Na abertura do NBB, a chance perdida do basquete brasileiro
Como alguns de vocês devem saber, começou no sábado a sexta edição do NBB. E começou com ótima vitória do desfalcado Flamengo diante do Brasília, que mesmo com o novo técnico argentino (Sergio Hernandez) ainda joga um basquete carregado de vícios. Mas, bem, o assunto do texto não é uma análise técnica da peleja, mas sim para falar sobre o público (ou da falta dele) e da oportunidade que o basquete brasileiro perdeu no dois dias atrás.
a) Em primeiro lugar: 2.226 pessoas (o público do jogo de sábado) não é um número ruim para o basquete brasileiro. Não, não é ruim. Duas mil pessoas para um jogo do Flamengo (o clube com o maior poder de arrastão em qualquer esporte que jogar neste país) é aceitável. Este é, diga-se, o patamar da modalidade há anos. Já foi de 20 mil, já foi de 10 mil, já foi de 5 mil e hoje está em três, dois mil. E são os mesmos dois mil que vemos nos ginásios há cinco, dez anos. Se eu olhar no ginásio certamente reconhecerei os rostos.
b) A questão, pra mim, é a oportunidade que se perdeu com a abertura do NBB com transmissão no maior canal de televisão do país. A HSBC Arena ficou vazia (20% de sua ocupação, no máximo), e para quem viu de casa obviamente foi feio. Era o maior clássico do basquete do país, a maior torcida do país, o atual campeão da competição e uma IMENSA oportunidade de ajudar a popularizar a modalidade por aqui – nem que fosse nos 120 minutos de transmissão. O grande X da questão é que o basquete (para citar o tópico acima) não tem conseguido crescer a sua base de clientes de forma orgânica, sustentável e animadora. Os dois mil que foram ontem ao ginásio são os mesmos abnegados e fanáticos torcedores que frequentam as partidas há anos. Essa galera merece aplausos, mas se o basquete quer realmente voltar a ser grande precisa trazer mais gente pra festa. O viés, que já foi de queda, hoje não apresenta crescimento, mas sim estagnação em termos de base de consumidores.
c) Reflexão boba: na final passada contra Uberlândia (foto à esquerda) havia mais de 12 mil pessoas na HSBC Arena. No jogo de sábado, pouco mais de duas mil, exatamente a mesma média de público do Flamengo na edição passada. O basquete, na teoria, não conseguiu reter, seduzir, fidelizar ninguém que vibrou com o título rubro-negro meses atrás. Sintomático, não?
d) Está claro, óbvio, evidente que faltou divulgação, faltou promoção, faltou fazer com que a população conhecesse que haveria um jogaço de basquete aqui no Rio de Janeiro no último sábado. E falei disso na segunda-feira: alguns leitores, no post, Facebook ou Twitter, me disseram que mal SABIAM que o NBB começaria em cinco dias, uma lástima! O produto, portanto, ficou mais escondido que o Bin Laden depois do 11 de setembro. Houve uma mesa-redonda de gosto duvidoso no Globo.com dias antes da partidas, chamadas infantilóides e esporádicas na Globo e matérias no Globo Esporte. Fora da esfera Global nada foi feito. E nada é nada mesmo. Será que a turma da LNB acreditou que apenas a força da nave-mãe seria capaz de encher um ginásio? Se acreditou, foi de uma ingenuidade grande. Se não acreditava apenas na Globo, não fez nada para mudar o panorama.
e) Culpemos a Liga Nacional, principal responsável pela divulgação catatônica (até segunda-feira não havia nada em seu site), mas o que dizer do Flamengo, mandante da peleja? O time vive uma fase mágica no futebol, colocou 70 mil pessoas no estádio na quarta-feira, homenageou o time de basquete no Maracanã, mas não fez NENHUMA divulgação/promoção para levar a sua fanática torcida para reverenciar os atuais campeões do NBB. Por que não fazer uma venda casada com o futebol? Por que não foram vendidos ingressos do basquete no Maraca antes da semifinal desta semana contra o Goiás? Por que tanto desinteresse por uma modalidade que tem dado tantas alegrias ao clube nos últimos anos?
f) Sei que é difícil comparar, porque são esferas, visões e granas completamente diferentes, mas quando a NBA esteve aqui há cerca de um mês os atletas foram ao Cristo Redentor, fizeram café da manhã com fãs, visitaram uma comunidade, foram ao Aterro do Flamengo, houve uma clínica aberta aos torcedores, teve uma sessão de autógrafos em uma loja e muito mais. Todo mundo aqui no Rio de Janeiro SABIA que haveria uma partida da NBA na cidade. O que fizeram Flamengo e Liga Nacional nesta semana para promover a partida de abertura do NBB neste sentido (ações baratas, sem custo de "mídia" algum)? Nada, absolutamente nada. Apenas para pontuar: Flamengo e Brasília treinaram na sexta-feira, véspera da peleja, na HSBC Arena. Por que nenhuma das duas equipes visitou escolas ali da região, promovendo a abertura da competição? Outra pergunta boba: por que diabos a LNB não aproveitou os 16 mil torcedores que foram ao jogo da NBA no mesmíssimo ginásio para promover o seu evento que aconteceria menos de um mês depois no mesmo endereço? Falta de visão, não?
g) Quem foi que colocou os ingressos do primeiro jogo da temporada a até R$ 200? Juro que gostaria de saber qual foi a lógica. Houve algum estudo? Ou foi meramente aleatória a escolha? Ainda sobre o jogo: nenhuma ação foi feita para os torcedores que foram a HSBC Arena? Será que a NBA não deixou lições que a grande saída é transformar um simples jogo de basquete em um espetáculo? Nem a Sandra de Sá cantando o hino do Flamengo com sua empolgação contagiante houve desta vez…
h) Não me venham culpar a TV Globo nessa, por favor. Faço inúmeras críticas a emissora neste espaço (quem acompanha sabe), mas quando o canal passa um jogo, reclamam – do horário inclusive. Quando não passa, reclamam e citam até, vejam só, que sábado pela manhã está disponível para a exibição do NBB. Aqui no Rio de Janeiro, com sol, todo horário será ruim quando o evento não for promovido, oras. De manhã é cedo. De tarde tem praia. De noite é longe, inseguro e tem o Barra Music ao lado da HSBC Arena, algo mais atrativo. Nesta, eu estou fora. Não é por isso que a HSBC Arena não ficou lotada, não, vão me desculpar.
i) Apenas como exemplos práticos sobre a falta de visão de mercado dos dirigentes do NBB: há alguma estratégia da Liga Nacional para capitalizar e trazer novos torcedores na Web, ambiente recheado de jovens (consumidores para agora e longo prazo!)? Creio que não. Sua presença nas redes sociais, embora muito informativa, ainda é muito tímida quando o assunto é atrair e reter novos clientes. Tem mais. Canal do NBB no YouTube? Não há. Ações promocionais? Não há. Compra de Links Patrocinados no Google? Não há. Anúncios em sites? Pouquíssimos. Para que serve, pois, ter uma espetacular FanPage de 100.000 curtidores? Na prática, para quase nada, pois os ginásios (onde a tática de sedução da Web se torna real) continuam vazios – ou no padrão de cinco anos atrás.
j) O NBB é um produto bom, um produto comandado por gente séria, com credibilidade de sobra (em cinco anos foram criados o NBB, a LDB e a segunda divisão, pô!) e que trouxe bastante evolução ao basquete brasileiro em termos de organização e ideias um pouco mais arejadas. Mas enquanto o PRODUTO não for tratado de forma TOTALMENTE profissional, com visão de mercado (quantos P's você quer, Kotler?) e com conhecimento de seu público o basquete continuará no mesmo patamar de cinco, seis anos atrás quando o assunto for média de público, pessoas indo ao ginásio (que é onde se mede, efetivamente, a quantidade de consumidores de uma modalidade).
k) Perguntas pra fechar: 1) Qual o público (tamanho, base) do basquete hoje, alguém sabe?; 2) Se está na Web, por que diabos não há uma estratégia diferenciada para este público?; 3) A agência de publicidade da Liga Nacional continuará, mesmo sem conseguir um único patrocinador grande para a competição e sem fórmula alguma para encher os ginásios, sendo a Globo mesmo?
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