Lembro que foi uma quinta-feira maluca aquela de 8 de dezembro de 2011. Cinco anos atrás o Los Angeles Lakers ia conseguir um baita armador (Chris Paul), mas perderia dois dos caras mais importantes dos dois títulos anteriores (2009 e 2010), Lamar Odom e Pau Gasol. O Houston Rockets entraria com algumas peças, ficaria com Gasol e o Hornets, hoje New Orleans Pelicans, colocaria em seu pálido elenco nomes como Lamar Odom (do Lakers), Luis Scola, Kevin Martin e Goran Dragic (do Houston).
Seria uma troca MUITO ruim para o Lakers, que perderia duas de suas peças principais para trazer um jogador que seria agente-livre no ano seguinte, excelente para o Hornets e bem razoável para o Rockets, garantiria a presença de Pau Gasol no garrafão.
Quase na (nossa) madrugada, porém, houve uma mudança de rota. David Stern foi pressionado por alguns donos de equipes (entre eles Mark Cuban, do Dallas, e Dan Gilbert, do Cavs, que hoje em dia tem LeBron James, Kevin Love, via troca, e Kyrie Irving) a vetar a transferência de Chris Paul, alegando que ela seria uma "violência" ao mercado e desequilibraria a liga, colocando lado a lado CP3 e Kobe Bryant, dois dos melhores atletas da NBA. Vale dizer que à época a NBA era a DONA da franquia Pelicans, vendida à liga porque os proprietários do New Orleans estavam enrolados financeiramente. É essencial dizer que a NBA também estava em greve, renegociando contratos com atletas, e que a influência dos donos em Stern, escolhido pelos proprietários para sentar à mesa para trocar ideia com os jogadores, era IMENSA.
O desfecho todo mundo já conhece: com o veto da primeira negociação o Clippers entrou na jogada, levou o craque Chris Paul e o New Orleans Hornets recebeu duas mariolas mordidas (Eric Gordon, o contrato expirante de Chris Kaman, o pick de Austin Rivers, Al Farouq-Aminu e outro pick). A movimentação, por sua vez, ACABOU com o Lakers. Lamar Odom saiu de lá cuspindo marimbondos e dizendo que se não o queriam, que deveriam trocá-lo – o que acabou acontecendo quando Odom foi despachado para o Dallas. Pau Gasol ficou, mas sabendo que por todos os cantos queriam tirá-lo de lá. E Kobe Bryant não teve um craque para passar o bastão nos últimos anos de carreira.
Olhando hoje eu continuo achando que a NBA mandou MUITO mal, embora não se possa comparar com a situação envolvendo agentes-livres que escolhem jogar onde querem (LeBron James em Miami, Kevin Durant no Warriors e LaMarcus Aldridge no Spurs, por exemplo). Havia, no entanto, um álibi pelo qual a liga pode justificar o que ela fez – ela era a dona do Hornets e pode alegar que não curtiu a proposta do Lakers quando ela foi repensada. É balela, sabemos que o "basketball reasons" (motivos de basquete) é muito mais um meme de internet do que um argumento inteligente de alguém tão preparado como David Stern, mas o ex-comissário sempre dirá isso como motivo pelo qual ele fez aquilo. O erro, na minha concepção, é a "mão" da liga se meter nos destinos dos times. Como a NBA se tornou dona do Hornets, ela deveria ter designado algum diretor de basquete sem NENHUMA relação com o alto escalão da liga, algo que acabou não acontecendo. Em uma situação limite, como a de Chris Paul, os limites da ética, da intervenção e do bom senso foram testados.
Sem querer ou não, Stern acabou mexendo totalmente com as estruturas da liga. Fora de quadra ele abriu um precedente perigoso e odiado pelos atletas, o de se meter na vida deles e também poder colocar em prática o poder de vetar uma transferência aceita e chancelada pelos gerentes-gerais das franquias. Em um momento de greve ele claramente se colocou no lado dos donos, dos caras do dinheiro, e não no lado dos artistas do espetáculo. Muita gente conta que durante as negociações de salários em 2011 Dwyane Wade chegou a colocar o dedo na cara de Stern dizendo que ele não tinha moral para negociar com ninguém na sala de reunião por conta do que fizera dias antes com Chris Paul e os Lakers. Seria o começo do fim de Stern, que sairia de seu cargo em janeiro de 2014 com um currículo invejável (de ter colocado a NBA em um patamar altíssimo) e uma mancha eterna.
Entre os times, o Lakers nunca mais voltou a ser grande. Para piorar, o seu vizinho, até então o primo pobre que era motivo de chacota por toda cidade, cresce e tornou-se um timaço com Chris Paul, Blake Griffin e DeAndre Jordan. O Houston, que não conseguiu Pau Gasol, logo depois assinou com James Harden e Dwight Howard. E o Hornets, que perdeu a cara de sua franquia no começo da década, só agora encontra outro craque de primeira linha (Anthony Davis), mas está longe de poder dizer que tem um rumo bem definido.
Durante aquele dia ninguém sabia, mas a noite de 8 de dezembro de 2011 fez o mundo do basquete tremer e até hoje causa reflexos na liga. Os torcedores do Lakers, principalmente, estão aí para me dar razão…