real por seis temporadas e quando você faz isso é simplesmente para ficar, não para deixar o time no ano seguinte. Estou muito feliz em Madri e me concentro apenas em jogar no meu mais alto nível e em ajudar a minha equipe. Entendo o desejo dos torcedores, mas não é algo que deve mover as minhas decisões.

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BNC: Qual é a sua expectativa para estes Jogos Olímpicos? A Espanha surge como uma dos favoritas, uma vez que vem de duas pratas consecutivas. Dá pra pensar em algo mais, especialmente porque algumas das estrelas da NBA (como LeBron James e Steph Curry) não virão ao Rio-2016?
LLULL: Não dá para te responder isso ainda. De verdade não é possível. Para alcançar as medalhas, temos que pensar dia após dia, jogoapós jogo. Nas Olimpíadas chegam os melhores países do mundo e se pensarmos lá na frente podemos ter problemas desde o início. É algo que não queremos passar. De todo modo, poucos países da história conseguem três medalhas consecutivas em Olimpíadas e podemos alcançar isso. É algo que iremos lutar. Nosso objetivo realmente é chegar ao pódio. Quando conseguirmos isso, veremos quão longe poderemos chegar depois.

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BNC: A Espanha vai jogar contra o Brasil na fase de grupos. A preparação para enfrentar o país-sede é diferente? O que você espera da seleção brasileira?
LLULL: Cada adversário que enfrentamos é um desafio para nós nesta primeira fase. O grupo todo é durissimo, e o Brasil será um embate enorme, grandíssimo mesmo para a gente. Sei que o país tem uma grande selecção, que sempre lutou pelas primeiras posições e, diante de sua torcida, tentará fazer um bom trabalho. Obviamente o fator casa faz a diferença, mas saberemos lidar com isso. Conhecemos todos os jogadores do Brasil. Alguns deles jogam ou jogaram na Espanha, como o Rafael Hettsheimeir, que atuou conosco no Real Madrid, o Huertas jogou contra a gente muitas vezes na época do Barcelona, Neto (Raulzinho) teve um crescmiento enorme atuando na Liga ACB e recentemente o Vitor Benite chegou ao Murcia. Isso sem falar dos atletas da NBA, como Nenê, Leandrinho e Anderson Varejão, e os da Liga Nacional, todos muito bons. Vai ser um jogo difícil, mas primeiro nós temos uma partida contra a Croácia, também de alto nível.

BNC: Além do esporte, o que você espera encontrar no Brasil nestes Jogos? O tema do Zika assusta um pouco ou é melhor não pensar sobre estas questões?
LLULL: Viver os Jogos Olímpicos é uma experiência única para os atletas. Estive em Londres em 2012 e realmente gostei da experiência. Certamente no Brasil viveremos grandes experiências profissionais e pessoais. Todos falam sobre as belezas da cidade. Não conseguiremos desfrutá-la pois estaremos trabalhando, mas será maravilhoso ver a paisagem e apreciar o que for possível. Sobre a Zika, seguiremos os conselhos dados pelo Comitê Olímpico Espanhol para evitarmos qualquer problema. Nosso foco, na verdade, precisa estar na quadra. Qualquer assunto periférico deve ser tratado como tal (periférico).

BNC: Depois de tantas realizações recentes com o Real Madrid e com a seleção espanhola, é possível traçar seu principal objetivo para os próximos anos?
LLULL: Sim e não. Não costumo colocar em palavras o que desejo alcançar, mas acho que cada novo desafio que se apresenta diante de mim é uma oportunidade de melhorar não só profissional, mas pessoalmente também. Meu principal objetivo, no final das contas, é vencer o maior número de jogos que eu disputar a cada ano. Então a cada temporada eu preciso me preparar mais e melhor para ser útil a minha seleção e ao meu clube. É nisso que me concentro a cada minuto.

BNC: Por fim. Recentemente assumiu a presidência da Federação Espanhola o Jorge Garbajosa, ex-jogador histórico da Espanha. Qual é a importância de ter um ex-jogador em uma posição gerencial como esta?
LLULL: Jorge não é apenas um ex-jogador que assumiu um cargo diretivo. Não é isso. Na verdade ele já estava há alguns anos trabalhando na Federação em funções técnicas, administrativas e políticas. Creio que a união de tudo o que ele fez na quadra por nossa seleção e suas capacidades fora dela é que o levaram ao cargo de presidente da FEB. Obviamente que o fato de ele ter sido jogador nos ajuda muito quando temos que dialogar com ele. Os clubes, atletas e técnicos sabem que do outro lado há alguém com experiência esportiva suficiente para analisar os nossos pedidos.