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Bala na Cesta

Defesa, o fator-chave do Cleveland para ter empatado a final da NBA

Fábio Balassiano

08/06/2015 13h00

blatt1Falei sobre David Blatt aqui antes da final da NBA. Vindo da Euroliga, um "outro mundo, outro basquete", como dizem os norte-americanos, o técnico teve que se provar (e ir se provando) a cada instante em sua temporada de estreia na melhor liga do planeta. Passou, inclusive, por uma (vá lá) provação contra LeBron James, que fez uma imensa queda de braço contra ele (e isso ninguém nega). Cada um pode ter o seu próprio juízo de valor a respeito do talento do técnico do Cleveland Cavs, mas um pouco de atenção no que ele tem feito nesta parte final de playoff dá bem o tom da qualidade dele.

blatt3Após perder Kevin Love na primeira partida do playoff, Blatt teve que ir moldando o seu Cleveland de maneira diferente. Menos técnico, menos "aberto" no ataque, menos bonito, mais pegador, mais físico, mais atlético, mais, enfim, preparado para defender quem viesse pela frente.

Contra o Atlanta, na final do Leste (4-0), e agora contra o Golden State Warriors, na empatada final da NBA (1-1 após a vitória de ontem em Oakland), foi a hora de fazer diferentes ajustes (sobretudo quando jogou sem Kyrie Irving, lesionado nas duas ocasiões e ausente até o começo da próxima temporada).

Contra times com poderio forte na linha de três pontos e com bom volume de pontos em contra-ataques, Blatt não fez com que seu time impedisse que os dois rivais chutassem (isso seria complicado mesmo). O técnico fez com que seus atletas forçassem "piores" arremessos dos adversários, fechassem as linhas de passe e pressionassem a bola desde o começo da posse rival (evitando o jogo de transição). Dá só uma olhadinha na tabela abaixo (os números contra o Warriors estão ponderados para 48 minutos):
numeros2

della1É óbvio que ter LeBron James no ataque ajuda o "ferrolho" a funcionar. O camisa 23 (44 e 39 pontos) tem conseguido segurar a onda e recebe a valiosa ajuda do cada vez mais confiável russo Timofey Mozgov (16 e 17 pontos). Mas é na defesa que os Cavs têm conseguido fazer com que esta final seja um duelo realmente equilibrado. Se em termos técnicos é de fato um time inferior (ou ficou inferior com as lesões de Varejão, Love e Irving), só haveria uma maneira de tentar chegar ao tão sonhado título – defendendo loucamente o perímetro, grande força do rival. Ajuda, claro, ter um alucinado como Matthew Dellavedova marcando Steph Curry como foi ontem (o MVP teve 0/8 e 4 erros contra o australiano), mas o fato é que a estratégia de David Blatt na defesa tem funcionado como ele imaginou antes do duelo. Detalhe final que comprova a tese: os Warriors têm apenas 91,1 pontos por 48 minutos no duelo, número bem menor que os 108,9 da temporada regular (17,8 de diferença). Jogando muito mais no um-contra-um (isolamentos) do que em jogadas armadas, o percentual de conversão cai e, naturalmente, os pontos também diminuem.

lebron1Aqui, aliás, cabe uma observação interessante. Muita gente tem achado esta final mal jogada. De fato ela não é um primor técnico (longe disso), mas um fator faz com que as partidas tenham se decidido muito mais no setor defensivo do que propriamente pela qualidade dos dois ataques: os dois ajustes feitos pelos técnicos na marcação têm sido um sucesso. David Blatt ao diminuir a conversão nas bolas de fora do Warriors. E Steve Kerr ao limitar que os companheiros de LeBron arremessem livres (conversão alta) e que tenham volume alto de chutes nesta série. Somando as duas coisas dá pra sentir como pontuar torna-se uma tarefa pra lá de complicada.

blatt7E o que quer dizer isso tudo para o restante da série? Talvez muito, talvez nada. Steph Curry disse após o jogo 2 de ontem que não repetirá uma atuação tão ruim como a deste domingo quando errou 13 arremessos de três pontos (recorde negativo nas finais da NBA) e é provável que seu desempenho melhore mesmo (ele é o MVP…).

Mas a verdade é que o jogo físico, mascado, de pressão constante na bola, incomoda aos Warriors. E esta foi armada e pensada por David Blatt para esta decisão da melhor liga do planeta, não custa lembrar. É hora de reconhecer de vez o talento do treinador do Cleveland, né?

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