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Encontros, desencontros, Marquinhos, Petrovic e a falta do diálogo

Fábio Balassiano

11/07/2018 06h06

Este é um assunto que já deveria ter abordado há tempos, mas que por absoluta falta de tempo ficou pra agora. O importante, ao meu ver, é não deixar de falar (a respeito). Ainda mais porque na segunda-feira em entrevista à ESPN o técnico da seleção brasileira Aleksandar Petrovic fez questão de escancarar os motivos pelos quais Marquinhos, ala do Flamengo e MVP do NBB10, não está na seleção brasileira masculina adulta.

Vamos aos fatos: na primeira convocação da seleção brasileira para as eliminatórias, ainda no ano passado (novembro/2017 pra ser mais exato), Petrovic convocou Marquinhos e disse que contava com o ala como sendo um de seus pilares no time que estava em formação. O jogador pediu dispensa e aí o caos começou. Na ESPN o técnico alegou que foi o agente do atleta que comunicou a ele, Petrovic, a saída da seleção – e a 24h da apresentação pro primeiro jogo (algo que Marquinhos nega veementemente).

Depois disso Marquinhos nunca mais foi convocado, e em entrevista dada ao blog em fevereiro (aqui) o jogador afirmou que cabia ao treinador esclarecer o ocorrido. O blogueiro consultou diversas fontes e mais do que não gostar da forma como a dispensa foi feita não agradou a Petrovic o fato do jogador ter atuado pelo Flamengo nos dias seguintes ao pedido de saída da seleção e também a publicação de algumas fotos nas redes sociais – de treinos e fora de quadra.

Estes são os fatos e está bem óbvio que o caldo entornou. O que disse acima são informações e de agora em diante, análise / opinião. Sinceramente falando respeito pacas Petrovic, Marquinhos e o que a nova gestão da CBB está tentando fazer com o basquete nacional. Todo mundo sabe que a Confederação Brasileira estava um pandemônio e que colocar ordem na casa é difícil mesmo. Guy Peixoto e seu time têm tentado de tudo, e bem rápido, para reerguer a entidade máxima. E creio que um choque de gestão, e falo até de respeito à seleção e a hierarquia, faça mega sentido mesmo.

Gosto, de verdade, das coisas e da forma sincera como Petrovic se expressa. Não tem maneirismos, não tem meias palavras. Ao contrário dos floreios típicos dos latinos, ele é direto ao ponto e bem objetivo. Admiro DEMAIS isso e o europeu é assim. É preciso respeitar a individualidade dele, e entendo perfeitamente o fato de que ele tenha ficado magoado pela questão da dispensa logo em sua primeira convocação. Eu também ficaria.

O outro lado é que Marquinhos, até onde sei, passava por uma questão pessoal muito delicada e que tinha todos os motivos do mundo para se ausentar da seleção (se ele quiser abrir o assunto, é problema dele – se não, tem todo direito de se calar). Pode ter havido uma falta de habilidade dele na forma de comunicar sua saída a Petrovic, um ou outro uso ruim de redes sociais, mas sua índole, seu respeito e seu comprometimento com a seleção e com o basquete não estão em questão. O cara é craque, tem se cuidado cada vez mais, está jogando o fino da bola e é DE LONGE o melhor jogador do basquete atuando no país há alguns anos.

Estes são alguns pontos. Os outros vêm abaixo. O mais importante de todos é que hoje, hoje em dia, a seleção brasileira masculina de basquete NÃO pode abrir mão de ninguém de alto nível. Não é do Marquinhos, do Nenê, do Leandrinho, do Benite, do Huertas. É de ninguém mesmo. Completo, em casa, com jogadores bem fisicamente o Brasil nem da primeira fase da Olimpíada passou (gracias também ao Coach Magnano, sempre bom lembrar, claro). Será mesmo que, três anos mais tarde, quando o Mundial de 2019 na China começar, o país, que não consegue fazer uma renovação tão rápida assim devido ao péssimo trabalho de base "realizado" pela dupla Nunes e Grego nos últimos 16 anos, pode prescindir destes atletas que ainda estão em alto nível? A resposta é negativa – não, não e não mesmo.

Goste ou não deste ponto, hoje em dia a seleção brasileira de basquete precisa mais dos atletas de alto nível do que os atletas de alto nível precisam da seleção. Canso de dizer isso aqui e é uma realidade. Goste ou não, é assim que funciona. Se na década de 80/90 estar na seleção era o auge, hoje em dia estar em um grande clube, com ótimos salários e bombando nas redes socias vale mais. Feliz ou infelizmente, a roda gira assim hoje em dia e lutar contra isso é perda de tempo. Vale aqui, na Argentina, na Europa, na NBA, onde você quiser. O clube, hoje, carrega com ele mais status que as equipes nacionais.

Isso não quer dizer que Petrovic, CBB ou qualquer técnico deva se sujeitar ou passar por cima dos valores / visões que eles têm para a seleção brasileira. Não é isso. A equipe nacional está acima de tudo, a liderança deve ser respeitada, mas creio de verdade que um pouco de diálogo entre as três partes (Marquinhos, técnico e Confederação) seja necessário. Duvido muito, e conhecendo o atleta como conheço posso falar, que as arestas não sejam bem aparadas em 15 minutos de conversa. Nem precisa de muito mais do que isso.

Marquinhos é craque, a posição que ele joga (ala, 3) é carente no país e em menos de 12 meses teremos um Mundial na China para a seleção jogar. É a chance, talvez derradeira, desta geração conseguir uma medalha em competições de alto nível. E para isso ela, a seleção, precisa… contar com todos os atletas de alto nível que o país possui. Creio ser desnecessário dizer quão importante uma medalha seria para o país, para a CBB em reconstrução e para os próximos passos da modalidade por aqui.

Tomara, então, que as três partes envolvidas abram a guarda, deixem as declarações mais fortes para as quatro paredes (não há necessidade de expor ninguém!) e que voltem a coexistir de maneira tranquila e visando o melhor da seleção.

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