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Bala na Cesta

Executivo do Raptors: 'Caboclo e Bebê precisam de tempo pra se desenvolver'

Fábio Balassiano

23/02/2015 03h20

* O Blogueiro viajou a convite do Canal Space

masaiAos 45 anos, Masai Ujiri tem o emprego dos sonhos de muita gente que ama basquete. Ele é o gerente-geral do Toronto Raptors, única franquia fora dos Estados Unidos na NBA. Contrata, troca, escolhe jogadores no Draft, renova contratos. É o verdadeiro-manda-chuva de uma equipe que se reconstruiu desde a sua efetivação no cargo há dois anos.

masai4Para chegar ao posto máximo do Toronto Masai passou por muita coisa. Nascido em Zaria, na Nigéria, foi para os EUA estudar e viver o sonho norte-americano de crescimento profissional. Foi olheiro internacional do Denver, aos poucos foi evoluindo e tornou-se gerente-geral dos Nuggets em 2010. Desde 2013 no Toronto, onde tem um contrato de cinco anos e US$ 15 milhões garantidos, ele trocou Rudy Gay e seu contrato astronômico, instalou uma cultura de vitória em uma franquia que estava totalmente desacreditada e espera dar o próximo passo ainda nesta temporada (vencer uma série de playoff depois de 14 anos).

Masai conversou comigo por quase 10 minutos sobre a franquia, sobre o desenvolvimento da NBA na África, a fase de seu time e, claro, sobre Bruno Caboclo e Lucas Bebê, os brasileiros de seu time.

duplaBALA NA CESTA: Sou do Brasil e é impossível não perguntar a você sobre os desempenhos e o desenvolvimento de Bruno Caboclo e Lucas Bebê. Ambos são muito jovens, quase não têm jogado. O que você pode nos dizer sobre o que tem se passado com eles em Toronto?
MASAI UJIRI: A palavra-chave para eles é essa mesmo que você usou – desenvolvimento. Precisa de tempo, precisa de treinamento e é nisso que estamos focando com eles. Primeiramente na parte física. Ambos precisam estar muito mais fortes para aguentar o ritmo de uma temporada da NBA. São muitos jogos, viagens, não é fácil para ninguém. Fora isso, há a questão técnica, que obviamente é muito forte e eles vão precisar desenvolver bastante. Para ambos não estão descartadas novas idas para a D-League, para que ganhem ritmo de jogo e coloquem em prática o que estão treinando (Nota do Editor: A entrevista foi feita no domingo e na quarta-feira Caboclo foi enviado para a D-League).

caboclo3BNC: Do seu ponto de vista, o desenvolvimento deles corre de acordo com o planejado? Ou está um pouco abaixo? Especialmente o Caboclo, que já foi para a D-League e foi uma aposta alta de vocês no Draft passado…
MASAI: É difícil dizer o que um jogador vai te trazer – e em quanto tempo irá trazer. Não depende só da franquia. É uma via de mão dupla. Dentro das nossas possibilidades damos tudo – treinamento físico, técnico, alimentação adequada, professor para o inglês. Nós sabemos o que o jogador precisa e o atleta precisa responder, precisa mostrar o que e o quanto quer. Temos feito trabalhos específicos com ele, com o Lucas também, mas isso vai muito de cada jogador. Kyle Lowry, por exemplo, antecipou o final de sua lua-de-mel porque sentiu necessidade de treinar. E ele está jogando o All-Star Game este ano. Você me entende? Não há muito segredo nisso. Quanto mais se treina, maiores serão suas chances de chegar mais longe. Não é uma regra, não é uma fórmula perfeita, mas via de regra funciona assim mesmo. Mas, voltando, sendo muito sincero para você: ainda vai levar um tempo para que eles se desenvolvam. Um tempo mais. Quanto tempo? Não sei lhe dizer com certeza. Torço muito para que eles fiquem prontos para o jogo de alto nível que é a NBA o quanto antes. É o que todos esperamos deles. Todos apostam muito neles.

caboclo4BNC: Pessoalmente falando, o que um bom ou mau desempenho do Caboclo pode representar na sua carreira? Digo isso porque se ele for bem será um dos picks de sucesso mais inesperados da história. Se for mal, vão olhar para você…
MASAI: Não tenho medo disso. É algo que já me peguei pensando várias vezes, mas hoje em dia eu só penso quando vocês jornalistas me perguntam a respeito (Risos). Bruno não tem 20 anos e sabíamos, desde quando o vimos pela primeira vez no Brasil, que demoraria a entrar na rotação do Toronto. Ele vem de outro país, outra cultura e é complicado inserir um menino em um time que já briga por playoff como o nosso.

Brazilian Basketball player Bruno Caboclo drafted 20th over all by the Raptors arrives on Porter Airlines from Newark NJ at Billy Bishop Airport in Toronto. Toronto Star reporter Isabel Teotonio (in Red) talks to Bruno as he arrived.BNC: Desculpe insistir neste ponto, mas é que a gente, do Brasil, sempre fica com um pé atrás nisso mesmo. A gente vê a NBA cada vez com menos, digamos, paciência com jovens valores que não se tornam efetivos rapidamente. Há casos, como do Hasheem Thabeet, número 2 do Draft de 2009, por exemplo, que não ficou nem quatro anos na liga – e sempre jogando pouquíssimo. O que garante que o Toronto terá esta paciência, essa calma toda, para esperar o desenvolvimento do Bruno?
MASAI: Entendo o que você diz. Em poucas palavras: a NBA é um negócio, as coisas andam depressa. O mercado de transferências hoje é muito frenético e as respostas, tanto dos atletas, quanto dos técnicos e também de nós, executivos das franquias, precisam ser cada vez mais rápidas e precisas. Não iremos pressionar o Bruno, mas nossa expectativa é que ele se torne parte efetiva do elenco do Toronto Raptors muito em breve. Para isso ele precisará desenvolver suas habilidades e ficar mais forte mentalmente e fisicamente. Cada dia no ginásio para ele é um aprendizado. Temos conversado muito com ele e seus agentes sobre isso.

dwaneBNC: E o que esperar do Toronto nesta parte final do campeonato? É possível sonhar alto no Leste, certo?
MASAI: É totalmente possível. Somos um bom time. Começamos muito bem, demos uma caída natural mas agora voltamos a jogar bem. O trabalho do Dwane Casey (o técnico – na foto à direita) é consistente e traz muita confiança aos atletas. Acredito que há seis times que podem vencer a conferência Leste – e estamos entre eles. Não dá para cravar nada, nem para cima e nem para baixo, mas pode ter certeza que iremos brigar muito forte para chegarmos longe.

georgeBNC: O Draft de 2015 está chegando e gostaria de saber se podemos esperar novos picks de jogadores estrangeiros não tão conhecidos como foi com o Caboclo em 2014. O nome do brasileiro George Lucas (foto à esquerda), armador do Pinheiros, está sendo muito comentado e sei que você conhece ele. No Brasil há outros jogadores cotados também
MASAI: O Draft já começou. Não posso falar muita coisa sobre isso (Risos).

BNC: Para fechar. Na entrevista coletiva do All-Star Game o Adam Silver falou sobre o primeiro jogo da NBA na África (em primeiro de agosto). Será uma exibição, mas é um começo. Você vem de lá, tem origens africanas. O que isso representa?
masaiafricaMASAI: Olha, eu estava lá no fundo da coletiva e vibrei bastante quando ele contou essa novidade. Sou um dos "pais" do Basketabll Without Borders (Basquete sem Fronteiras) da África. Você, brasileiro, sabe muito bem quão necessitado é o continente. Então tudo o que eu puder fazer para ajudar aquela região eu farei. Se precisar de mim o (Adam) Silver sabe que pode contar. Certamente irei neste jogo.

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