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Bala na Cesta

A sustentável beleza do jogo coletivo do Thunder no playoff da NBA

Fábio Balassiano

24/05/2016 05h00

Não houve jogo de basquete no domingo à noite em Oklahoma. Foi uma clínica, uma aula, uma amostra do que se pode fazer de excepcional tanto em ataque quanto em defesa. Pra azar do Warriors, só quem fez isso mesmo foi o Thunder, aplicando uma surra daquelas (133-105) em um Golden State atônito, sem saber como agir, como reagir, como transgredir – algo que eles sempre fizeram tão bem.

O lance que melhor evidencia o que aconteceu no domingo, pra mim, é este aqui em que Steven Adams segue marcando Steph Curry após um bloqueio de Andrew Bogut para o MVP. Quase 100% dos pivôs não tem rapidez para acompanhar Steph e seus dribles mirabolantes. Adams, com seus 456m de braço e ótima velocidade para um gigante de 2,13m, não só conseguiu impedir que Curry infiltrasse em um garrafão pouco povoado como teve impulsão para bloquear o arremesso de três pontos do camisa 30. Algo inimaginável nos dois últimos anos. Mas aconteceu no domingo e mostra bem o que tem rolado nesta série com razoável frequência.

A qualidade do Oklahoma para estar vencendo o Warriors por 2-1 até o momento não se resume, porém, ao setor defensivo. Se é verdade que Adams, Andre Roberson, Serge Ibaka, Kevin Durant e Russell Westbrook têm feito um esforço descomunal para segurar as armas ofensivas do Golden State, não ver como melhorou ofensivamente o Thunder neste playoff é um erro. Cheguei a falar isso aqui outro dia, citando os "Cavalos de Raça" do técnico Billy Donovan. Mas aí me debrucei nos números. Vejam só quanta coisa interessante:

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west1a) Desde os playoffs da temporada 2009/2010 o volume de pontos dos jogadores de apoio (não Russell Westbrook e Kevin Durant) não era tão grande. Em 2010 havia James Harden, que acabou se tornando uma estrela da NBA. Agora, "apenas" ótimos coadjuvantes que ganharam do técnico Billy Donovan carta-branca pra atacar a cesta e a confiança de Russ e Durant. No playoff deste ano 56 pontos por jogo (51% do total) saem de um atleta do Thunder que não se chama Westrook ou Durantula – e isso é coisa pra caramba. Em relação a 2014, última vez que o OKC esteve em playoff, o percentual de pontos totais das estrelas do Thunder caiu de 55 para 49% e o do restante do elenco, por sua vez, cresceu de 45 para 51% (queda e subida idêntica, de 6%, nos dois casos).

okc200b) Outro ponto interessante: a variação entre os pontos de Westbrook + Durant e o do restante do elenco entre fase regular e playoff sempre apresentou discrepâncias absurdas. Em 2012/2013, o duo produziu 15% a mais daquilo que fizera na temporada regular. Em 2014, 5% a mais. O que acontece em 2016? O camisa 0 e o 35 somaram 51,7 pontos/jogo na fase de classificação. Nos playoffs, 53,1 (crescimento de apenas 4%, menor variação desde 2012). Os demais companheiros, saíram de 58,5 na temporada para 56 no mata-mata (queda de apenas 4%, a menor desde 2012). Confiantes, os jogadores do elenco de apoio fazem a queda de pontos entre temporada regular e playoff ser a menor (apenas 1%) desde 2009.
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thunderup1c) Outro dado chama bastante atenção: Nunca desde que Kevin Durant e Russell Westbrook lá chegaram o número de assistências por arremesso convertido foi tão alto quanto em 2016 (0,58). Crescimento de 12% em relação a 2014 e de 3% em relação à temporada regular (normalmente este índice diminui muito nos playoffs, quando as marcações e os ajustes fazem as pontuações diminuírem). Ter melhores "atacantes" e bolas com alto potencial de conversão nas mãos de Steven Adams ajuda muito, sem dúvida alguma (só há assistência quando o passe sai da mão de alguém e a bola entra na cesta, né…). Saber que o passador do time (Westbrook) confia cada vez mais nos companheiros é um indicativo ainda mais bacana de se ver.

russ1d) Russell Westbrook também foi tema de texto meu recentemente. Pretendo não tecer loas novamente ao camisa 0. Ele é um cracaço de bola e só quem não vê isso é muito implicante. Chama, porém, muita atenção que neste playoff o cidadão tenha a média de 11,1 assistências (nos últimos 8 jogos em seis ele teve 10+ assistências – nos outros dois, 9 e 8 passes). Na temporada regular, 10,4 assistências por jogo. No mata-mata, 11,1. Em relação a 2014, último ano com Kevin Durant na linha de tiro, crescimento de 51% na fase de classificação e de 37% na pós-temporada. Ter Durantula pegando fogo é muito bom. Saber que Ibaka, Kanter e Adams estão pertinho da cesta preparados para concluir suas infiltrações em cestas (ou enterradas) é tão saboroso quanto.

adams30Está claro o que está acontecendo neste playoff, né? O Oklahoma City Thunder, que abre o seu ginásio para o jogo 4 da série logo mais (22h, com Sportv), tem duas estrelas de primeira grandeza, mas tem conseguido aliar as habilidades de Westbrook e Durant a um jogo cada vez menos concentrado neles. Foi assim que o time bateu Mavs, Spurs e tem 2-1 contra o timaço do Warriors, que terá Draymond Green logo mais (o ala NÃO foi suspenso pela NBA após terrível chute em Steven Adams). Aí fica bom pra todo mundo – para os coadjuvantes, que aparecem a torto e a direito, e também para Russ e KD, que vêem as marcações dobrarem cada vez menos.

curry1Para o Warriors, há duas coisas que eles podem se apegar para o jogo desta noite em Oklahoma: a) até o momento a franquia não perdeu duas partidas consecutivas na temporada; b) Em 2015 o cenário foi parecido contra Grizzlies e Cavs. Em ambos os casos o time de Steve Kerr perdia de 2-1 e tinha o jogo 4 fora de casa. Venceu, empatou a série e fechou os duelos em 4-2. Não sei se serve de algo, mas o fato é que este time do Golden State consegue se recuperar bem após reveses.

curry20A dúvida é como os Warriors pretendem diminuir o ritmo do Thunder. A confiança do Oklahoma está lá no alto, bem como as peças cada vez mais ajustadas. O problema do Golden State, ao meu ver, não está em seu ataque, mas em como a sua defesa não tem tido respostas para o setor ofensivo do OKC – principalmente contra Adams, Ibaka e Kanter no garrafão. O Thunder, melhor time da NBA neste playoff (junto com o Cavs, que quase não foi testado), parece não ter limites em seu arsenal (já jogou com duas torres perto da cesta, com quatro abertos, com Waiters armando o jogo, com Durant perto da cesta, com Ibaka espaçando a quadra…). Se não conseguir resolver isso até mais tarde, há boas chances do GSW retornar a Oakland com um desagradável 3-1 na bagagem.

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