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Bala na Cesta

Com ótima geração, Brasil vence Argentina e é campeão Sul-Americano Sub-17

Fábio Balassiano

26/10/2013 09h40

Eis que ontem, por volta de 23:30, estava grudado no computador "vendo" pelas estatísticas e pelo site do torneio que travava mais que Fusca-76 a um bom Brasil x Argentina pela decisão do Sul-Americano Sub-17 de Porto Viejo, no Equador. Primeiro tempo enrolado, difícil, duríssimo (36-30 a favor das brasileira). Segundo tempo, não. Tudo fluiu, a defesa funcionou, o ataque rodou a bola, a vitória veio em fáceis 86-63, o título invicto veio, a vaga na Copa América também veio.

Mas não é só com o título que esta geração, ótima por sinal, volta do Equador. A seleção volta com algumas coisinhas que fazem com que a gente creia que o basquete daqui pode sair do buraco (é um texto otimista, sem dúvida alguma). Cestinha da final, Thayná, de Jundiaí, tem um 1,76m, braços longos e saiu-se com incríveis 25 pontos, 10 rebotes, 4 roubos e 3 assistências. Caroline dos Reis, de Tupã (centro pouco comentado até então – e a cidade teve duas meninas campeãs sul-americanas, o que é excelente!), ala de 1,78m, teve 18 pontos, 9 rebotes e 4 assistências.

Além delas, a equipe conta com meninas talentosas de equipes conhecidas como Kananda (Ourinhos), Vitória (São José), Bianca (a pivô de Santo André, de 1,90m, é a mais alta de um time não tão alto). O maior mérito, no entanto, foi ter visto centros que normalmente costumam ser esquecidos em convocações de seleções brasileiras, no time campeão (mérito de quem vou escrever adiante). Letícia Maria (do Sport-PE, embora o site da CBB coloque a sigla MA ao lado…), Caroline e Tayna (Tupã), Gabriela Bonamigo (Foz do Iguaçu), Leticia de Oliveira (Rio do Sul, Santa Catarina), Lilian e Nicole (Mangueira) formaram uma das equipes mais heterogêneas, descentralizadas e "fora do eixo" do basquete feminino brasileiro nos últimos anos, mostrando que há ,sim meninas querendo espaço, meninas com talento, meninas jogando e querendo jogar basquete em todo Brasil. Para ser mais claro: sete das 12 campeãs sul-americanas nesta sexta-feira não jogam nos times mais conhecidos do país (Santo André, Jundiaí, Americana e Ourinhos). Alguma coisa isso quer dizer, não?

O grande artífice disso tudo chama-se Guilherme Vos (escrevi sobre ele aqui há quase um mês). Técnico da Mangueira e incansável na busca por um basquete melhor, ele teve sua primeira chance em uma seleção brasileira de base. Fugiu do lugar-comum ao convocar uma equipe totalmente descentralizada, uma equipe sem focar nas quatro equipes citadas acima e dando chance para todas jogarem (é só pegar as estatísticas da competição que verão os bons minutos de cada atleta). Foi uma baita evolução de conceito, de filosofia, de tudo. Cabem várias reflexões com isso, sem dúvida alguma. Guilherme é um cara íntegro, correto, acima de tudo empolgado em querer fazer diferente e bem a sua função. Levou um time que pode fazer muito bem ao futuro do esporte brasileiro e voltou com o título. Tenho certeza que ele está feliz e merece estar mesmo. É um técnico na acepção da palavra, um grande personagem do basquete carioca e brasileiro, e agora está tendo seu real valor reconhecido. Torço, sinceramente, para que ele continue seu trabalho na Copa América (com um time mais reforçado por meninas que não puderam ir dessa vez) e quem sabe no Mundial Sub-19.

A grande lição que fica deste título sul-americano não é a taça, que normalmente vem quando enfrenta-se Chiles, Argentinas e Venezeualas, mas sim a profundidade que o basquete brasileiro pode adquirir com ela. Guilherme Vos não teve nem três meses de treino com este grupo e conseguiu dar um padrão de jogo bem razoável com meninas que não jogam 20 partidas de alto nível por ano. O basquete brasileiro viu, brincando, oito, nove jovens atletas com um potencial incrível. Se forem desenvolvidas, se tiverem chance de continuar evoluindo, se tiverem oportunidade de atuar com consistência semanalmente em campeonatos fortes, o basquete feminino brasileiro pode sair do buraco.

Não que eu acredite muito com esta administração da CBB que está aí, mas a seleção Sub-17, recheada de meninas de centros não tão conhecidos e até queridos das equipes nacionais de base, acabou por mostrar um caminho interessante de retomada da modalidade. Que seja o começo de uma grande mudança.

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