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Como um grego pode se tornar o melhor jogador da NBA nesta temporada

Fábio Balassiano

31/10/2017 06h20

Antes da temporada Kevin Durant, atual MVP das finais e campeão da NBA, não pestanejou quando perguntado em seu canal do YouTube sobre quem era o jogador que ele, Durant, mais gostava de ver em quadra: "Giannis Antetokounmpo é de longe o atleta que mais gosto de ver atuar. Ele é uma força da natureza e o seu limite de desenvolvimento é infinito. Nunca vi nada parecido na vida. Não tenho dúvida que ele pode se tornar o melhor jogador da história. É assustador o que ele consegue fazer na quadra".

É óbvio que a declaração de Kevin Durant é recheada de exagero e conta com o imponderável, porque é impossível saber o patamar que o Greek Freak (apelido que significa a "Besta Grega") irá atingir nos próximos anos. Pelo que se vê nos seis primeiros jogos da temporada 2017/2018, dá pra dizer: Durant tem toda razão em elevar o tom dos elogios a Giannis, disparado o jogador mais empolgante desde começo de campeonato na NBA.

Com apenas 22 anos e indo para a sua quinta temporada, o armador de 2,11m (sim, ele é o responsável por armar o Milwaukee Bucks na quadra) e 2,24m de envergadura mistura um jogo potente no ataque, agressivo na defesa e feroz quando vai em direção a cesta para as enterradas. Ele é o cestinha da temporada com 34,7 pontos por jogo e está, além dos pontos, entre os 20 primeiros de TODOS os principais itens das estatísticas da temporada com suas médias de 10,7 rebotes, 5,5 assistências, 2 roubos e 63% no aproveitamento nos arremessos. Algo bem assustador, como se vê.

Tão incrível quanto a sua performance na atual temporada e o crescimento em relação ao campeonato passado (ele está conseguindo crescer no mínimo 10% em todas as colunas de estatísticas) é a forma como um grego que nasceu em Atenas no dia 6 de dezembro de 1994 tem tudo pra se tornar um dos melhores jogadores da NBA na atualidade e também um dos mais dominantes da próxima década. Se hoje é fácil colocá-lo no clube dos melhores da liga, a verdade é que a sua trajetória nem de longe indicava que isso seria possível.

Filho de imigrantes da Nigéria (seus pais nasceram em Lagos), Antetokounmpo não conseguiu a cidadania grega com tanta facilidade assim. O fanático torcedor do Olympiacos até os 18 anos de idade não tinha certidão nem grega e nem nigeriana, o que inclusive atrapalhou em algumas convocações da Grécia para o menino que já nesta idade passava dos 2m de altura. Desde cedo treinando no humilde Filathlitikos, clube da segunda divisão que ficava na esquina de sua casa, Giannis dividia seu tempo entre os estudos, a quadra e venda de produtos que seus pais conseguiam para sobreviver. Era comum vê-lo junto ao seu irmão Thanasis (também jogador atualmente) pelo bairro de Sepolia com óculos, camisas, bolsas e outros apetrechos que ajudariam no sustento da família.

A história de Giannis começou a mudar quando em 2012 ele começou a atuar na segunda divisão da Grécia. Seu potencial físico assustador (assombroso, surreal, descomunal!) chamou a atenção de clubes da Europa inteira mesmo que suas médias não chegassem a dez pontos por jogo. Como é comum no basquete, times olham muito mais o potencial de onde um atleta poderá chegar do que o produto já pronto na mesa. Foi pensando nisso que o Zaragoza conseguiu fisgar o garoto, assinando um contrato de quatro anos começando a partir de 2013/2014. Só que a ida do armador para a Espanha nem se concretizou, já que no final da temporada 2012/2013 Antetokounmpo já estava sendo olhado pelo Bucks.

O Milwaukee não teve muita dúvida para investir tempo nas análises e a décima-quinta posição do Draft de 2013 em Antetokounmpo, um nome tão impronunciável quanto o seu basquete no começo de sua vida na NBA. Errático, o grego tinha bom tempo de quadra quando calouro (24,6 minutos/jogo), mas não conseguia se entender muito bem nem com o basquete americano e nem com a cultura local.

Não foram raras as vezes que Giannis levou comida do vestiário do Bucks pra casa porque considerava absurdas as taxas que os norte-americanos pagavam em alimentação. Sem saber quanto tempo duraria, ele optou não por viver em apartamentos ou casas de luxo, mas sim em um quarto-e-sala do lado do Centro de Treinamento da franquia de Wisconsin para evitar, também, gastos com aluguéis caros e também com a gasolina (ele considerava tudo caríssimo…). Alguns flashes de genialidade, porém, já podiam ser vistos e com eles a esperança que o Bucks tinha conseguido realmente uma das mais promissoras jóias do basquete mundial no Draft daquele ano.

A transformação real veio no ano de 2014/2015 quando Jason Kidd, um dos melhores armadores da história da NBA, assumiu a equipe como treinador principal. Com menos de três semanas de temporada Kidd ouviu do veterano Jared Dudley o seguinte conselho: "Coach, pode me colocar no banco. O Giannis precisa jogar. Ele é o futuro da franquia. Está treinando como um monstro e por mais que erre precisa ser titular".

E assim foi feito. O técnico não só efetivou Antetokounmpo como deu a ele as "chaves" do time, colocando-o como armador principal com o intuito de fazer o camisa 34 enxergar o basquete de outra perspectiva: de frente, por inteiro, complexo e completo – não apenas infiltrando e enterrando as bolas. Kidd não fez Giannis apenas levar a bola de um lado ao outro, mas mudou a configuração da equipe, que viu um armador pegar o rebote, correr a quadra e finalizar o ataque com uma enterrada no espaço de… cinco/seis segundos, algo surreal. O mundo, ali, abria os olhos para um grego que em pouco tempo estaria fazendo história na NBA.

De 2014/2015 em diante dá pra dizer que o restante todos já sabem. Evoluindo ano a ano em todos os fundamentos (o único que ele pode e deve ir além é o de chutes de três, cujo aproveitamento não passa dos 33%) e treinando como se não houvesse amanhã, seus frutos já estão sendo colhidos. Tanto é assim que em 2016 Giannis assinou um contrato de US$ 100 milhões por quatro anos, o que olhando a NBA hoje dá pra dizer que foi uma verdadeira barganha para o Bucks. Para se ter uma ideia, ele tem apenas o trigésimo-segundo maior salário da liga, atrás de nomes inexpressivos como Harrison Barnes, JJ Redick e Otto Porter.

All-Star em 2017 pela primeira vez, eleito o jogador que mais evoluiu no último campeonato e presente no segundo time ideal da NBA, Giannis Antetokounmpo caminha a passos largos para colocar o Bucks, que hoje enfrenta o Thunder em casa com a campanha de 4-2, em um outro patamar. Caso consiga aliar seus já imensos números a uma campanha positiva, a um retrospecto melhor que os 42-40 de 2016/2017, seu nome certamente estará na corrida dos candidatos a MVP nesta temporada.

Por enquanto vale a pena apreciar o que ele já conseguiu e admirar o mais impressionante momento de Antetokounmpo na temporada. Ele aconteceu no sábado retrasado contra o Portland Trail Blazers, quando o grego anotou 44 pontos (recorde de sua carreira) em uma atuação que contou com cesta decisiva após roubo de bola e um toco para finalizar a vitória do seu Bucks. No final, ele assinou a bola com a dedicatória ao seu pai que acabara de falecer. Abaixo os melhores momentos da partida.

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