Parte II - Neto fala sobre dia a dia e parte tática com as meninas na preparação pro Pan
Fábio Balassiano
01/08/2019 14h18
Na primeira parte da entrevista com José Neto você leu sobre todo processo que o levou à seleção brasileira. De agora pra frente é mais sobre o dia a dia, parte tática, preparação dele para assumir o cargo. Divirtam-se!
BNC: Esses feedbacks do ponto de vista mais pessoal o que são?
NETO: Atitude das jogadoras, como elas são. Eu fiz questão de falar com todos os técnicos das jogadoras que eu convoquei pra que eles também pudessem me dar um feedback deles da temporada, porque, na verdade, ele ficam muito mais tempo do que eu, então eles poderiam me dar um feedback já pra eu saber como lidar. Eu acredito demais que conhecimento é importante, mas como você lida com o conhecimento e o aplica é muito mais importante, é fundamental, vamos dizer assim. Então, nada melhor do que você ter o máximo de informações pra que a gente possa lidar melhor com isso. A própria característica das jogadoras, personalidade, como elas reagem, momentos que elas se sentem bem ou não. Na verdade, eu tenho que potencializar as jogadoras, não fazer com que só elas se adaptem a mim, eu também tenho que me adaptar a elas pra que as coisas possam fluir. Eu acho que tem muito desses aspectos. O aspecto médico, fisiológico, que o próprio médico já estar há um bom tempo com elas, já conhece bem as jogadoras. Esses feedbacks a gente já conversou, a gente tem esse canal, que eles me passaram essas informações diariamente.
BNC: Uma vez eu entrevistei o Zanon, ex-técnico da seleção, e ele me falou assim: "Pô, Bala, a principal dificuldade que eu tive nesse sentido é que no masculino você acaba o jogo, você entra no vestiário e no feminino, às vezes, você tem que esperar uns dez minutos"…
NETO: Isso vai ser uma experiência interessante, ainda não tive essa experiência, mas claro que é uma adaptação. A gente vai fazer, lógico, o que é mais confortável pra elas. É muito mais fácil um adaptar a 12, 13, 15 o que o contrário. Nada mais justo do que um se adaptar a 13, 12, do que 12 se adaptar a um.
BNC: E tua filosofia de jogo? Você certamente mudou muito dos últimos cinco anos dirigindo o Flamengo, o basquete já mudou muito. Como você está enxergando o basquete hoje e como é que você quer ver essa seleção jogando?
NETO: O feminino tem uma diferença de que as coisas não se resolvem tanto no físico como no masculino se revolve. Tem muita coisa que o masculino se resolve no físico. O feminino também se resolve, mas não tanto como o masculino e por isso acho que tem uma prioridade muito física e técnica. O físico pode fazer uma diferença e nós estamos apostando nisso, nós estamos apostando em também mudar, por isso o Diego Falcão veio comigo, porque eu tenho uma confiança na maneira como ele trabalha fisicamente pra que elas possam ter a capacidade de jogar da maneira como eu quero, que é como é o basquete hoje. Estou assistindo basquete feminino e eu vejo também que é intensidade, ritmo e a resistência dessa intensidade e desse ritmo. Todos os times jogam intenso, todos os times jogam com ritmo. O negócio é qual é o time que vai conseguir fazer isso com mais frequência, por mais tempo. É isso que a gente quer. Que o time jogue com intensidade, com ritmo, um ritmo alto por mais tempo, então isso vem com o lado físico também. É lógico que se elas tiverem essa condição de força, resistência, velocidade, agilidade e tecnicamente, taticamente não conseguir entender as coisas fica complicado. A gente está buscando acoplar essas duas coisas. A gente sabe que, hoje, tem as jogadoras de destaque de um jogo interior, a gente tem que priorizar isso. Não que só elas sejam as que vão fazer os pontos, mas que o jogo possa também partir delas, que a gente possa usufruir dessa peça que é um diferencial. Eu acho que a gente está buscando trabalhar formatando a equipe utilizando essas jogadoras que são destaque, até no cenário mundial, como são Clarissa, Érika, Damiris e Nádia.
BNC: Me chamou atenção na tua convocação que basquete feminino ainda é dominado no terreno interno por muitos veteranos e você foi num caminho ao contrário, que eu adoro, convocando muitas jovens como Alana, Lays, Taina, Stephanie e tantas outras, deixando muito claro pra todo mundo que esse não é um projeto de curto prazo. Você quer essas meninas pra pensar lá frente também, certo?
NETO: Acho que é necessário ter uma mescla. Eu também não acredito assim que: "Ah, vou botar uma seleção sub, como os EUA, sub-19 pra jogar o Pan-Americano". Primeiro, eu acho que a gente não pode se dar esse luxo. O Brasil não tem ainda essa capacidade de botar qualquer seleção numa competição adulta. Acho que ainda não tem essa capacidade e nem é o momento pra se fazer isso. Então a gente tem que fazer uma mescla, até pra fazer jus e ser uma coisa condizente com o que eu tô falando. Eu falei muito pra gestão na conversa que eu tive com eles que a gente tem um discurso de fazer um trabalho a médio e longo prazo então a gente tem que ter a prática condizente com isso. Se eu quero fazer um trabalho a médio e longo prazo, tenho que ter atitudes e a gente fazer essa mescla é uma atitude. Não é pra chegar lá e falar: "Agora, vamos colocar essas meninas jovens". Não. Que elas façam parte desse processo. Eu acho que tem muitas jogadoras também que têm uma experiência que podem passar essa experiência pras jovens. Então, do pouco que eu tive de contato com elas, eu vi uma vontade muito grande dessas jogadoras mais experientes de passar o conhecimento pra essas jovens. É um integração supernecessária. Uma coisa que eu falei é que elas não estão jogando só pela seleção brasileira, que é uma coisa importante, mas elas pelo basquete brasileiro. Essa é a contribuição que elas têm que ter, talvez não consiga ter o resultado de ganhar um título, mas pode deixar um legado que contribua pra que futuramente se consiga algum título. Acho que essa é a ideia, por isso que nós estamos fazendo essa mescla. As que não estão aqui também, estamos mapeando também.
BNC: A CBB pensa em naturalizar alguma jogadora? Já existiu esse tipo de conversa?
NETO: Já existiu, lógico. O mundo, hoje, usa muito disso. Se você olhar, praticamente várias seleções têm naturalizadas. E é lógico que eles também pensam dessa forma, só que eu acho que a gente estar primeiro tentando formatar um pouco a maneira como nós vamos trabalhar. Então, a gente tem que escolher bem isso. Não é assim: "Vamos colocar qualquer uma. A gente coloca uma aí e se não der certo a gente troca". Não acho que é bem por aí. Eu acho que primeiro a gente tem que valorizar aquilo que a gente tem aqui, tentar utilizar bem isso e se alguém vier que venha pra somar numa condição necessária. Falei pra eles da CBB: "Hoje, eu não tenho essa capacidade de avaliar o que realmente a gente não tem". Vamos primeiro ver a condição das coisas que a gente tem e falar assim: "Agora a gente precisa de uma jogadora pontual pra fazer isso, aquilo e também uma jogadora que, realmente, faça uma diferença". Essa é a ideia, já se falou, sim, porque o mundo, hoje, busca isso, mas a gente tem que tomar um cuidado pra que não seja uma coisa banal.
BNC: Você estava falando das jogadoras de interior. Clarissa, Damiris e a Érika, principalmente, e a Nádia também, que até rescindiu com a Espanha, agora. Como fica a questão de calendário delas em relação a AmeriCup e ao Pré-Olímpico?
NETO: Isso é bem complicado. Isso é bem complicado porque AmeriCup mudou a data e foi pro final de setembro, que é uma data complicada. Por exemplo, a Damiris que, hoje, não está aqui é porque foi um acordo, não é que ela não quis vir. É uma coisa já acertada. Ela virá depois nas outras competições, que são muito importantes pra que a gente possa ir pra Olimpíada. Não que essa não seja importante, mas pra gente também ter um bom relacionamento, vamos dizer assim. Até porque se a gente fala que ela é a única jogadora na WNBA, que é uma competição superimportante, se a gente fala que ela tem essa importância, a gente não pode desprezar e tratar de qualquer jeito. A gente tem que também dar nossa contribuição pra que a jogadora possa ser uma referência do Brasil num cenário importante como é a WNBA. Tem outras jogadores que tão também no universitário dos EUA, que estão aqui hoje, por exemplo, a Mariane, a Stephanie, que são jogadoras importantes também que já tão enchendo os olhos até dos americanos. A gente trazendo elas pra cá elas começam a entender esse processo e o gosto de poder estar com a seleção brasileira, que eu acho que isso é fundamental. Vamos tentar ajustar esses calendários, é muito complicado, tem que ter um relacionamento entre CBB e clube pra que a gente possa ter o entendimento. Não tenho dúvida, com todas as atletas que eu conversei, todas, sem exceção, elas querem estar na seleção e nós vamos tentar ajudar isso da maneira possível sem ser prejudicial a elas pra que elas possam estar na seleção sendo essas referências sem prejudicar a carreira delas.
BNC: Como é que você se preparou pra esse período de seleção do ponto de vista mental, psicológico? Eu sei que você é um cara que se prepara demais pro desafio. Quadra a gente sabe que você tem, todo mundo sabe que você tem, técnico multicampeão de NBB, campeão mundial, mas como é que foi essa preparação? O que você procurou ler, você conversou além da parte do basquete, mais fora da quadra? O que você procurou fazer? Você procurou fazer algum trabalho especial de leitura, de vídeo, de filme, de alguma coisa assim?
NETO: Bom, primeiro, eu procurei ver como é o cenário do feminino. Do Brasil, que, na verdade, é a partir daqui que eu vou. Não adianta eu ficar olhando as coisas fora e depois aqui é outro material, outra coisa. Então, eu queria saber exatamente como é o cenário do basquete feminino aqui.
BNC: E como é esse cenário hoje?
NETO: É uma coisa que em comparação a outros cenários é preocupante, principalmente quando a gente começa a ver a base e o que vem pela frente. Ao mesmo tempo a gente vê algumas jogadoras com destaque indo pros EUA. Tem mais de 40 meninas jogando nos EUA.
BNC: A CBB tem isso mapeado?
NETO: Tem. A Adriana tem tudo isso mapeado. A gente tem contato de todas elas. Não só de jogadoras, como profissionais também brasileiros que tão atuando fora do Brasil. Vários aí, a gente pode falar tem o Octavio Battaglia, Vandinho, Anne de Freitas Sabatini, que já foi técnica da seleção, tem outros técnicos que tão trabalhando fora do Brasil que podem ser úteis pra gente nesse momento. A gente tem isso mapeado, a gente sabe que existe uma distância muito grande de tudo, de estrutura, de trabalho e a gente precisa tentar melhorar o que nós temos, hoje, aqui. Se a gente ficar só olhando lá e vendo que estar ruim aqui, não vai acontecer nada. Então, nós temos que ver o que nós podemos fazer pra melhorar as condições que a gente tem aqui. Aumentar o número de equipes da base, melhorar capacidade dos técnicos, aprimorar isso, fazer com que mais meninas joguem, tentar atuar em escolas, tentar fazer alguns projetos assim. Eu conversei muito também com o pessoal da LBF, com o presidente Ricardo Molina, eles estão muito dispostos a conversar e a agir também nesse sentido de fazer com que novas equipes, novas jogadoras possam aparecer, de ter também um trabalho da formação. A CBB está fazendo agora também um projeto pra trabalhar junto com o Comitê de Clubes, o CBC, não só com os clubes, mas também permitir que outras equipes possam participar desses campeonatos. As escolas também, campeonato escolar. O Comitê Olímpico dá uma ajuda incrível também que a gente pode usufruir. É muita coisa por fazer, tem muita coisa. É a gente ir fazendo pra que as coisas, realmente, se concretizem.
BNC: Uma coisa que a Paula sempre fala é que o basquete feminino se acomodou. Antes, quando elas ficavam em 5º com a seleção elas voltavam muito incomodadas. Hoje as meninas ganham um nacional feminino, a LBF, e ficam felizes. Quão real é isso? Como transformar essa cabeça?
NETO: É uma coisa que acho que a gente tem que mudar não só no basquete feminino. No Brasil muita gente pensa que ganhar às vezes é a mesma coisa que perder. "A gente tenta na próxima". É bonito, né. Tem gente que fala assim: "Tudo bem perder, mas vamos tentar". Na prática, eu acho que não pode ser assim. Eu acho que ganhar e perder não são a mesma coisa. A gente tem que saber que ganhar e perder não são a mesma coisa, que perder a gente perde, realmente, não só o jogo, mas perde outras coisas, oportunidades, possibilidades de evoluir em outras equipes com o benefício. Elas têm que saber isso quando entram na quadra, não pode ser a mesma coisa. Agora, não é só entrar pra jogar, é se preparar pra que isso possa acontecer. Como está sendo esse preparo agora? O que nós tamos pensando da formação? Como nós estamos formando atletas? Como nós tamos formando os técnicos que vão trabalhar com as atletas? Eu acho que essas são as coisas que são importantes da gente poder avaliar agora e saber que é exatamente isso, ganhar não é a mesma coisa que perder, a gente tem que ter essa mentalidade e tem que estar preparado pra ganhar, não é só querer ganhar.
BNC: Como fazer isso tudo sem tanta grana? Porque hoje a situação da CBB é difícil. Como é que faz isso sem dinheiro?
NETO: Muito difícil. Vendo as possibilidades das parcerias, como eu falei pra você, acho que o Comitê Olímpico tem ajudado bastante, o CBC também promovendo esses campeonatos de base, acho que ajuda demais Isso também ajuda demais a poder massificar. Não adianta só também a gente ter uma quantidade de atletas jogando. É preciso também ter profissionais capazes de trabalhar com essa quantidade de atletas, senão não adianta nada. Se você massifica, tem um monte de atletas, mas os profissionais não têm a capacidade de trabalhar com qualidade, não vai acontecer nada. É um trabalho difícil, lógico, sem dinheiro mais difícil ainda. Essa falta de dinheiro não é só no basquete, a gente está vendo de uma maneira geral, no país, no esporte. Eu acho que o Brasil precisa melhorar a sua cultura de esporte porque a gente vê muitas instalações se deteriorando e a gente acha que está tudo bem. Por que acontece isso? Porque não tem uma cultura de esporte, porque não se dá o valor de que, realmente, essa é uma coisa valiosa, a gente tem que cuidar, tem que ter gente utilizando. Acho que todas essas coisas fazem parte de uma cultura de esporte. Lá atrás, na Olimpíada, quando me perguntaram qual era o maior legado que os Jogos Olímpicos poderiam deixar eu falava que, realmente, era da cultura do esporte. Quando você tem essa cultura, todas as outras coisas são valorizadas. É difícil, mas você tem que buscar, acreditar com essas parcerias, com quem realmente quer, com as empresas que tão apoiando, que acreditam no trabalho e é um trabalho de formiguinha da própria classe do basquete de poder ajudar.
BNC: O basquete, às vezes, joga contra ele mesmo, você acha?
NETO: Eu acho que pode até ter, mas é uma coisa que eu não sei te falar e te precisar porque é uma coisa que pra mim não. Quando eu vejo esse tipo de coisa, é uma coisa que eu já não somatizo. Eu prefiro ver muito mais o copo meio cheio do que meio vazio. Eu prefiro ver assim. Existem as pessoas que são positivas e as negativas. É a gente se aproximar e saber lidar com essa situação e deixar ser atingido pelas positivas porque é ali que você quer ir. Isso não me atinge. Acho que existe, acho não, sei que existe, mas não perco muita energia com isso, não.
BNC: Pra ir fechando, como você se preparou pra essa nova etapa da sua carreira?
NETO: Primeira coisa é eu estar bem comigo mesmo, porque se eu tô bem comigo mesmo, eu consigo ser alguma coisa boa pra alguém. Eu acho que você ser técnico é muito disso. Você conseguir passar alguma coisa boa pra alguém. Então, tenho procurado cuidar muito da minha saúde, por exemplo, mental, porque foram experiências que eu passei que me ajudaram a ser resiliente, ser forte e olhar a dificuldade talvez de uma outra maneira, não como um problema, mas como uma gana, vamos dizer assim. Eu tenho, primeiro, procurado cuidar um pouco de mim pra que eu consiga estar apto pra esse desafio. Acho que minha família é um combustível muito grande pra mim. Todas as decisões eu converso com a minha esposa, com meus filhos e a minha esposa é superparceira, a gente decidiu junto isso, ela sabia que ia ser difícil.
BNC: Elis é o nome dela?
NETO: É. Elis. Ela sabia que ia ser muito difícil, mas, pô, muito parceira, como todas as outras decisões da minha vida. A gente já foi pra cima e pra baixo várias vezes e ela sempre comigo. É uma coisa que me motiva muito. Eu tenho procurado ler muito coisas não tão técnicas assim. Eu procuro, lógico, estudar o basquete, agora, talvez, um pouco mais o basquete feminino pra entender bem como essas equipes de êxito tão jogando, aquilo que a gente pode tentar não copiar, mas ver de que forma eles chegam a esse êxito, como eles trabalham, que eu acho interessante pra que a gente possa, depois, adaptar a nossa cultura. Eu tenho procurado isso. Estar bem primeiro comigo mesmo, conhecer esse mundo, conversar com pessoas que conhecem esse mundo e podem me dar o feedback e aí depois agir.
BNC: Por fim, como é que você pensa os teus próximos passos de carreira? Você pensa em voltar a dirigir masculino ou agora é exclusivo feminino? Como é que vai ser pra você? Teu nome foi cogitado em 487 clubes no NBB…
NETO: Eu vou falar a mesma coisa que eu falei pra alguns clubes. Eu tenho contrato aberto com a Confederação, eu posso sair em qualquer momento, eu posso conciliar com um clube, no Brasil, fora do Brasil, estar muito aberto meu contrato. É muito difícil pra mim. Eu não sou um profissional muito de dar 50% onde eu estou. Até porque se eu exijo comprometimento da minha equipe eu tenho que ter esse comprometimento. Eu acho que nesse primeiro momento com o basquete feminino estou pretendendo ajudar, e quis me dedicar mais a isso. Posso ter uma proposta que se eu conseguir conciliar as duas coisas eu vou fazer. Isso é possível, até porque existe um acordo e existe em várias modalidades. Até o Pré-Olímpico Mundial, esses calendários são muito complicados. Você mesmo falou do calendário das meninas que tão jogando fora do Brasil.
BNC: Tem setembro, novembro e fevereiro.
NETO: Fevereiro de 2020. Então é complicado. É um calendário difícil, mas se tiver essa possibilidade estou aberto, sou uma pessoa que gosta de trabalhar, então a quantidade de trabalho não tenho problema. Eu gosto mesmo de estar focado na qualidade. Se eu puder entregar da maneira que existe uma expectativa comigo, dois lugares? Ok. Três? Ok. Se eu vejo que eu não consigo entregar de acordo com a expectativa dos lugares que tão tendo essa confiança em mim, prefiro dizer não. Então essa foi minha decisão agora. Acho que até o Pré-Olímpico as coisas vão ficar muito mais focadas pro basquete feminino, mas existe essa possibilidade. O meu contrato é aberto. Existe esse acordo com a Confederação e com Comitê Olímpico, então vamos ver as coisas que vão acontecendo.
BNC: Qual é o teu sonho pro basquete feminino, pra essa tua etapa? Não sei se é só medalha ou é muito mais de transformação. Queria que você falasse assim, se daqui um ano, dois anos, cinco anos, oito anos, dez anos, eu sair e olhar pra trás e falar: "Pô, isso estar feito, eu tô feliz".
NETO: Essa é uma das coisas que eu trabalhei nesse período que você falou assim: "Como que você se preparou?". Justamente é se preparar com isso, com propósitos. Eu gosto muito de me preparar com propósito. Qual o propósito de eu estar aqui, hoje? Primeiro é saber que eu posso contribuir pra que exista essa transformação. Depois, eu poder dar oportunidade de que se não for eu que vá colher esse médio e longo prazo que a gente estar falando, mas se alguma coisa foi transformada e alguém colher lá frente, ok, como já aconteceu nos outros clubes que eu já passei.
BNC: Você sempre foi um cara que deixou sementes…
NETO: Acho que esse é o negócio. Fico feliz de ver o Paulistano como o Paulistano está atualmente, o Flamengo, os clubes que eu passei que vi que alguma coisa ficou com a comunidade, com o público. Até hoje recebo mensagens do Japão, do meu time que tive lá, de Joinville. O trabalho foi feito. Eu acho que isso é o mais importante, esse é o propósito. Hoje, o meu propósito é poder ajudar o basquete feminino a retomar um rumo de êxito. Eu acho que o basquete brasileiro merece isso, o basquete feminino, e poder dar essa contribuição. Eu acho que essa é a minha ideia, essa é a minha meta, é por isso que eu estou aqui.
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