A temporada 1961/1962 da NBA foi especial. Oscar Robertson tornou-se o primeiro, e até hoje único, a terminar com média de triplo-duplo (30,8 pontos, 11,4 assistências e 12,5 rebotes), o Boston ganhou o quarto título consecutivo e pela primeira vez a liga teve 80 jogos na fase regular.

Tudo isso parece pouco quando lembramos do dia 2 de março de 1962. Há exatos 55 anos o mundo do basquete se estarrecia com mais uma atuação de Wilt Chamberlain, lendário pivô do Philadelphia Warriors e considerado um dos melhores jogadores de todos os tempos.

Só para quem teve média de 50 pontos e 25 rebotes na temporada, qual então seria o motivo da surpresa? Em 2 de março de 1962, num jogo vencido pelo Philadelphia contra o New York Knicks por 169-147 na Hershey Sports Arena (aqui as estatísticas da peleja), Wilt anotou a maior marca da história da NBA: 100 pontos. O mais incrível de um dos momentos mais surreais da história do basquete é: quase ninguém viu, não há vídeos dos lances, nenhum jornalista nova-iorquino estava no ginásio e restou apenas um registro de rádio do feito. Um feito incrível e quase invisível. Eram outros tempos.

No ginásio apenas 4.124 pessoas. O valor médio do ingresso: US$ 2,50 – isso quando o torcedor pagava. Em uma NBA não muito valorizada, as franquias faziam de tudo para tentar atrair novos fãs. Não é a toa que muitos que estavam na Hershey Arena receberam o bilhete em um supermercado, como brinde pós-compra de uma máquina de lavar (é sério!). De acordo com relatos dos jornais da época, com o jogo decidido muita gente chegou inclusive a sair do local mais cedo. Não viram Chamberlain anotar 31 pontos no último período para cravar o histórico recorde de 100 pontos em uma única partida, feito inalcançado até hoje (Kobe Bryant, em 2006, chegou a 81, e está em segundo na lista). Para ser ainda mais detalhista, foram 23 pontos no primeiro período, 18 no segundo e 28 no terceiro.

"Alguns jogadores e técnicos esperavam que este feito poderia acontecer. Wilt tinha média de 50 pontos por jogo, então era algo possível para alguém de 2,16m, 25 anos e muito atlético. Wilt corria a quadra toda como um trem e neste jogo foram pontos de todas as maneiras – ganchos, enterradas, até arremessos de longe da tabela. No quarto período, o conceito de jogo coletivo do Philadelphia ruiu para que Wilt chegasse à marca. Era ele contra os Knicks. E Chamberlain ganhou. Se houve alguma coisa surpreendente naquela noite, foi o desempenho na linha dos lances-livres: 29 em 32. Para quem tinha pouco mais de 60% de aproveitamento, um feito e tanto", afirma Gary Pomerantz, autor do livro Wilt, 1962, que conta detalhes do feito histórico do dia 2 de março de 1962. Gary emenda: "A habilidade de Chamberlain era incomensurável e ele seria uma estrela em qualquer época. Qual seria seu salário na atual NBA? O máximo e mais um pouquinho".

Como em tudo em que Wilt se meteu, muita polêmica cerca o jogo. Muitos dizem que houve fraude na partida, pois os Warriors, pressentindo os três dígitos de Wilt, paravam os jogadores dos Knicks com faltas para que a bola voltasse para as mãos do pivô no ataque. Com tramóia ou não, o mundo não possui as imagens da noite histórica em Hershey, Filadélfia, contra um dos lanternas da liga. Não só imagens como objetos também. A bola dos 100 pontos sumiu das mãos de Chamberlain na hora das comemorações, tirada por um menino de 12 anos que anos depois tentou leiloá-la no programa de TV da apresentadora Oprah Winfrey.

"Alguns dizem que recordes são feitos para serem quebrados. Mas este eu acho quase impossível de ser batido. Repare em todo o holofote levantado em cima de Kobe Bryant por causa de sua absurda pontuação contra os Raptors em 2006. E ele ficou a 19 pontos da marca de Wilt em um jogo completamente diferente. Com a linha de três pontos ainda por cima! Alguém faz festa para uma pessoa que escala 81% do Everest? Kobe foi um magnífico cestinha. Mas eu acho que, se algum dia esta marca for quebrada, será por um atleta com mais de 2,16m, presente em todos os pontos da quadra, com ótimo arremesso de três pontos e, claro, que consiga fazer 29 em 32 nos lances-livres", finaliza Gary.

OUÇA O MOMENTO EM QUE WILT CHAMBERLAIN MARCOU O CENTÉSIMO PONTO