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Bala na Cesta

Rinaldo, Liga Sorocabana, NBB e o amadorismo do esporte brasileiro

Fábio Balassiano

26/12/2015 01h58

rinaldo1E lá vamos nós de novo. O Natal, aquele momento em que eu deveria falar de coisas mais tranquilas, passou mas é impossível não falar do assunto. Você já deve ter ficado sabendo que domingo passado, em Sorocaba, aconteceu o segundo W.O. da história do NBB (o primeiro foi em 2014 aliás). Irritado após levar duas faltas técnicas, o técnico da equipe local, Rinaldo Rodrigues (foto), tirou sua equipe de quadra. A arbitragem, por sua vez, aplicou as regras e deu a vitória a Franca por 20-0. Como bem disse a Nota Oficial da Liga Nacional de Basquete, "Os relatórios da arbitragem e do delegado da partida serão encaminhados para a Comissão Disciplinar, que após analisá-los, avaliará as possíveis punições". Ou seja: ainda haverá muita coisa nessa história toda. Links de apoio e imagens aqui, aqui, aqui e aqui. E há muito para falar, né? Vamos nessa:

rinaldo21) Também houve algo BEM triste na Liga Argentina nestes dias. Na partida entre San Lorenzo e Peñarol até Sergio Hernandez, o técnico do Peñarol, se envolveu na briga (aqui e aqui). A diferença? O Ovelha pediu desculpa e disse que estava arrependido pelo péssimo exemplo que deu. Por aqui? Rinaldo age como se desse para corrigir a situação. Não tem, claramente, noção do dano que causa não à imagem dele e de seu time, mas do NBB e do basquete brasileiro quando assuntos como o de domingo ganham espaço na imprensa.

rinaldo32) Acham que foi o único problema que aconteceu no domingo? Não mesmo. Os sorocabanos foram punidos em R$ 2 mil. Não pelo W.O., mas sim por "não providenciar Ambulância e pelo menos um desfibrilador, disponíveis até o horário previsto para o início da partida e por decorrência disso a partida sofrer atraso", como mostra Nota Oficial no site.

2.1) Aqui, aliás, cabe uma perguntinha rápida: sei que há essa questão da Comissão Disciplinar, do STJD, de todas as instâncias do esporte, mas a Liga Nacional e seus tribunais precisam ser mais rápidos para julgar casos graves como o de domingo. Esperar até 2016 para dar uma solução para algo que parece cristalino (de como ocorreu) e também uma resposta à sociedade não me parece adequado. No dia 22/12 mesmo a Liga Sorocabana jogou em casa (contra Bauru) como se nada tivesse acontecido. Poderia haver uma espécie de "tabela automática" de punições. Exemplo: Provocou W.O.? Perde dois pontos e paga R$ 50 mil reais à LNB.

rinaldo42.2) Aos que falam que a arbitragem brasileira é horrorosa e que deixa todos (jogadores, técnicos e dirigentes) por aqui malucos de raiva, eu só digo o seguinte: concordo com tudo isso. Mas há um ponto bem básico nesta discussão: não é saindo da quadra que você vai melhorar a situação. Para desenvolver os juízes deste país só há uma solução: investir em treinamento pesado para a turma do apito. E isso, creio, cabe também aos clubes, que devem pressionar URGENTEMENTE à Liga Nacional de Basquete para que isso aconteça o quanto antes.

3) Respeito Rinaldo, que sempre me tratou muito bem (educadamente inclusive) e que de fato é um amante do basquete em Sorocaba, mas este não é o primeiro caso (digamos assim) polêmico envolvendo seu nome. Sua folha de histórias bizarras no basquete é recheada, e se eu não enumero aqui os últimos acontecimentos é pelo simples motivo que ele irá negar, se fazer de vítima e mostrar que os errados são sempre os outros. Médico e Monstro total.

nbb14) Dito isso tudo, creio realmente ser mandatória que a discussão seja ampliada. Rinaldo Rodrigues é, talvez, o maior dos expoentes dos dirigentes amadores que temos por aqui. E uso o termo "amadores" no sentido de amarem o que fazem, mas sem possuir base "científica" para exercer as funções que desempenham – presidente, diretor, dirigente, técnico, financeiro etc. . Ele, porém, está LONGE de ser o único dessa linhagem. Com raríssimas exceções, o basquete brasileiro é amador, viciado em práticas tão antigas quanto abomináveis. O resultado disso? O produto "esporte brasileiro" nem de longe consegue colocar a excelência em primeiro lugar para seus consumidores. Além do amadorismo, convivemos muito facilmente com dirigentes HORROROSOS como se isso fosse normal (não, não é!). Times abrem e fecham com facilidade por aqui. Equipes com salários atrasados são uma praga de 30, 40 anos por aqui. Quase todos por aqui vendem o almoço para pagar o jantar. Quase todas as equipes que disputam o NBB em 2015/2016 não sabem COMO (e SE) disputarão o NBB em 2016/2017. Que tipo de planejamento é esse? Que tipo de gestão é essa? Por quê precisamos ser assim tão baixo nível assim em todos os princípios básicos de gerenciamento esportivo? Será que não aprendemos nada de útil nos últimos 40, 50 anos com as grandes empresas que por aqui surgiram ou cresceram para aplicarmos ao esporte? Nada mesmo?

bandeira15) Ampliando ainda mais o olhar. Com raríssimas exceções, o esporte brasileiro é amador (e falo isso nos últimos dias do ano que é véspera de uma Olimpíada, hein…). As práticas por aqui são, com todo respeito, deprimentes, retrógradas, antiquadas e que nem de longe mostram para que lado caminha o (palavrinha mágica) negócio chamado esporte no mundo atualmente (sem falar na conhecida falta de transparência).Está aí a CBB que não me deixa mentir. Olhem o mercado de trabalho em que vocês estão inseridos. Alguma prática do dia a dia é minimamente copiada no esporte brasileiro? Vejam aí o futebol, que mesmo com rendas cada vez mais crescentes consegue ver quase todas as agremiações fechar no vermelho ano após ano. O Flamengo, com sua diretoria de cabeça arejada capitaneada por Eduardo Bandeira de Mello (foto), não é oitava maravilha do mundo, mas vai pro lado contrário, evitando novas dívidas e pagando débitos antigos – ainda bem! Faz o mínimo, o básico, e já é muito quando comparamos com outros clubes.

lnb16) Voltando ao basquete. Repito o que falo há tempos: a Liga Nacional veio para salvar o basquete brasileiro da draga em que estava inserido há oito anos. Este é um mérito que ninguém tirará da turma da LNB. São todos, por lá, bem intencionados e que trabalham para fazer a modalidade evoluir a cada dia. Mas a verdade, vendo hoje (2015), é que a Liga, que tem uma parceria com a NBA (o maior exemplo de gestão profissional esportiva do planeta provavelmente), já pode, sim, começar a cobrar FORTEMENTE mais profissionalismo dos clubes que participam do NBB – e deve ser cobrada por imprensa e sociedade a aplicação de medidas preventivas e punitivas também. Não dá mais para aturar algumas coisas que vemos no basquete. Como diz um amigo, entrar no NBB há sete, oito anos atrás, era uma questão de querer. Atualmente, deveria ser uma questão de poder – e conseguir entregar soluções razoáveis em termos de gestão esportiva (dentro e fora da quadra).

nbb2A conclusão é óbvia. Se Rinaldo Rodrigues errou no domingo passado (e errou, claro!), ele está LONGE de ser o único problema que o NBB tem atualmente. Quantos times estão com salário atrasado? Todas as quadras possuem realmente condição de jogo? Os ginásios foram vistoriados de um ano pra cá, como deveria ter sido feito? Os placares e pisos do Ministério do Esporte estão mesmo sendo utilizados em todos os jogos? Quantos times possuem departamentos organizados em suas estruturas (financeiro, marketing, comunicação, fisiologia etc.)? Poderia fazer, aqui, umas 100 perguntas básicas sobre gestão e creio que, em um levantamento com os 15 times, 90% delas teria resposta não muito positiva.

O que espero para 2016 é, sinceramente, que a Liga Nacional de Basquete tenha rigor nas prevenções e cobranças a TODOS os times não para que as bizarrices que vimos no domingo tenham punições exemplares e/ou pesadíssimas, mas simplesmente para que não aconteçam mais por aqui. Já passou da hora do basquete brasileiro tirar de cena dirigentes que possuem (ou fazem parte de) times apenas porque amam a modalidade mesmo sem ter tino algum de gestão para gerenciá-los como o esporte mundial de primeiro nível exige.

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