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Bala na Cesta

Com 'cavalos de raça', Billy Donovan eleva qualidade do Thunder no playoff

Fábio Balassiano

18/05/2016 02h00

billy1Billy Donovan coçava o cabelo desde o primeiro minuto. O Oklahoma City Thunder não começava mal a primeira partida da final do Oeste contra o Warriors em Oakland, mas o treinador do OKC parecia não gostar do que estava vendo. Orientou uma vez, orientou a segunda e ali com quatro minutos pediu um tempo. Balançou a cabeça, falou algo com Maurice Cheeks (seu assistente) e puxou Russell Westbrook em um canto. O placar marcava 9-8 para o Golden State. Nada fora do comum, mas o estreante treinador precisava falar com seu time. Só que a conversa não adiantou muito. O GSW atropelou no final do primeiro período (27-21), aumentou ainda mais a diferença na segunda parcial (33-26) e foi para o intervalo com confortáveis 60-47.

thunderNo vestiário, Westbrook foi o que mais ouviu: "Billy estava chateado. Não estávamos seguindo o nosso plano de jogo. Era claro: ele me disse para ser agressivo e executar o que estava combinado. Ou eu atacava a cesta ou a gente seria aniquilado. Me deu carta branca para agir e foi isso que fiz". Russ não teve dúvida. Fez, literalmente, o que mais gosta – atacar o seu marcador e destroçar a cesta. Fez 19 dos 38 pontos do Thunder, que venceu o período por 38-28 e se recolocou no jogo. Mesclou ataques simples a Steph Curry e Klay Thompson a passes para Steven Adams (16 pontos, 12 rebotes e 2 tocos), ajudando o seu time a vencer por 108-102, abrindo 1-0 na série e invertendo o mando de quadra logo de cara. "Jogamos como devemos jogar. Com nosso físico. Não vamos mudar isso. Se mudarmos, vamos perder", afirmou Donovan ao final da partida.

billy2Está sendo fantástico ver o que o estreante treinador na NBA tem feito neste playoff (embora não seja um calouro na função, é o seu primeiro ano na NBA, onde o mundo em relação a NCAA, de onde ele veio, é bem diferente). Se na temporada regular o Thunder entregou a paçoca em um punhado de jogos, na pós-temporada o time se mantém firme mesmo em momentos críticos – depois de perder o jogo 1 contra o Spurs por 765 pontos, quando o mesmo San Antonio tentou se recuperar após estar perdendo por 30 pontos e contra o Warriors, quando o time das 73 vitórias abriu mais de 15 e parecia já estar com a vitória nas mãos. Se ainda é um time muito inconstante (normal para quem tem o genial imperfeito Russell Westbrook na armação – e isso não é uma crítica, mas sim uma constatação), ao menos dá pra ver que Billy Donovan tem conseguido explorar perfeitamente as habilidades dos seus jogadores, levando este mesmo OKC a um nível jamais visto nos anos de Scott Brooks (a comparação é inevitável).

billy4Donovan não mudou o estilo do Oklahoma. Não transformou um time de "cavalos físicos" em um equinos amestrados que só correm em caso de extrema necessidade. Temos Russell Westbrook? Então que ele corra e ultrapasse seu rival. Há Kevin Durant no elenco? Que ele domine o seu adversário, mesmo que seja no quase sempre difícil um-contra-um. Há Serge Ibaka, Enes Kanter e Steven Adams no garrafão? Que os gigantões se matem para pegar rebotes ofensivos, gerando mais oportunidades de cesta para um time que vira e mexe desperdiça posses de bola (na segunda-feira foram 11 erros e 10 rebotes ofensivos – um compensando o outro), e pontuem o máximo que conseguirem. Ciente que liga não se há outro trio de pivôs que combine força física, técnica, formas diferentes de pontuar (ganchos, tiros longos, arremessos de média distância e enterradas pós-picks), Donovan deu carta-branca para os jogadores das posições quatro e cinco para atacar a cesta sempre que possível. Com cavalos puro-sangue, ainda dá para conjugar um ataque veloz (embora estático na maioria dos momentos) com uma defesa sufocante de dar gosto. O OKC não marca tão bem como o San Antonio Spurs, mas nos momentos essenciais e quando precisa tem conseguido usar o físico do seu elenco para conseguir deter os rivais (o que os americanos chamam de "stops").

west1O que acontece quando todos os itens acima vão para o liquidificador de Billy Donovan? Todo mundo sabe que o Thunder é o time de Westbrook e Durant. São os dois que irão decidir a maioria dos ataques. Mas não dá mais para deixar as outras peças livres – nem Andre Roberson, que tem se colocado cada vez melhor nas extremidades para matar os arremessos do corner. Se dobrar em Russ ou Durantula o resultado será o mesmo que Spurs e Warriors experimentaram – os gigantes e os demais alas vão punir as defesas com cestas de alto potencial de conversão e cada vez mais lances-livres (Adams cobrava 2,5 lances-livres/jogo na fase regular; no playoff o número saltou para 4,1). O que era previsível continua previsível (o armador e o camisa 35 irão pontuar horrores), mas nem tanto assim, causando confusão nas defesas adversárias até dizer chega. Se dobrarem em Westbrook e Durant, Adams, Ibaka, Kanter, Waiters e Roberson irão pontuar. Se marcarem individualmente, as duas estrelas barbarizam em cima de seus oponentes.

durantula1Ainda acho que o Golden State é o grande favorito a ganhar esta série. Mas o potencial físico do Oklahoma causou estragos no jogo 1 e deixou uma série de dúvidas na cabeça de Steve Kerr, técnico do Warriors. Muita gente (inclusive eu) tinha dúvidas sobre como o Thunder jogaria diante do GSW, que ama as formações baixinhas. O OKC não teve dúvida – manteve seu estilo e pagou pra ver como ficariam as rotações. Fez 40 dos seus 108 pontos no garrafão, defendeu muito bem e provou que o que aconteceu contra o Spurs não foi um golpe de sorte. Foi um golpe, mesmo, de estratégia de Billy Donovan, que tem conseguido potencializar as habilidades de Russell Westbrook e Kevin Durant não a favor deles próprios, mas para benefício do time.

San Antonio Spurs v Oklahoma City ThunderHá anos a gente queria ver como os dois atuariam, juntos, muitíssimo bem e em quanto seria impactado o restante do elenco com essa mentalidade mais altruísta da dupla. Spurs e Golden State, que perderam somados, três vezes em casa na fase regular, sentiram isso diante do Thunder. O OKC venceu os dois melhores times do Oeste três vezes neste playoff em quatro oportunidades. Como disse Russell Westbrook, "o trabalho ainda não acabou". É muito prudente que o Golden State Warriors traga algo diferente para a mesa no jogo 2 de logo mais (22h). Voltar com 2-0 para Oklahoma é um sonho que nem o dono do OKC tinha até o começo da série.

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