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Bala na Cesta

Técnico da Espanha quer levar seleção feminina a inédita medalha olímpica no Rio-2016

Fábio Balassiano

02/08/2016 14h00

mondelo1Vice-campeã olímpica em 2008 e 2012 entre os rapazes com nomes como Pau Gasol, José Calderón e Ricky Rubio, a Espanha tem tentado construir uma mentalidade vencedora também entre as meninas. Já são duas medalhas consecutivas em Mundiais (prata em 2014, bronze em 2010), mas até o momento nenhuma conquista olímpica.

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O principal responsável por tentar transformar o time feminino da Espanha em uma geração vencedora é Lucas Mondelo, técnico ultra vencedor por clubes locais que assumiu a equipe nacional em 2012 tentando trazer um jogo mais coletivo, uma defesa mais agressiva e uma troca incessante de atletas, aumentando a intensidade durante os 40 minutos para uma geração que mistura a experiência de Laia Palau (36 anos), Lucila Pascua (33), Anna Cruz (29) e Silvia Dominguez (29) a juventude de ótimos valores como Alba Torrens (26), Marta Xargay (25), Astou Ndour (21) e Laura Quevedo (20). O blog conversou com ele sobre a expectativa para o Rio-2016. Nos Jogos do Rio de Janeiro ele espera enfim dar à Espanha a sonhada medalha olímpica.

lucas4BALA NA CESTA: A Espanha tem muitas conquistas com os homens, mas em termos Olímpicos ainda não alcançou tanto tão grande com a seleção feminina. Chegou a hora do país ganhar a sonhada medalha olímpica com esta geração talentosa?
LUCAS MONDELO: Bom, a verdade é que faz alguns anos que temos tentado construir uma mentalidade vencedora não só no adulto, mas principalmente desde a base. Assim é possível ver resultados bastante positivos nos Europeus e nos Mundiais. Realmente esta geração é muito boa, temos essa expectativa de conseguir uma medalha, mas ao mesmo tempo é possível dizer que a igualdade no naipe feminino é imensa. Austrália e Estados Unidos creio que estejam na frente, e logo temos um grupo de seleções conosco, Sérvia, França, Turquia, Canadá e Brasil que podem brigar por medalha. Pequenos detalhes e, por que não dizer, a sorte também irão decidir nossos destinos no Rio de Janeiro.

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mondelo9BNC: É muito notável que, desde que se tornou treinador da equipe nacional em 2012, a Espanha tenta fazer um jogo mais coletivo, com mais velocidade e com marcação muito forte. Você pode compartilhar seus segredos para transformar a Espanha em um dos favoritos para os Jogos Olímpicos?
MONDELO: O principal segredo, além do fato de termos um grupo de jogadoras muito talentosas, disciplinadas e comprometidas com o Programa de basquete feminino da Federação Espanhola, é a leitura de jogo. Ou seja: a partir do momento que nossa leitura de jogo no ataque melhorou, nosso sistema ofensivo fluiu melhor, paramos de desperdiçar bolas e consequentemente nossa defesa pôde ser mais efetiva – e não tanto reativa para tentar corrigir o que não conseguíamos fazer com a bola nas mãos. Essa tomada de decisões mais acertada e colocar a individualidade a serviço do coletivo são os segredos. Há outro fator que gostaria de destacar. Somos um time muito unido.

mondelo10BNC: No ano passado a Espanha não conseguiu se classificar de forma direta para os Jogos do Rio de Janeiro. Jogar o Pré-Olímpico dá ritmo para a equipe, mas a questão do cansaço antes da Olimpíada preocupa um pouco?
MONDELO: Pelo lado de competir em alto nível é bom. Te dá um ritmo, te coloca em posição de testar coisas realmente na prática e mantém todo elenco ligado. Por outro, te faz correr um pouco com a preparação antes da Olimpíada, o que não é bom. Ano passado no Europeu foi meio incrível, porque perdemos um jogo só. O campeão, três. Nós, inclusive, ganhamos da Sérvia naquele EuroBasket. Perdemos a semifinal e tivemos que ir para o Pré-Olímpico. Para te dar uma resposta, para mim foi positivo jogar o Pré-Olímpico Mundial porque precisávamos começar a temporada de seleção de forma mais acelerada. Então foi bom.

erika2BNC: O que você acha da seleção brasileira para estes jogos? Vocês poderão se enfrentar na segunda fase…
MONDELO: Brasil foi, é e sempre será uma grande potência do basquete. Tanto no masculino quanto no feminino. As jogadoras têm técnica e físicos descomunais, e uma das melhores pivôs do mundo, a Érika de Souza, com quem tive a sorte de trabalhar aqui na Espanha. Pode, sim, buscar uma medalha pela qualidade que tem na equipe e pelo apoio da torcida, que certamente será grande. Seria muito perigoso enfrentá-las

trio1BNC: Eu imagino que quando começou a trabalhar com as meninas na Espanha, o Brasil era uma potência que tinha Hortência, Janeth e Paula. Tudo está muito mudado, e a Espanha tem agora uma equipe muito forte, ao passo que o Brasil deu uma caída grande nos últimos anos. Você poderia falar um pouco da mudança do basquete feminino da Espanha de anos pra cá? Foram muitas conquistas de equipes nacionais tanto no adulto quanto nas divisões de base…
MONDELO: Brasil, com este time aí que você cita, tinha o Time dos Sonhos. Foi campeão do mundo e ganhou medalhas. Talvez o seu país tenha baixado apenas um escalão em relação a este Dream Team, mas isso é natural porque esta equipe citada é quase não repetível. Algumas dessas atletas brasileiras, inclusive, são as responsáveis pelo fato do basquete espanhol terem subido o nível nos últimos anos. Primeiro porque aprendemos vendo jogar. Segundo porque algumas delas vieram para cá jogar. Nosso crescimento tem sido gradativo, mas certamente é resultado de muito trabalho por parte das atletas, dos clubes e da Federação.

lucasmondelo1BNC: Uma última pergunta: você consegue descrever a razão do basquete feminino não ser tão popular como o masculino? O que seria uma alternativa para fazer o esporte ser mais popular entre as meninas?
MONDELO: É certo que o dos rapazes é mais acompanhado mesmo que o feminino. Leva mais público, sem dúvida. Mas você pega exemplos de alguns países. Eu tive a sorte de treinar na Rússia e também na China. Nestes países o basquete feminino é muito seguido. Não tanto como no masculino, mas com bons públicos, boas coberturas. Para que a participação aumente, os patrocinadores deveriam investir um pouco mais e os meios de comunicação poderiam ser mais presentes nas coberturas. Assim subiríamos um degrau.

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