Huertas avisa: "Todos estão obcecados com Antetokounmpo, mas Grécia será apenas um jogo"
Fábio Balassiano
29/08/2019 05h00
Crédito: Leonardo Siqueira Moreira (Site A1minuto)
Armador titular da seleção brasileira há mais de uma década, Marcelinho Huertas diz que não pensa, mas sabe que, aos 36 anos, suas chances e de seus colegas de geração para conseguir uma medalha com a equipe nacional estão se esgotando.
Um dos líderes do grupo do técnico Aleksandar Petrovic, Huertas estreia com o Brasil contra a Nova Zelândia no Mundial da China às 5h do primeiro dia de setembro. Recém-contratado pelo Tenerife, da Liga Espanhola, Marcelinho conversou com o blog sobre a competição, sobre o cenário da modalidade no país e também o fato de jogar o torneio como papai pela primeira vez. O jogador e sua esposa, Graziella, são papais de Leonardo e Luigi, e o fato de ficar tão longe de seus gêmeos nascidos há cinco meses também foi tema desta entrevista.
BALA NA CESTA: Como a seleção chega para esse Mundial da China e até onde ela pode chegar? O jogo contra a Grécia é realmente o crucial dessa primeira fase ou encarar assim é um erro porque descarta logo de cara Nova Zelândia e Montenegro, os outros rivais da chave?
MARCELINHO HUERTAS: Existe uma igualdade muito grande entre inúmeras seleções. As pessoas sempre escolhem suas favoritas baseadas na história recente ou quantidade de estrelas da NBA mas a realidade é bem diferente. A linha que divide muitas seleções que não são valorizadas da mesma maneira é muito fina e isso faz com que exista uma igualdade grande. Ainda mais esse ano sem muitos jogadores de elite em grandes seleções. Muitos aspectos intangíveis podem ser fatores cruciais para o sucesso dessas seleções menos paparicadas. Acredito que nós fomos "colocados nesse pelotão" sem grandes expectativas, porém somos ambiciosos e acreditamos no nosso trabalho e nessa mescla que existe na nova seleção brasileira. Fizemos ótimos amistosos de preparação e as pessoas começam a ver o Brasil com outros olhos. Todo mundo está completamente obcecado com a Grécia e com o Antetokounmpo, mas sem desmerecer nada este será apenas mais um jogo importante como todos os outros. Cada jogo e rival exigem que você se prepare de acordo com ele e a Grécia terá suas particularidades como qualquer outro time.
BNC: Motiva ou não muda nada o fato de este ser o último Mundial de muitos que estão no grupo, como você, Varejão, Alex, Marquinhos e Leandrinho, por exemplo?
HUERTAS: Jogar um Mundial ou Olimpíada é um luxo, o auge para qualquer atleta. Temos a mesma motivação dos outros e não fico preocupado que seja ou não o último. Tento viver o momento da melhor maneira possível, buscando conseguir o melhor resultado que possamos. Acredito e acreditamos muito na força do grupo como um todo.
BNC: Pessoalmente falando, como você está psicologicamente para o Mundial depois de ter se tornado papai (duplo) de primeira viagem? Como está sendo esse período de treinos e jogos longe de casa, deles e da sua esposa? É possível se desligar completamente de casa e focar só no basquete?
HUERTAS: É ruim não estar perto para poder pegar e acompanhar o dia a dia nessa fase deles tão pequenos mas felizmente graças a tecnologia falo com minha esposa por chamadas de vídeo e ela manda muita coisa pra mim também durante os dias. Isso dá uma amenizada na saudade. Mas quando entro na quadra, entro na minha bolha de concentração. Foco e tento fazer com que nenhum fator externo possa interferir no meu trabalho.
BNC: Para um armador, quão diferente é o estilo de jogo do Petrovic em relação ao que o Magnano trazia para a seleção? De longe me parece mais aberto, mais fluido e com mais liberdade para os atletas. Isso ajuda demais um armador criativo como você, não?
HUERTAS: Ele dá muita liberdade pra todos os jogadores. Na minha função isso me dá segurança, porém não podemos confundir isso com tomar más decisões e perder o controle. Não se pode confundir as coisas.
BNC: Pensando nisso. Você recentemente saiu do Baskonia e assinou com o Tenerife, também da Espanha. Chegou a cogitar voltar ao Brasil para jogar o NBB ou isso nem passou pela sua cabeça no momento da tomada de decisão?
HUERTAS: Não passou. Assim que acabou a temporada conversei com o Baskonia, pois existia uma possibilidade de renovação. Não foi prioridade do clube e nem minha naquele momento, porém. Outros times entraram em contato já no dia seguinte tanto na Espanha como fora e isso logo me deu combustível de seguir por lá. Quando for o momento certo eu voltarei, pelo menos assim é o que gostaria. Só o tempo dirá…
BNC: Por fim, como você enxerga o atual momento do basquete brasileiro? NBB, Confederação, clubes e atletas. Consegue enxergar muita evolução ou ainda estamos patinando em muitos pontos básicos como estrutura, planejamento e organização?
HUERTAS: São coisas interligadas porém todas diferentes. NBB numa crescente porém não pode estancar o crescimento e o desenvolvimento da nossa base, que é fundamental. A Confederação num período de restruturação, e isso é difícil como todos sabemos. Fazendo um esforço muito grande pra voltar a deixar o basquete onde ele merece e não é tão simples como parece. Requer muito trabalho e tempo, além de pessoas com muita ambição. Alguns clubes estão solidificados é isso é ótimo para dar estabilidade, mas por outro lado muitos vêm e vão rapidamente com projetos pouco duradouros e muito "resultadistas", o que não existe! As pessoas têm que entender que ser vice-campeão ou não chegar a disputar um título não é tão fácil quanto parece independente da competição que se jogue. Caso não dê certo, dirigentes desistem e acabam com tudo. Essa cultura do esporte brasileiro em geral deveria ser melhor avaliada. Os atletas são reflexo do trabalho que se faz na base, alguns sempre se destacarão mas isso não significa que serão jogadores profissionais, seleção ou NBA. Talento temos de monte, falta saber trabalhar melhor de uma maneira individual e psicológica hoje em dia principalmente. Isso é muito mais complexo que qualquer coisa que fale aqui. É muito abrangente e se quiser algum dia podemos falar mais a fundo.
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