Ala de Franca, Didi chama atenção aos 19 anos e projeta próximos passos da carreira
Fábio Balassiano
05/11/2018 05h00
Marcos Henrique Louzada gritava, suava e vibrava. Do banco de reservas do Franca Basquete na partida vencida pelo time contra Brasília no último sábado por 101-73 na capital federal Didi, seu apelido de infância, esperava a sua chance. Com uma pequena lesão na perna, não atuou contra o Basquete Cearense em Fortaleza na quarta-feira e aguardava o chamado do técnico Helinho para entrar em quadra.
O chamado aconteceu no final do primeiro período, e mesmo com restrição de minutos Didi transformou a expectativa que todos no ginásio tinham em vê-lo em realidade. Em apenas 17 minutos de uma atuação feroz o ala de 19 anos, natural de Cachoeiro do Itapemirim (ES), terra do cantor Roberto Carlos, fez 15 pontos e apanhou 3 rebotes para manter a sua média de 13 pontos por jogo na temporada.
Didi é uma das maiores revelações do basquete brasileiro nos últimos anos. Campeão Sul-Americano Sub-21 em Salta, na Argentina, recentemente, convocado recentemente para a seleção adulta pelo técnico Aleksandar Petrovic e tratado com muito carinho pela comissão técnica de Franca, o garoto de 1,95m m sonha alto – e pelo que vem apresentando tem todos os motivos para isso. Dono de uma força física gigante, ótima infiltração e personalidade acima da média, seu futuro parece bem animador.
Abaixo meu papo com ele logo após a vitória francana em Brasília.
BNC: Quem é o Didi? De onde veio o apelido?
DIDI: Meu nome é Marcus Henrique Louzada, nasci em Cachoeiro do Itapemirim, Espírito Santo. Meu apelido Didi veio quando minha mãe estava decidindo meu nome ainda. Havia uma dúvida se seria José Augusto ou Marcos. Fui pra casa, minha avó perguntou qual seria o meu nome, minha mãe não sabia responder. Aí minha avó emendou: "Então tá bom. Ele vai ser o Didizinho da vovó". E aí ficou.
BNC: E você sempre jogou basquete na infância?
DIDI: Não, não. Eu jogava futsal antes de começar no basquete. Jogava com meu irmão, o João Pedro, e minha prima era professora de educação física na época. Jogava futsal com ele, e de 7 para 8 anos um amigo chamou a gente pra jogar basquete. Ele foi primeiro e depois me levou. Ficava praticando futsal e basquete junto até que aos 10 anos eu tive que escolher pelo basquete. Sou muito feliz praticando esse esporte.
BNC: Bacana. E como foi parar em Franca? Quem te descobriu?
DIDI: O Jamil, do Sesi, de Franca, me viu jogando alguns campeonatos de base e principalmente no Sul-Americano que existe anualmente em Novo Hamburgo acho que chamei de vez a atenção dele. Fui convocado pra seleção brasileira de base, a Sub-15, e aí o convite foi formalizado. Houve interesse em mim, e meu agente, o Arlem Lima, me ajudou bastante a fazer essa transição do Espírito Santo pra cidade em 2016. Tinha 15 para 16 anos.
BNC: E o lado familiar, tendo em vista que você mora sozinho em Franca e sua família ficou no Espírito Santo? Não deve ser fácil…
DIDI: Eles ficam lá e de vez em quando minha mãe vai pra Franca me ver. Claro que não é fácil sair de casa, mas todos torcem por mim e entendem que a vida de esportista é assim mesmo. Todos ficam muito orgulhosos. Nunca ninguém da família pensou que um menino que saiu de Cachoeira do Itapemirim tão cedo, que começou no basquete com 12 anos, poderia se tornar jogador profissional.
BNC: Como está sendo esse primeiro ano como efetivo no profissional? Acima da expectativa?
DIDI: Está sendo muito bom. Tenho treinado muito não só pra jogar, mas pra mostrar que eu posso fazer parte de uma rotação frequente do Franca Basquete. Jogar contra caras mais velhos e fazer parte de um elenco com jogadores experientes é um desafio. Mostrar que posso ajudar o elenco com consistência e regularidade é o que estou buscando nessa temporada. Grande desafio pra mim e acho que estou conseguindo ir bem.
BNC: A gente até brincou na transmissão que você estava realmente pegando fogo. Em 17 minutos de atuação, 15 pontos. Como é seu estilo de jogo e onde o Helinho, no bom sentido, tem enchido o seu saco pra você melhorar?
DIDI: Ele fala muito comigo, enche bem o saco pra eu melhorar em todos os fundamentos, viu (risos). É algo que ele me cobra muito e que eu me cobro também. Evoluir em tudo, sem limites. O Helinho estava muito focado em que eu melhorasse meu arremesso de três pontos. Eu era bom, mas ele dizia que para eu ter mais armas no basquete adulto apenas as minhas infiltrações não bastariam. E ele estava certíssimo. De um tempo pra cá fui aprimorando meu arremesso e depois meu estilo de jogo ficou mais completo. Ele vem falando pra mim sempre que nem sempre o arremesso vai cair, e que aí a infiltração, pode me ajudar a conseguir os pontos com mais facilidade, seja perto da cesta, seja em lance-livre. O mais importante, pelo que vejo e a comissão técnica tem me passado, é estar pronto para no ataque ser uma ameaça com o maior número de armas que eu tiver no bolso.
BNC: Sempre pergunto aos jovens sobre as maiores dificuldades da transição do juvenil pro adulto. Onde é a parte mais difícil?
DIDI: Primeiro é o contato físico. Os caras mais velhos já são bem mais desenvolvidos, e nas categorias de base a gente sempre bate de frente com quem tem mais ou menos o mesmo corpo que o seu – ou são bem menores. Aí chega ao adulto e todos os alas possuem a mesma altura que você, mas com uma força física bem maior. A sequência de jogos pega também. Esta semana fizemos três jogos em sete dias. Em três cidades diferentes. É pesado, precisa de muita concentração e preparação para conseguir ir bem todos os dias. A gente acabou de sair do Paulista, tem o NBB, em breve o Sul-Americano. É importante estar focado porque em Franca a pressão por resultados vai ser sempre grande.
BNC: Falando um pouco de seleção brasileira. Como foi ganhar aquele Sul-Americano lá na casa dos argentinos? Foi nessa competição que seu nome passou a ser mais conhecido no mundo do basquete, né?
DIDI: Ah, sim. Foi bem legal ganhar lá, viu. Muito especial pra nós e pro Brasil. A gente sempre se manteve unido, dentro e fora de quadra, e ganhar duas vezes da Argentina na casa dos caras é maravilhoso. A gente precisava né, cara. Na decisão estávamos perdendo de dez pontos, mantivemos a força mental, viramos o jogo e conquistamos o título. Foi incrível.
BNC: E onde você quer chegar? Quem são seus ídolos, suas referências?
DIDI: Todo jogador sonha em NBA, Europa. É natural, normal. É meu foco chegar na NBA, mas sei que é difícil. Estou muito feliz em Franca no momento e sei que tenho que evoluir para dar meus próximos passos. Gosto muito de ver o Russell Westbrook (Oklahoma City Thunder), o LeBron James (Lakers) e o Paul George (Thunder também). Me amarro no Kevin Durant também, porque ele é grande e ao mesmo tempo muito rápido. O que ele faz na quadra é assustador. Me inspiro bastante neles.
BNC: E em Franca, quem mais te dá dicas, conselhos, conversa com você?
DIDI: O Lucas Dias. Ele pega bastante no meu pé. O Elinho, o armador, e o David Jackson falam muito comigo também. Todos eles pedem pra eu ter muita cabeça, muita concentração. O basquete é assim, né. O lado mental pega muito.
Sobre o blog
Por aqui você verá a análise crítica sobre tudo o que acontece no basquete mundial (NBB, NBA, seleções, Euroliga e feminino), entrevistas, vídeos, bate-papo e muito mais.