Bradesco patrocina a CBB - muda algo?
O repórter Fábio Aleixo, do Lance!, trouxe neste domingo em primeira mão a informação que a Confederação Brasileira (enfim) conseguiu o seu patrocinador máster. É o Banco Bradesco, que já patrocinava a entidade e que entra para o lugar deixado pela Eletrobrás. A forma como este acordo foi costurado é uma questão que merece ser tratada à parte, em outro texto. Voltarei ao tema proximamente, podem me cobrar.
Mas, bem, sendo bem prático, é uma troca de guarda: a instituição financeira, que estampava seu nome na parte de cima das camisetas, irá para a parte central, a principal. E a empresa de energia, que retirou grande parte de sua grande devido a crise no setor elétrico, fica no lugar do Bradesco ali perto da manga. A notícia, sem dúvida alguma, é boa para o basquete brasileiro (só não é ótima pelos motivos que explico a seguir). Acho que é a primeira cesta de placa da IMX, empresa de marketing esportivo que assinou com a CBB no ano passado. Tirará um pouco da asfixia financeira da Confederação e dará a ela um pouco mais de margem para investimento.
Só há, no entanto, dois grandes problemas por enquanto em relação a chegada do Bradesco como patrocinador máster. Em primeiro lugar, a Confederação Brasileira nunca soube bem O QUE fazer com o dinheiro que recebia – seja ele em grande quantidade, nas vacas gordas da Eletrobras na primeira metade do governor Carlos Nunes, ou em menor volume, como foi de dois anos pra cá. Tanto é assim que Nunes fechou o balanço financeiro de 2011 (vaquinhas gordinhas) e 2012 (vaquinhas menos alimentadas) com dívidas enormes, tendo inclusive recorrido a empréstimos bancários para manter as portas da CBB abertas. Não deixa de ser irônico, inclusive, que o novo patrocinador da entidade máxima do basquete brasileiro veja, de cara, a sua patrocinada pagando juros a um outro player importante no mercado, o Itaú. Torçamos para que a grana seja investida onde realmente é necessário – na base, na formação de novos técnicos, em marketing, para a popularização da modalidade, e em comunicação eficiente (que tal derrubar aquele site antiquado e colocar algo moderno e arejado no lugar?).
Em segundo lugar: para uma entidade que está longe de ser transparente e com credibilidade em alta, como é a CBB (seja com o mercado, seja com atletas, seja com imprensa), ter uma injeção de dinheiro privado é um péssimo sinal para quem quiser fiscalizar (tipo eu) o que está sendo feito por Carlos Nunes e companhia. Quando a Eletrobras fazia aporte financeiro, por ser uma empresa pública ela tinha OBRIGAÇÃO de informar não só os valores mas também ter um controle bem rígido de como a grana (sua, minha, nossa) era gasta pelos dirigentes do basquete brasileiro (sabemos do desconforto que isso causou por lá e dos problemas de prestação de contas que houve, né). O Bradesco, empresa privada, não tem motivo algum para dizer à sociedade qual o valor do contrato, por exemplo. Abrir a guarda, como muitas vezes a Eletrobrás fez para falar sobre crises maiores, é ainda mais impensável. Para descobrir algo o balanço financeiro (o de 2015, obviamente) será uma pista, mas não a chave do cadeado (o trabalho de quem quer analisar a caixa-preta da entidade máxima ficará, portanto, mais difícil, embora não impossível de ser realizado).
De todo modo, não resta dúvida que a chegada de um novo patrocinador é benéfica para o basquete. Que Carlos Nunes e seus funcionários sentem amanhã mesmo para planejar não só 2014, mas principalmente os próximos passos (anos) do basquete nacional.
A pergunta que eu sempre faço, no entanto, continua intacta, sem resposta, sem solução, sem luz no fim do túnel: qual é o plano da Confederação Brasileira para tirar o basquete da lama? Passar a (se) responder isso já é um bom caminho para Nunes e companhia ajudarem a tirar a modalidade do atoleiro. Aquelas frases básicas de qualquer empresa séria (Missão, Visão e Valores) são claras para os militantes da entidade máxima? Não me parece.
Se Nunes e seus comandados vão conseguir? Eu sinceramente creio que não. E falo isso com dor no coração, pois gostaria muito de dizer o contrário. Mas a verdade é bem clara: com ou sem patrocinador os dirigentes da entidade máxima já mostraram que gestão, planejamento, organização e visão de mercado são artigos em falta na Avenida Rio Branco (onde fica a sede). Não adianta ter muita grana se a cabeça de quem terá a grana para mover este animal imenso e hoje inerte chamado basquete não pensa de forma estratégica, antenada, arejada e moderna. Ter 20 ou 30 milhões de reais não faz, portanto, a menor diferença pois a trupe que engessa o basquete há 20 anos não tem a menor noção de como o orçamento (qualquer orçamento) deve ser utilizado ao longo do ano para desenvolver a modalidade. Perguntinhas básicas de novo: existe algum planejamento anual na CBB? Quem cuida dessa área por lá? Alguém cuida? Não tenho resposta para isso, sinceramente.
Pode parecer equivocado, louco o que vou dizer, mas a chegada do Bradesco não muda absolutamente nada o panorama da modalidade. O basquete continua na mesmíssima situação de 15, 20 anos atrás. Sem gestão, sem liderança, sem visão de mercado, sem absolutamente nada. Só entrou mais grana. Poderia significar muita coisa, mas ter grana e não saber o que fazer também pode ser um problemão.
Enquanto as cabeças mandantes não forem cabeças realmente antenadas no que o mercado faz de melhor o basquete não vai mudar.
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