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Bala na Cesta

Sobre a vinda de Lucas Bebê e Bruno Caboclo para o Brasil no Carnaval

Fábio Balassiano

27/02/2015 13h25

duplaLi bastante coisa e deixei a poeira diminuir um pouco para escrever sobre a vinda de Bruno Caboclo e Lucas Bebê para o Brasil no Carnaval (no período em que a a NBA liberou seus atletas devido a All-Star Weekend). Vamos lá exatamente ao que penso:

1) Em primeiro lugar, eles NÃO erraram. Havia um período livre (e grande) dado pelas franquias aos atletas durante o All-Star e ambos optaram por vir descansar com seus familiares e amigos. Errado seria se eles não tivessem sido liberados e tivessem pego um avião e sumido. Não foi o caso.

lucas22) Muda nada para mim se os dois vieram para o Carnaval, para uma praia ou para uma casa no campo. Eles que façam o que acharem melhor. Que vão para os lugares que queiram, onde se sentem felizes. Acho tenebroso "vigiar" a vida de atleta em relação a ações fora da quadra e na idade deles faz todo sentido que curtam como bem queiram. Se eles optaram por estar na Sapucaí vendo os desfiles das Escolas de Samba do Rio de Janeiro, algo que já fiz e continuo fazendo quando posso, opção deles (e não há absolutamente nada para se criticar nisso).

3) Não tenho, e nem nunca tive, intenção de ser amigo de qualquer atleta. Gosto muito dos dois, torço realmente pelo sucesso de Lucas e de Caboclo (e conheço ambos há tempos), mas se não concordar ou gostar de qualquer coisa que ache que deva ser dito o farei (como sempre fiz e farei). Meu trabalho aqui não é ajudar a ninguém, mas sim analisar o basquete da melhor maneira possível (dentro do MEU ponto de vista). E vocês concordarem ou discordarem também faz parte disso (com educação podem dizer sempre o que quiserem).

caboclo34) Meu ponto para ficar um pouco preocupado com a vinda deles ao Brasil baseia-se em três coisinhas:

      4.1) A NBA está completamente sem paciência para novatos. Vejam o que o Sixers fez com Michael Carter-Williams (melhor jogador da franquia, ele foi trocado no meio do seu segundo ano). Vejam o que o Detroit fez com Brandon Knight (também limado rapidamente). Vejam o próprio exemplo de Hasheem Thabeet (escolhido em 2009 na posição dois e que NUNCA se firmou). Não rendeu, cai fora. E rápido. Se o jogador não mostrar que será efetivo em um curto espaço de tempo, a chance de a franquia mirar outro atleta (da NCAA ou do mercado internacional) é cada vez maior. Apenas um dado para vocês: um jogador fica na NBA em média por 2,9 anos. Jogadores fora do Top-10 do Draft, 2,1 anos.

Brazilian Basketball player Bruno Caboclo drafted 20th over all by the Raptors arrives on Porter Airlines from Newark NJ at Billy Bishop Airport in Toronto. Toronto Star reporter Isabel Teotonio (in Red) talks to Bruno as he arrived.      4.2) Leiam o que o gerente-geral Masai Ujiri falou aqui para mim. Está claro que a franquia fez um investimento imenso em Bruno Caboclo (este principalmente) e Lucas Bebê, e tê-los em ótima forma física e técnica é fundamental para que ambos sejam efetivos na rotação da equipe em curto espaço de tempo. Ainda não há pressão em cima dos brasileiros, mas como o próprio Masai garantiu ambos ainda "estão longe" de terem minutos na rotação. É óbvio que, caso a evolução não chegue, alguém vai  questionar: "Caramba, o que está acontecendo com Bruno e Lucas?".

      caboclo24.3) Na minha primeira entrevista com Bruno Caboclo ele disse: "Preciso melhorar em velocidade, defesa, domínio de bola, arremesso, muita coisa. Meu sonho é ir pra NBA, é chegar o mais longe possível. NBA é meu sonho desde pequeno, desde que comecei a jogar. Eu sonho, sonho mesmo. Preciso treinar muito pra chegar lá porque estou um pouco atrasado, né. Eu ainda não estou pronto ainda, cara. Nos Estados Unidos os garotos são preparados desde muito cedo pra chegar na NBA. E se eu quiser chegar lá preciso evoluir demais ainda em todos os aspectos do meu jogo. Falta muito". Ou seja: ele mesmo reconheceu o óbvio – que havia, e ainda há, uma distância imensa entre ele e os jogadores de elite da NBA (o que é natural e nem poderia ser diferente). Tentar diminuir essa diferença, essa distância, precisa estar (e acredito que esteja) em sua ordem do dia. Não há outra maneira de fazer isso que não treinando muito.

bebe25) Por isso realmente EU penso que quanto mais os dois brasileiros mostrarem a franquia que têm fome, que têm aquela vontade louca de vencer, de ser efetivo na rotação, melhor. Não que três, quatro dias façam a diferença e nem que eles não tenham isso. Mas este mercado da NBA trabalha com sinais claros e com respostas cada vez mais rápidas. Kyle Lowry antecipou o fim de sua lua-de-mel. Kobe Bryant treinou com a seleção americana de madrugada. LeBron James levanta pneu de caminhão nas férias. São recados claros de que os caras, já excelentes no que fazem, continuam famintos, seguem querendo evoluir, melhorar, superar seus (já altos) limites técnicos, físicos e mentais.

6) Que fique claro: NÃO estou falando que Caboclo e Bebê optaram por uma estagnação técnica (longe disso), mas ter ficado treinando mais um pouco poderia ter sido um baita recado de comprometimento e busca de excelência que os dois teriam dado a franquia. Franquia que certamente teria adorado saber que suas duas peças mais jovens e cruas, como o próprio Toronto os define, estavam se matando de treinar mesmo em um período que não estavam obrigados a fazê-lo.

bebe27) Outro dado importante: Em seis meses, nem 200 minutos somados entre NBA e D-League para Caboclo e Lucas Bebê. Ambos são muito jovens (nem 23 anos), e como não têm jogado muito precisam ainda mais de treinos (específicos e os com o restante do grupo).

8) Ainda há muito tempo e espaço para Bruno e Bebê treinarem, evoluírem e crescerem com o que a franquia lhes oferece. Não dá para dizer que eles são carta fora do baralho e nem que são o futuro da franquia (nem um, nem outro). Apontar o ponteiro para um lado (de ser efetivo) ou para o outro (descartáveis) é algo que veremos em um futuro muito breve, podem ter certeza. E a definição de seus respectivos futuros profissionais depende deles – Lucas e Caboclo.

Não há, portanto, moralismo (como alguns insinuaram) de minha parte em dizer que seria mais bacana se eles tivessem ficado no Canadá treinando (ou em outro lugar menos gelado). É uma OPINIÃO. Não uma análise, não uma constatação, não uma reportagem. Nada. É algo que eu sinceramente teria feito diferente, mas quem acha (notem o verbo) o contrário tem ótimos pontos também.

E o jogo segue.

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