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Bala na Cesta

O poder da auto cobrança - como Lucas Dias cresceu e tornou-se protagonista

Fábio Balassiano

23/03/2016 05h00

ld3O ala Lucas Dias, de 2,07m, é um jogador diferente na temporada 2015/2016 do NBB. Titular do Pinheiros, ele está entre os dez melhores da liga em pontos (15,4 pontos), eficiência (15,6), rebotes (5,5) e percentual de arremessos de dois (50%) e três pontos (43%). Evoluindo a cada dia, o ala de 20 anos participou do Jogo das Estrelas pela primeira vez em sua carreira no último fim de semana e conversou com o blog sobre a experiência de jogar entre os protagonistas do campeonato, de sua mudança absurda de um certame para o outro (saltou de 11 para 31 minutos por jogo), de quão importante foi o título da Liga de Desenvolvimento para a sua evolução e de como a auto cobrança faz dele um atleta melhor a cada dia.

ld1BALA NA CESTA: Lucas, em primeiro lugar, qual a sua emoção ao participar pela primeira vez do Jogo das Estrelas? Você já havia disputado o Torneio de 3 Pontos, fez o mesmo este ano, mas o Jogo, jogo mesmo, é a sua estreia.
LUCAS DIAS: É muito gratificante, sem dúvida alguma. Venho treinando muito no Pinheiros, treinando duro mesmo, e estar em um Jogo das Estrelas é o reflexo do que tenho feito no dia a dia com a minha equipe. Estou tendo essa oportunidade de jogar mais no adulto, e o trabalho tem aparecido. Nesta temporada tenho jogado mais, com mais minutos em quadra e com papel de mais destaque. Creio que ter ganho o título da Liga de Desenvolvimento (LDB) me ajudou muito a ter mais confiança, a acreditar mais em mim.

lucas1BNC: O que mudou mais em você desde aquele MVP que você ganhou no Jordan Classic em 2012 para hoje?
LD: Com certeza o amadurecimento. A gente cresce na adversidade, né. Muita gente já havia me descartado, mas eu tive personalidade e força para crescer, amadurecer com tudo o que passei. Isso mexeu bastante comigo, me motivou a treinar mais e mais. Muitas pessoas me ajudaram a seguir acreditando em mim também, principalmente minha namorada, meus familiares e amigos mais próximos. O Humberto mesmo, meu companheiro de Pinheiros há tanto tempo, me deu muita força. Quando estava desanimado, me puxava pra cima. Vinha treinar comigo, me levantava mesmo. O próprio Shamell, que hoje não está mais conosco no Pinheiros, sempre que pode me dá um toque, me dá conselhos. Agora eu acho que chegou a minha vez.

lucas14BNC: Pergunta difícil: você está jogando bem e por isso está tendo mais tempo de quadra ou está tendo mais tempo de quadra e por isso está jogando bem?
LD: A quadra, ter minutos de jogo, ajuda muito, sem dúvida. Lembro que quando comecei muita gente falava: "Ah, o Lucas é diferente". Isso me chateou um pouco mas tive força para me recuperar. Agora chegou meu momento e vou fazer de tudo para manter neste nível e subir mais e mais. Estou me sentindo muito bem no Pinheiros com as funções que tenho atualmente, e sou muito grato por todos os que me ajudaram desde que cheguei ao clube também.

ld2BNC: Sobre sua personalidade que você tem falado, o que mais mudou?
LD: Certamente estou cobrando mais de mim mesmo. Antes eu me cobrava, mas eu mesmo não acreditava tanto em mim. Desde que assumi o papel de líder na LDB, quando fomos campeões, eu me sinto mais preparado para ir bem, jogar melhor ainda. Nesses três anos de LDB a gente sempre ficou batendo na trave de ser campeão, e nesta temporada conseguimos. Coloquei na minha cabeça que teria que ser, me preparei e junto dos meus companheiros consegui o objetivo de levantar o troféu como capitão. Outra coisa que mexeu muito comigo foi o período de treinos que tive nos Estados Unidos. Voltei muito mais forte fisicamente, tecnicamente e sobretudo mentalmente. Lá eu vi como deveria continuar a trilhar a minha carreira. No Paulista eu comecei alguns jogos no banco e fiquei muito bravo. Antes eu ficaria bravo com o clube, com o técnico, mas dessa vez eu fiquei muito chateado é comigo mesmo. Passei a me cobrar mais, a treinar muito mais e tem dado certo.

lucasdiasBNC: Você hoje em dia está com média de mais de 16 pontos no NBB, mas não só isso. Você está no Top-10 de pontos, eficiência, percentual de conversão de arremessos e rebotes no NBB. Você está no Jogo das Estrelas, mas como é sair de um estágio em que você quase não jogava, como nos últimos anos, para ser um dos protagonistas do NBB na temporada?
LD: Prova que o trabalho dá certo, Bala. E tenho que voltar a falar da LDB. O papel de protagonista que tive no time foi fundamental para eu entender quão longe eu posso ir, quão longe eu posso chegar. Cada ano que passa, agora, eu me coloco um desafio maior na minha carreira. Vou me adaptando, evoluindo e estou colhendo os resultados disso. Lembro da final da LDB contra o Minas. Havíamos perdido deles na fase anterior. Cheguei no vestiário antes do jogo, fiz o meu papel de líder, motivei a galera e saímos com o título. Era minha função (de líder) e assumi isso. Ter assumido isso me ajudou muito. Quando não jogava com o adulto ficava muito mal de cabeça, mas eu só consegui sair disso quando entendi que dependia muito mais de mim do que de qualquer outra pessoa. Este vai ser o meu ano.

ld6BNC: O que você está pensando para este final do seu ano então? Olimpíada, Europa, NBA?
LD: Bala, eu aprendi. Tem que ser passo a passo. Qual o meu foco atualmente? O playoff do NBB. Depois do mata-mata do NBB a gente vê o que vai fazer. Somos uma equipe jovem, e temos um caminho muito bom para seguir no Pinheiros. Conquistar uma vaga em uma competição internacional para o clube seria muito legal. Sobre seleção, é óbvio que desejo jogar uma Olimpíada, ainda mais em casa, mas não depende exclusivamente de mim. Vou fazer de tudo, vou lutar muito para que isso aconteça, mas sei que tem muitos jogadores que pensam a mesma coisa e que pode não acontecer pra mim. Vou ficar muito contente se eu for, mas não vou cair se eu não for, não. Tudo vem pelo que você faz na quadra. Tenho um caminho e vou seguir focado nele.

ld8BNC: Lembro que quando eu comecei a ver o seu jogo era muito claro pra mim que a parte física você precisava evoluir. Nos jogos de contato você sentia muito, era nítido. Hoje em dia isso mudou e você, em português claro, vai pra briga e pra disputa física sem medo algum. Onde mais você precisa evoluir?
LD: Desde que eu cheguei no adulto as pessoas falam que eu chuto muito de três, né? Mas isso não é necessariamente um defeito. A questão é como fazer – e quando fazer. Nesta temporada minhas médias aumentaram e ninguém mais fala disso. E por quê? Porque eu não faço mais só isso. Antes de cada jogo eu visualizo contra quem irei jogar e tento analisar como posso ter vantagem em cima do adversário. Se é um cara menor, vou pra perto da cesta (poste baixo). Se for mais alto, tento jogar um contra um pra infiltrar e bater pra cesta. Mas o que acho que preciso melhorar muito, muito mesmo é a defesa. Defesa não é só treino, mas sim querer. Eu tenho que querer marcar o melhor pontuador do outro time, dificultar a vida dele. Já melhorei bastante nisso, mas preciso e posso melhorar mais. Morro, que é o paizão lá do clube, ele fala muito sobre essa parte de marcação e eu ouço muito o que ele tem pra me dizer.

kd2BNC: Sei que o Steph Curry é de outro mundo, mas quem você olha, seja na NBA ou aqui no Brasil mesmo, que te inspira a ser melhor do que você já é hoje?
LD: O Curry é incrível mesmo. A fase dele é espetacular e admiro muito o que ele tem feito para o seu time e pela NBA. Mas pra mim, o que devo olhar, sempre vai ser sempre o Kevin Durant mesmo. Pelo biótipo, pela semelhança física que tenho. O cara faz tudo – arremessa, dribla, passa, marca bem. É em quem me espelho muito.

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