Perto da estreia no Pan, Neto lembra: "Muitos disseram que era furada treinar a feminina"
Fábio Balassiano
01/08/2019 05h13
A seleção brasileira feminina embarcou anteontem para o Peru, onde começa na próxima segunda-feira contra o Canadá às 15h30 a sua saga nos Jogos Pan-Americanos de Lima. E com uma grande novidade no banco de reservas. José Neto, técnico multicampeão pelo Flamengo e ex-assistente da equipe masculina entre 2003 e 2016, fará a sua estreia no comando do time das meninas.
Conversei com ele longamente antes do embarque sobre tudo. Sua passagem rápida pelo Japão (ele foi demitido com menos de seis meses), onde viveu de tufão a furacão, o que esperar da seleção feminina, a preparação dele para dirigir a equipe nacional e muito mais.
Neto, inclusive, faz inúmeras revelações na entrevista. Uma delas, bem interessante, sobre o fato de inúmeros amigos terem dito para ele não assumir o desafio da seleção feminina: "Muita gente me falou que era furada". Entenda os motivos que levaram o treinador a topar o desafio e muito mais.
BALA NA CESTA: Antes de começar a falar da seleção feminina, queria que você contasse como foi a tua experiência lá no Japão, no Levanga Hokkaido? Foi rápida, mas imagino que uma experiência de vida bem legal, né?
JOSÉ NETO: Muito. Gostei demais do que eu vi lá. Foi a primeira vez que dirigi fora do Brasil. Uma liga profissional, era um time de primeira divisão. Uma cultura muito diferente. Não precisa nem falar, acho que todo mundo sabe, mas gostei muito pela maneira como é tratado o esporte. O esporte é tratado de uma maneira bem digna. Uma maneira digna de poder estar trabalhando, de você poder estar envolvido no esporte. Lá o primeiro esporte é o beisebol, o segundo é o futebol e depois é o basquete. Eles têm vários outros esportes como o badminton, por exemplo, que é um esporte bastante conhecido lá, mas o basquete já chegou, com esse crescimento da liga lá, a uma qualidade boa do campeonato. Acho que eles estão ainda aprimorando a qualidade dos jogadores, que têm evoluído justamente pela organização do campeonato, por essa fusão que antes era bem separado da federação japonesa, então, agora, eles estão muito juntos e isso fez com que o basquete também crescesse. Um trabalho muito bom que o Julio Lamas (técnico argentino que dirige a seleçãojaponesa) estar fazendo também com a seleção japonesa, isso faz com que também ajude as equipes. O campeonato é muito profissional. Já tive oportunidade de jogar em vários lugares, NBA, Europa, tudo assim, e como eles tratam o basquete é bem interessante, com uma qualidade altíssima.
BNC: Te surpreendeu que foi muito rápida a estadia?
NETO: Lógico que eu não fui preparado pra ficar pouco tempo, pelo contrário, fui preparado pra ficar bastante tempo, mas já sabendo que a adaptação era uma adaptação difícil, era uma adaptação bem complicada por tudo. Lógico que queria ter ficado mais tempo, mas acho é uma coisa que pode acontecer, aconteceu de a gente não ter essa adaptação tanto pela minha parte como pela parte deles e a gente decidiu, então, terminar por ali e a gente seguisse.
BNC: Antes de a gente falar do feminino, eu queria que você contasse alguns casos que aconteceram lá, casos assim "mais engraçados", que agora é engraçado. Você viveu um terremoto lá. Teve algumas outras coisas que você viveu que você consegue contar assim? Como é que foi esse do terremoto, por exemplo?
NETO: São coisas que não entram muito na cabeça da gente porque a gente não tem noção do que é isso. Antes do terremoto, dois dias antes, teve um alerta de tufão, que também suspenderam os treinos, a gente tinha que ficar em casa. Então já foi uma coisa também que meio que: "Opa, o que é isso?". A gente não sabia o que era isso. Ter um alerta pra que ninguém saísse. Realmente, teve o tufão, mas não foi uma coisa muito forte na cidade que eu estava. Outras cidades próximas já tiveram danos maiores, mas na cidade (Sapporo) não foi tanto. Depois, veio um terremoto bem forte, de escala 7, que é uma escala alta. Às 3h, então, você ser acordado dessa maneira é uma coisa que não desejo pra ninguém. Foi uma coisa que chocou muito e já na segunda semana que eu tava lá.
BNC: Tava sozinho ainda?
NETO: Ainda estava sozinho. Tava só o Diego Falcão, meu preparador físico, por perto. A gente morava no mesmo prédio, mas em andares diferentes. Eu morava no 11° andar, então, senti bastante. Foi uma coisa que assustou muito. Na minha região, na cidade onde eu morava, foi a primeira vez que teve dessa escala tão alta. Tinham, mas sempre pequenos, não tão fortes. Essa aí foi muito forte, tanto é que ficamos três dias sem água, sem luz. Foi uma coisa que mexeu bastante, mas a gente vê nesse momento a solidariedade de todos. Todo mundo do time, a preocupação deles que eu me sentisse bem, não deixando faltar nada. Essa é uma coisa que assustou, lógico, mas a gente vê também um outro lado de como eles conseguem se refazer, mesmo depois de um problema como esse.
BNC: Aí você volta pro Brasil e surge o convite da seleção feminina. Quando surgiu o convite, o que você pensou? Como é que você reagiu?
NETO: Na verdade eu não esperava. Como eu tenho falado em várias outras vezes que tive oportunidade, quando eles me chamaram pra conversar pensei em mil coisas, mas eles me surpreenderam com a milésima primeira. É uma coisa que não pensava, lógico, porque era uma coisa que não tava relacionado, não tinha uma relação com o basquete feminino. Acho que eles pensaram diferente, pensaram um pouco fora da caixa e viram que em outras modalidades acontece, até mesmo no basquete acontece. Se a gente pensar, por exemplo, nos EUA a gente vê agora o Cleveland tendo uma assistente técnica do basquete feminino, o próprio San Antonio Spurs, com a Becky Hammon, tem também uma assistente, dirigiu agora também na Summer League, acho que já tinha dirigido na Summer League passada também. Então acontece isso. Acho que eles pensaram de uma maneira diferente, pensando muito mais no basquete e, realmente, me surpreendeu. Eu pensei com carinho, conversei com muita gente, com meus agentes, com a minha família e aí decidi que iria aceitar esse desafio. Tinha algumas propostas de alguns clubes aqui no Brasil, fora do Brasil também, mas avaliando assim pelo momento, acho que era o momento também de eu poder contribuir um pouco mais, agora, talvez, com o lado do basquete feminino.
BNC: Quando você falou que você veio com mil coisas eles te ofereceram mil e uma, o que foram essas coisas que quando você começou a conversa não é que você pedia, mas que você comentava de planejamento, de organização? Você disse: "Eu trabalho aí, mas se tiver isso, isso, isso". O que eram essas coisas?
NETO: A primeira coisa, que é fundamental, é você ter as pessoas que fazem com que o seu trabalho aconteça, um grupo. Porque todas as coisas que eu consegui de ter êxito no trabalho foi quando a gente conseguiu ter um grupo de trabalho bom. Eu não acredito em outra coisa. Eu acho que não vai ser mudar uma peça, ou seja, que me colocar ali que vai fazer toda a diferença. Eu posso ser uma peça que somada a outras pode fazer uma diferença, que é o que eu tô acreditando. Então, essas outras peças são importantes. Eu queria ter essa liberdade de poder trazer essas pessoas pra trabalhar comigo. Eles me deram essa condição. Outra coisa que me motiva muito é saber que a gente pode estar servindo o nosso país. A gente poder ajudar o basquete do nosso país pra mim é uma coisa que sempre me motivou. Fiquei 14 anos na seleção brasileira masculina, em todas as categorias, praticamente. Da base ao adulto. É uma coisa que me motiva. Essa foi uma condição. Sem dúvida nenhuma, a possibilidade de poder transformar um lugar. Acho que foi sempre assim, quando eu comecei no Paulistano foi assim, quando eu fui pra Joinville também. Na Ulbra, quando eu saí do Paulistano eu fui na Ulbra, também foi uma mudança que teve. O time tava mal e a gente acabou jogando a final do Campeonato Paulista com Franca. No Flamengo também. Era um momento complicado do Flamengo e a gente acabou fazendo as coisas darem certo. Quem sabe agora também! Eu acredito muito que possa acontecer isso também na seleção brasileira feminina.
BNC: Quando você aceita o convite da seleção brasileira feminina sempre tem uma comoção do basquete feminino: "Ah, ele nunca dirigiu o feminino". Como é que foi esse começo assim de, não é aparar as arestas, porque não é isso, mas de explicar: "Não tô vindo pra roubar o lugar de ninguém, mas pra implantar uma filosofia"…
NETO: É complicado porque quando você tem uma função acho que o importante é você pensar na função, na capacidade de executar aquela função, não no gênero. A gente ficar discutindo gênero é uma coisa que, hoje, não se faz mais.
BNC: Mulheres poderiam dirigir homens e homens poderiam dirigir mulheres…
NETO: Claro, sem problema nenhum. Essa é uma coisa que não me pegou muito. Pra dizer bem a verdade, eu escutei muito pouco isso: "Ah, mas ele é do basquete masculino e o que ele vai fazer no feminino?". Vamos discutir a capacidade, se realmente eu não tivesse a capacidade de estar ocupando essa função ok, mas discutir o gênero eu acho que é uma coisa que é inapropriada, principalmente pro momento onde a gente está. Isso não foi uma coisa que me pegou muito, acho que não foi uma coisa que gerou muita polêmica.
BNC: Sobre a proposta em si. Você estava num patamar de basquete masculino, de assistente técnico, teu nome era um dos cotados pra assumir no lugar do Rubén Magnano, assim como outros, Gustavo, Demétrius, acabou sendo o Petrovic. O masculino sempre foi uma coisa de disputar medalha e o feminino, hoje, se fosse na NBA, é o rebuild, do rebuild, do rebuild (reconstrução). Quão motivante é isso, você já falou um pouquinho, mas quão difícil também isso porque a gente vem da Olimpíada de 2008 em diante é só penúltimo, último? Quão desafiador é isso?
NETO: Eu acho que isso me motiva. Você pegar numa situação talvez que você tenha que, realmente, fazer uma transformação muito grande, essa é uma coisa que me motiva, porque você tem que testar uma capacidade de transformação. Eu gosto muito disso. Eu gosto de transformar as coisas pra um lado mais positivo. Isso me chamou atenção, isso fez com que eu visse, realmente, ter uma dificuldade grande. Conversei com muita gente do meio, do basquete feminino, com técnicos, mostrando que eu não sou um concorrente, eu quero vir pra ajudar. Eu senti nessas pessoas também: "Que bom. Bem-vindo, o que precisar, eu te ajudo". Acho que essas coisas foram me motivando a poder fazer esse trabalho. Senti com as jogadoras que eu conversei também. Essas jogadoras se mostraram bem confiantes de que a gente pode fazer um trabalho de transformação. Acho que essa é a ideia. Não só transformar a seleção, mas tentar transformar o basquete feminino aqui no Brasil. Então, por isso entrei em contato com a Liga de Basquete Feminino, que é quem está fazendo o feminino acontecer aqui no Brasil, a CBB que já tem esse relacionamento, o próprio Comitê Olímpico, onde eu também tenho essa relação. Acho que são coisas que a gente tem que somar pra modalidade, não só pra seleção. É lógico que a seleção é onde eu vou atuar diretamente, mas eu quero dar contribuição em todas essas áreas pra que a gente possa ter o benefício também na seleção, essas outras áreas elas precisam também ser beneficiadas.
BNC: Você falou que conversou com muita gente. Com quem você conversou? Pra fazer um diagnóstico teu, da modalidade, você foi ouvir muita gente. Quem são essas pessoas e o que essas pessoas te falaram?
NETO: Se a gente pensar, o Brasil é um campeão mundial de basquete. É claro que você chega nessa condição de ser campeão mundial não é por acaso, tem uma história por trás disso. Não são só essas pessoas que ganharam esse título que fizeram essa história, lógico que elas ficaram marcadas por esse título, que são muito importantes, mas outras pessoas que não estavam na equipe contribuíram demais. Eu procurei falar com as pessoas que estavam nesse momento, tanto as que estavam na seleção, como quem fez parte desse momento. Com técnicos como o Miguel Angelo da Luz (campeão mundial em 1994), falei muito com o Miguel, Maria Helena Cardoso, Heleninha, Antonio Carlos Barbosa, Vendramini, que ainda está atuando hoje, tive oportunidade de falar com ele, os técnicos que tão atuando, hoje, na liga, as jogadoras que fizeram parte desse momento, Paula, Hortência, Janeth, Alessandra, Branca, tantas outras. Justamente pra fazer esse diagnóstico, acho que era muito importante. Uma pessoa que eu conversei muito rápido, mas eu quero ainda conversar mais até pela tarefa é o Paulo Bassul, que tem um conhecimento dos dois lados, agora ele atuando no basquete masculino como um gestor e também foi um cara importante pro basquete feminino e tem esse conhecimento. Então, é um cara que eu ainda quero sentar pra conversar, mas pela incompatibilidade de agendas ainda não tive essa oportunidade. Conversei até com técnicos fora do Brasil. Conversei pra saber como é esse cenário. Nessa somatória, nessa decisão dessas informações que tive, decidi em aceitar esse desafio e tentar contribuir.
BNC: Teve alguém que te disse: "Neto, não aceita que é furada"?
NETO: Sim, algumas pessoas me falaram isso de ser uma furada, lógico. Não só assim por "é furada", é muito mais pela minha relação que eu tenho com o masculino, por eu estar ainda tendo uma história com o masculino. Eu acabei de vir de um campeonato legal, que é no Japão, de estar dirigindo fora do Brasil numa liga profissional, primeira divisão. Tive recentemente no Real Madrid, seleção espanhola, acompanhando. Tinha possibilidade de dirigir equipes masculinas. Como esse existe esse gap entre o masculino e o feminino lógico que as pessoas falavam mais nesse sentido: "Pô, se você tem a possibilidade de ficar no masculino, por que você vai vir pro feminino?". Mais nesse questionamento. Não dizer assim: "Pô, não faz isso que o basquete feminino é ruim, é uma porcaria". Não isso, mais assim no sentido de valorizar o momento que eu tava no masculino de poder também ter uma sequência, talvez, num basquete mais evoluído, atualmente, principalmente no Brasil. Então, acho que foi isso. Foi uma coisa que me fez pensar, lógico, mas acho que a decisão foi tomada de uma maneira que eu acho que eu vou ser útil aqui.
BNC: Você começou a ver os jogos pra começar a fazer a convocação. O que mais te chamou a atenção nesses jogos pra você fazer a avaliação? Velocidade, intensidade, qualidade que existe, apesar dos resultados ruins, porque você teve que estudar bastante pra fazer a convocação.
NETO: Desde que me falaram, em fevereiro, me deram essa possibilidade de decidir ser técnico do feminino, comecei a olhar mais basquete feminino, não só no Brasil, como fora, pra eu saber o nível que é. Além de conversar com as pessoas, assisti também o basquete feminino. É bem diferente. Aí você começa a entender o porquê que talvez não esteja tendo tanto resultado em nível internacional, porque estar jogando, realmente, de um nível diferente, de uma maneira diferente. Se é certo ou errado não sei, mas não está sendo suficiente pra que tenha resultado internacional. Se eu tenho essa função de estar dirigindo a seleção brasileira, eu tenho que fazer uma transformação que tenha resultado internacional. Então, é preciso mudar a maneira de jogar. Essa mudança talvez seja muito do ritmo, da intensidade, da qualidade de jogo, muito relacionada não só com o que se faz atualmente, mas com o processo de formação. Fazendo essa avaliação é importante mudar todos esses âmbitos aí, desde a formação até o adulto a maneira de jogar.
BNC: Qual é a tua expectativa primeiro pro Pan? E depois pra sequência? Tem Pan, tem AmeriCup e depois o Pré-Olímpico. Qual é a tua expectativa pra esses três estágios?
NETO: É um caminho difícil. O Pan, na verdade, não é classificatório, mas é uma competição importante, até porque o Brasil tem uma tradição no basquete feminino no Pan-Americano. Todo mundo lembra se falar de basquete feminino lembra do Fidel Castro entregando a medalha pra Paula, Hortência, ele brincando com elas. Isso foi no Pan-Americano de 91, então existe uma tradição nisso, que a gente tem que respeitar essa tradição. A gente não vai jogar essa competição pra preparar pra outra. A gente vai pra fazer o melhor possível e, claro, brigar por uma das medalhas. Se a gente vai conseguir ou não, é outro assunto, mas a gente vai se preparar pra isso. Depois, aí sim a gente começa esse caminho pra Olimpíada que é AmeriCup, que vai ser em Porto Rico, depois joga, em novembro, o Pré-Olímpico das Américas e aí mudou o formato, onde você desse Pré-Olímpico das Américas você já não classifica pra Olimpíada, agora joga um Pré-Olímpico Mundial. Aí sim a gente vai jogar nesse Pré-Olímpico Mundial, são 16 equipes onde 12 se classificam pra Olimpíada em fevereiro de 2020. Aí estão todos, praticamente um Mundial, onde você tem que classificar pra você poder jogar os Jogos Olímpicos. É um caminho muito difícil, muito duro, atualmente. Essa foi uma das coisas também que eu falei quando eu tive o convite. Se a expectativa fosse só pra classificar pro ano que vem, pra Olimpíada, eu acho que (Neto balança a cabeça)… eu acredito no trabalho, eu acho que esse processo de trabalho, com esse tempo era uma competição meio que injusta porque eu estaria competindo com equipes que já tão se preparando há mais de quatro anos. Eu acho que era um competição injusta, eu não posso garantir. Isso não quer dizer que a gente não vai com o foco de conseguir esse classificação. Nós estamos trabalhando pra isso. Eu não estou trabalhando pra 2024, mas pra 2024 também. Nós estamos trabalhando pra cada etapa. Isso é um processo. Se a gente conseguir fazer isso de uma forma de evoluir, de uma forma rápida, por que não a gente não pode classificar? Claro que pode. A gente vai com esse foco, mas a gente sabe que é um processo de médio e longo prazo, que esse médio e longo prazo tem que se começar hoje, porque se eu quero a médio e longo prazo colher alguma coisa, eu tenho que plantar hoje, eu não posso ficar esperando chegar lá. Se eu não plantei nada, eu não vou colher nada. O trabalho já começou pra gente poder colher a médio e longo prazo.
BNC: Como está esse dia a dia com as meninas? Primeiro, do ponto de vista assim de fora das quadras. Eu vou te citar uma coisa que acabei lendo. O Bernardinho quando assumiu a feminina de vôlei na década de 90, eu li no livro dele isso, ele disse que tinha dentro da equipe de comissão técnica psicólogo, endocrinologista, ginecologista, pessoas que analisavam o comportamento das mulheres fora da quadra, que é completamente diferente do homem, tem o ciclo menstrual que influencia por exemplo. Como é que você se prepara pra isso? Você está, sei lá, estudando o ciclo menstrual das meninas, por exemplo? Porque é diferente.
NETO: É diferente. Eu dou muito valor pra isso. Eu acho que isso faz diferença mesmo. É uma diferença que faz muito sentido lá na frente. É uma coisa que eu costumo falar nas palestras que eu dou, muita gente fala: "A gente perdeu por um detalhe". Pô, se você está perdendo por um detalhe, então o detalhe não é um detalhe, ele é importante. Você tem que dar importância pro detalhe. Então não é só um detalhe. Faz uma diferença. Essa é uma coisa que faz uma diferença, que a gente tem que estar atento a isso, não uma coisa qualquer. Hoje, a gente ainda não tem essa estrutura pra conseguir ter tudo isso. Hoje a gente ainda não tem isso, mas estou procurando ter pessoas perto que entendem disso e que podem dar esse feedback. Por exemplo, meus assistentes todos trabalham com basquete feminino.
BNC: O João Camargo e o Virgil Lopez…
NETO: E o Cristiano Cedra, que nesse momento não veio porque teve alguns compromissos previamente agendados com o Bradesco, com o time dele lá de Osasco. Quero que os auxiliares que estão comigo no adulto possam estar trabalhando com a base. Se eu quero fazer uma interface entre adulto e base não pode ficar só na palavra, eu tenho que ter atitude. Então, por exemplo, o Virgil, que está comigo, dirigiu a sub-16. Pena que foi o inverso, primeiro ele dirigiu a sub-16, depois acabou vindo pra cá, mas é o calendário, é o que a gente tem que fazer. Talvez na próxima seja uma coisa mais real essa aproximação. O Cris também tem o trabalho dele na seleção adulta, mas ele vai ser um técnico da sub-17. A gente ia ter uma seleção sub-21 que o Camargo também ia estar presente, mas a Federação Internacional cancelou esse campeonato. São coisas que a gente está pensando de uma maneira prática e real de a gente transformar isso que nós tamos falando em atitude, em coisas concretas. Falando sobre esses detalhes ou essas coisas que fazem a diferença, essas pessoas me dão esse respaldo. A comissão médica, fisioterapeutas, já trabalham com essas meninas um tempo, então, eles também me dão feedback. Não tenho problema nenhum de estar perguntando, questionando, porque é uma coisa que não sei. A própria Adriana Santos (coordenadora), que é uma pessoa superimportante nesse projeto todo, porque além de ela ter sido jogadora de alto nível, também uma campeã mundial, ela já está há um bom tempo como gestora, ela foi técnica e agora ela é diretora das seleções femininas. Ela também me dá um feedback superimportante e não tomo nenhuma decisão sem falar com ela.
Continua mais tarde…
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