Sobre a escolha de Antonio Carlos Barbosa como técnico da seleção feminina
A Confederação Brasileira de Basketball foi rápida: três dias depois de ver Zanon pedir demissão do cargo de treinador da seleção feminina a entidade máxima anunciou Antonio Carlos Barbosa como o novo técnico da equipe nacional até as Olimpíadas de 2016. Será a terceira passagem de Barbosa na seleção (antes dirigiu entre 1976 e 1984 e de 1998 a 2007). Vamos lá ao que acho do assunto:
1) Antes de entrar na parte técnica da coisa vale lembrar, obviamente, de uma coisinha bem interessante: Barbosa foi cabo-eleitoral de Grego nas últimas eleições da Confederação Brasileira (veja mais aqui e aqui). Em conversas, CANSOU de criticar o presidente Carlos Nunes, vencedor do pleito contra Grego, e os rumos que a Confederação Brasileira tomou. De uns tempos pra cá, sua (dele) postura mudou e (vejam que surpresa) o treinador passou a ser figurinha certa nas clínicas técnicas que a entidade máxima faz pelo país (aqui um exemplo). Eu não sei bem que tipo de remédio de esquecimento ou de desprendimento essa galera toma, mas que ele (o remédio) deve ser muito eficiente, isso deve.
2) Outro ponto interessante: os clubes do Colegiado foram ouvidos acerca dessa escolha? Até onde me consta, a resposta é um sonoro "não". Se não foram, creio que a Confederação Brasileira errou mais uma vez. Não pela escolha de Barbosa em si, mas principalmente por se fechar completamente ao diálogo com as agremiações que estão, como se sabe, com a faca nos dentes e prontos para brigar até a última gota. Pelo que me soube, alguns dirigentes do Colegiado procuraram a CBB para uma conversa, mas não houve avanço (a CBB não quis muito papo até onde sei). Não sei exatamente o que irá acontecer, mas temo pela reação do colegiado a menos de 30 dias da apresentação das atletas (em 6 de janeiro) para o evento-teste que acontecerá no Rio de Janeiro no primeiro mês do ano. Se os clubes não foram ouvidos será outra prova da falta de habilidade política e de comunicação de Carlos Nunes, Vanderlei e de toda entidade.
3) Agora sim entrando no nome de Barbosa em si. É óbvio que não era uma escolha fácil. Se o universo do basquete feminino já é pequeno (restrito, reduzido), que dirá excluindo os seis técnicos dos clubes da LBF (seria dar, em português claro, de mão beijada a solução que os clubes queriam – e a vaidade da turma da CBB não permitiria isso jamais). Ou seja: restavam mesmo poucas opções para que a Confederação Brasileira apresentasse um novo nome. Optou-se, portanto, por uma solução com histórico na modalidade, bom número de vitórias na seleção e que navega muito bem pelo meio político da entidade (algo que hoje em dia vale muito, tendo em vista o caos que se instalou no esporte de uns tempos pra cá). Barbosa sabe que entrará em um caldeirão bem quente e precisará de habilidade para transitar com clubes, atletas, dirigentes da CBB e tudo mais.
4) Pessoalmente falando acho um nome muito aquém do que o basquete feminino brasileiro precisa neste momento. Não falo pela questão da idade simplesmente porque acho isso uma bobagem (há mentes abertas com 80 anos e outras obtusas com 25), mas sim pela forma como o novo treinador armou seus times durante toda carreira (jogo muito individualizado, rotação curta, defesa muito frágil e carga tática abaixo do esperado contra rivais mais fortes). A modalidade carece de ideias novas, de pensamentos arejados, técnicos que vêm de escolas bem diferentes mesmo. Não é o caso de Antonio Carlos Barbosa, que tem, sim, um currículo pra lá de invejável (medalha de bronze na Olimpíada de 2000) e que merece todo respeito pelos serviços prestados ao basquete, mas cuja escola é a mesma que comanda a seleção nacional há 30, 40 anos (ele assumiu a equipe nacional em 1976 e isso já diz muito). Pensar fora da caixa para a CBB (em qualquer assunto) é absolutamente impossível, né?
5) Outro ponto importante: o que a CBB fará com o seu projeto de renovação? Porque os perfis de Zanon (o antigo comandante) e Antonio Carlos Barbosa (o novo) são BEM diferentes. Nos tempos em que comandava a seleção no final do século passado e no começo deste Barbosa se notabilizou por manter as veteranas na quadra por muitíssimo tempo, não abrindo espaço para a nova geração que estava nascendo. A melhor delas, a Vice-Campeã Mundial Sub-21 mesmo, teve pouquíssimas oportunidades com o treinador. Falar em filosofia no atual estágio, nesse turbilhão de emoções, me parece complicado para a Confederação, mas considero pertinente que ela tenha isso em mente (se é que a entidade máxima tem algo em mente no longo prazo…). O fato cristalino é: as veteranas que estavam fora da seleção há tempos devem estar bem animadas com a possibilidade de disputar as Olimpíadas no Rio de Janeiro em 2016. As jovens, não muito.
A conclusão é que, apesar de ter uma história marcante e importante no basquete brasileiro, Barbosa é o nome mais confortável (não o mais apropriado) para uma Confederação Brasileira cujo presidente (Carlos Nunes) tem pouquíssimas boas ideias para qualquer tema (administrativo, de comunicação, parte técnica ou financeira). Optou-se por alguém com lastro, sem dúvida, mas que não vivencia a modalidade há duas temporadas (se afastou do Maranhão Basquete depois da LBF de 2013/2014) e cujo método de trabalho não me parece o mais recomendável para uma modalidade que precisa se reinventar com ideias novas, bebendo em novas fontes e ganhando conhecimento de algo que nunca viu. Não será o caso.
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